sábado, 30 de novembro de 2013

Meu Primeiro Panô

"De toda a criação sairás com vergonha, porque foi inferior a teu sonho e inferior a esse maravilhoso Deus que é a natureza". No momento em que mostro mais uma tentativa de bordado, não me ocorrem outras palavras que não essas escritas pela poeta chilena Gabriela Mistral em seu Decálogo do Artista. Como já disse por aqui, ando me aventurando nessa seara.  Compus alguns estandartes que andei mostrando no blog, agora resolvi fazer um panô. Ambos são referências de uma infância rural, dentro de uma família de bordadeiras e costureiras. Que as minhas tias que ainda bordam e muito bem não vejam os meus alinhavos, pois diriam como a minha mãe repetia muitas vezes quando via algum serviço mal feito:  quem te ensinou roubou seu cobre.  Apesar de tudo, não contive o  ímpeto de mostrar como  ficou o meu panô. 

Meu primeiro panô
Já o coloquei na porta de casa e compartilho também  com quem visita esse blog meu desejo de 

Feliz Natal!

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Vestir a Camisa da Empresa


Quantas vezes já ouvimos essa expressão! Ela é uma das campeãs do papo furado que predomina na maior parte das organizações. Às vezes somos obrigados a deixar claro que aquela camisa que vivem insistindo para que a gente vista, não nos serve. Nem sempre é fácil, mas nossa saúde mental depende dessa coragem.
Por falar em saúde mental, já fiz aqui no blog comentários sobre o livro Imagens da Organização de Gareth Morgan e dentre as metáforas que ele propõe para perceber as organizações, uma das que mais gosto é a que visualiza essas entidades como “prisões psíquicas”. Costumo dizer aos meus alunos que empresas são máquinas de fazer loucos. E gosto de sugerir que eles leiam A loucura do trabalho, livro de Christophe Dejours, publicado na década de 1980.
Voltando às expressões de uso comum em empresas, outra que costumamos ouvir bastante é: aqui somos como uma família. Só de escutar isso, já me arrepio. Pura conversa fiada. Na maior parte das organizações onde esse mantra é muito repetido, prevalece o total descaso com as relações humanas no trabalho, com a qualidade de vida e até mesmo com a saúde dos funcionários. Deus me livre desse tipo de família.
Por falar em  funcionários, logo me lembro  de outra balela muito comum no mundo empresarial. Falo do modismo de referir-se aos empregados como colaboradores.  Essa é parecida com o uso indiscriminado do gerúndio. Quem tenta contestar e combater, como é o meu caso, vira quase um ET. Não é fácil nadar contra a maré, mas não me importo de ser vista como a enjoada.  Penso que um dos papeis dos professores é justamente esse: sugerir e incentivar os alunos a refletirem sobre o que leem e o que ouvem.
Preparar pessoas para trabalhar no mundo empresarial é também um negócio de louco. Ainda mais com os jovens, tão cheios de sonhos, parece até cruel alertá-los sobre o tanto de conversa fiada que tem por aí. Nessa categoria incluo as palestras e os livros de autoajuda tão difundidos entre eles. Não é fácil dizer a eles para não caírem nessa conversa, que não existe receita milagrosa para o sucesso. (− ah, como os meninos gostam dessa palavra!).

Gosto também de dizer o seguinte: − Não é porque você teve um gerente babaca, que deve se transformar em um deles. Nem tudo que é feito, dito ou escrito por aí, merece ser repetido. E lembro  com frequência que os modelos de gestão que prevalecem na maior parte das organizações não servem de referência para quem tem uma boa formação e um mínimo de caráter.

domingo, 17 de novembro de 2013

Orquídea do Mês

Natural do Nepal e da China, essa orquídea  é polêmica já tendo sido reclassificada algumas vezes. Não tem um nome popular consagrado por aqui, embora seja confundida com a Miss Joaquim que é parecida, porém com pequena diferença. É conhecida como Vanda Teres, embora atualmente não esteja mais classificada como Vanda. Enfim, não sou estudiosa nem propriamente  uma colecionadora de orquídeas, embora tenha paixão  por elas. Assim, não vem ao caso ficar discutindo detalhes de aprofundamento botânico  que não cabem no meu blog. Meu objetivo aqui é mostrar espécies que se adaptam facilmente ao nosso clima e que ficam bonitas no jardim, sem grandes exigências em termos de cultivo.
Na foto de Luiz Henrique do Carmo a
Vanda Teres (orquídea de meu pai)
Essa orquídea atende plenamente esses quesitos além de possuir outra vantagem adicional: como sua floração é muito abundante, ela costuma permanecer bonita por meses, contribuindo para manter o jardim atraente e colorido a partir do final do mês de outubro, até dezembro. Sua reprodução é muito fácil, se dando por meio de mudas recortadas da planta mãe, que podem ser afixadas em troncos de árvores, ou plantadas em vasos com substratos de  material de fácil drenagem. Como cuidado não exige mais que uma rega semanal em época de seca. Por isso é tão almejada. Quem não quer ter uma beleza dessas no jardim a custa de praticamente nenhum trabalho?
Para mim, essa orquídea tem um valor muito especial, era a preferida do meu pai. Essa foto  foi tirada na chácara da família e provavelmente a enorme touceira formada por ela hoje, ou é a mesma plantada por ele, ou originou-se de uma muda que passou em suas mãos.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CRÕNICAS DO DIA A DIA

SÍNDROME DO NINHO VAZIO
Há pouco mais de um ano escrevia aqui uma crônica intitulada Quando Nossos Filhos Saem de Casa. Estava refletindo sobre a experiência de ver minha pequena mais velha, já formada na faculdade,  bater as asas e ir cuidar da própria vida longe da família. No início fui lá muitas vezes, andei dando até palpites demais na montagem de seu apartamentozinho, ficava preocupada se estava comendo direito, como estaria cuidando das próprias roupas, essas bobagens de mãe. Agora estou mais tranquila. Já vou poucas vezes, compreendi que ela está independente que aprendeu a se cuidar e que não vai passar sozinha por apuros, pois mesmo estando longe sabe que pode contar com a família.
Agora minha caçulinha  vai bater as asas, para mais longe, vai  para fora do Brasil. Tudo de novo, pensei, muito pior, logo conclui. Não poderei ir com ela, ajudar a encontrar uma morada, como fiz com a mais velha, ficar lá por uns dias, nada disso. Ela vai sozinha para um país distante, de língua estrangeira e eu, tão provinciana e caipira penso que isso é o fim do mundo, como vai viver sem nossa comidinha caseira,  sem empregada, sem carro, essas facilidades que ainda temos no Brasil, mas que sabemos lá fora não existem mais.
Ando a pensar e muito em como vai ser  ficar nessa casa sem elas; que quando viemos morar aqui tinham sete e nove anos e éramos nós e a Sacha, nossa boxer  brincalhona que fazia bagunça nos canteiros e como eu brigava e as meninas sempre a defendiam.
Chego a cogitar de ir morar noutra cidade, vivenciar uma experiência que penso necessária, já que andei tão pouco de onde nasci até onde vivo,  já disse o Dominguinhos “amigos a gente encontra, o mundo não é só aqui”.
Já escrevi também que essa casa sou eu, que aqui cultivo um jardim tropical que atrai beija-flores marrons que me remetem à minha irmã jardineira que já foi embora e que terei dificuldades em eu mesma bater as asas.
Minha pequena, um metro e setenta, vinte e dois anos, nem dei conta. Mas é uma adulta e, mesmo a mãe pensando que não está pronta, prepara-se para  voar. Vai se dar bem, se Deus quiser. Como também já disse aqui quando falei da saída da irmã: nossos filhos vivem melhor sem nós. Mesmo que doa, é isso, não há parada para o inexorável ciclo da vida.

domingo, 10 de novembro de 2013

CORCOVADO E CRISTO REDENTOR

Não sei como deve ser ir a Roma e não ver o papa, mas posso afirmar que ir ao Rio e não visitar o Cristo Redentor, é uma pena!
Como disse aqui no início dessas postagens sobre a viagem ao Rio, que se encerram com este texto, já tinha ido ao Rio diversas vezes, a maior parte delas a trabalho, quando, nem de longe se cogitava interromper a rotina de reuniões e compromissos profissionais pra um passeio desses. Mas, mesmo quando fui a passeio, pensava que esse era meio que “um programa de índio”, só para turistas, enfim não valeria a pena. Grande engano. Um passeio ao Cristo Redentor é a própria essência do Rio de Janeiro. Primeiro porque a vista permite apreciar a geografia da cidade, como nenhuma outra, servindo para a gente confirmar que o Rio é mesmo lindo e a vista do Cristo é espetacular.


Vista do Rio, a partir do Cristo

O passeio  é interessante desde a sua origem, pois inicia-se no Cosme Velho, um bairro histórico e que nos remete automaticamente à literatura de Machado de Assis, que tantas referência fez ao lugar em seus contos e romances.
A subida ao Cristo pode ser feita por trem, van, ou mesmo a pé. Optamos pelo trem e creio ter sido uma ótima escolha. A estaçãozinha é histórica e a subida é impagável. O trem corre no meio de um fragmento da mata atlântica, a vegetação é linda, embora já bastante alterada, mas ainda com a presença de diversas espécies originais. Vemos bromélias nos troncos das árvores em praticamente toda a extensão do caminho. Entre a vegetação muitas jaqueiras carregadas da fruta, nos fazendo pensar em como têm razão os estrangeiros que visitam o Rio em ficar admirados. Acredito ser bem raro pelo mundo a fora encontrarmos frutas tão exóticas e tão saborosas assim em plena floresta, uma fartura. Vivemos mesmo em um país abençoado. 
Além do trajeto ser bonito e a vista encantadora, a permanência no Cristo é bacana. O local é limpo e bem organizado, os serviços são de boa qualidade, o paisagismo em torno da estátua é muito adequado e, em um dia de sol, como deve ser o da visita, tomar um sorvete lá no alto é um programa impagável.
Estátua do Cristo
Já estou pensando na próxima viagem ao Rio. Entre as atrações que não deu para serem incluídas dessa vez, estão a  Igreja de São Francisco da Penitência, o Pão de Açúcar, o bairro de Santa Tereza e pelo menos dois museus constam da minha relação: O Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Niemeyer em Niterói E tenho certeza de que quando conseguir visitar esses lugares já terei descoberto outros que podem ser boas opções. Como já disse aqui, o Rio é  uma ótima pedida para viagem e sempre merece uma outra visita.



Jaqueira carregada de frutas

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

JARDIM BOTÂNICO

Entre as muitas atrações e belezas do Rio, não consigo deixar de mencionar como  a mais interessante, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Criado em 1808, originalmente com o objetivo de aclimatar especiarias vindas das Indias Orientais, o jardim Botânico ocupa, atualmente, uma área de 54 hectares e fica na Zona sul da cidade, no bairro que tem o seu nome.
Cactário
Difícil descrever um passeio por lá. Começo por dizer que esse é um lugar para andar sem pressa. Não vale a pena programar uma visita rapidinha. Especialmente para aqueles que, como eu, são apaixonados por plantas.
O Jardim Botânico constitui uma belíssima e bem cuidada área verde, bem no miolo da cidade, possuindo um grande acervo de plantas nativas e exóticas, cerca de 6500 espécies, dispostas ao ar livre ou em estufa.  O espaço abriga também monumentos  históricos e museu arqueológico e possui uma biblioteca especializada em botânica com mais de 30.000 volumes.
É um lugar para contemplação e integração com a natureza, um espaço que nos convida à reflexão e que desperta encantamento. Possui, entre outras atrações, cactário, bromeliário, orquidário, e jardim sensorial. Difícil descrever o que é mais bonito, mas certamente não há como não se encantar com os caminhos da mata atlântica, repletos de plantas nativas desse nosso tão judiado espaço natural. Nesses passeios nossas mais variadas percepções sensoriais são estimuladas; caminhamos em trilhas recortadas por pequenas cachoeiras, ouvindo o canto de passarinhos, especialmente de sabiás e beija-flores e nos encontramos com bichos como macacos e esquilos.
Outra atração irresistível é a aleia dos abricós de macaco.
Aleia de Abricós de Macaco
Esta espécie exuberante que lá se encontra disposta em uma enorme carreira de árvores bastante altas, nessa época do ano cobre-se de flores e frutos oferecendo um espetáculo extraordinário;  principalmente porque  a sua floração concentra-se ao longo do caule e não na copa como na maior parte das árvores.
Flor do abricó de macaco (foto Fernanda Pônzio)
A diversidade de palmeiras é grande e o destaque são as palmeiras imperiais que também formam um belo e imponente conjunto.
Não menos que os lagos com reproduções de plantas da floresta amazônica, também chama a atenção a trilha composta por plantas bíblicas, um primor.
Lago com plantas do Amazonas
Pena que o orquidário encontrava-se em manutenção, estando fechado às visitas. Em compensação, a estufa de bromélias, que leva o nome do grande Burle Marx, estava exuberante. Muitíssimo bem cuidado, com as plantas organizadas em canteiros,  o conjunto conta com um acervo de cerca de mil e setecentos exemplares, principalmente originário da América Central, Amazônia e  Mata Atlântica.
Bromélias no conjunto Burle marx

Não. Tenho certeza de que não consigo descrever tudo o que lá vi, assim como estou certa de que não vi grande parte de toda a beleza desse lugar, na nossa visita de praticamente um dia inteiro. Resumindo, o Jardim Botânico do Rio merece não somente uma, mas muitas, muitas  visitas. 
Esquilo comendo o fruto do abricó de macaco