quarta-feira, 30 de outubro de 2019

PEQUENOS PASSOS PARA UMA RELEITURA DA HISTÓRIA


Teria dito o historiador Arnold Toynbee, que “a história é a história dos vencedores”. Assim tem sido.
Pode ser de novo, meu velho e teimoso otimismo a me encher de esperança. Mas estou sendo levada a crer que estamos, a América Latina a passar por momento de reviravolta histórica. Vejo grupos historicamente vencidos dando pequenos passos. Há notícias indicando por exemplo que, no  Chile, além da intensa movimentação contra um governo cruel e desumano, tem havido  também ações de derrubada de símbolos da colonização e exploração dos povos nativos.
Aqui no Brasil, temos muito a andar no sentido de passar nossa história a limpo. A trajetória de Lampião e Maria Bonita, personagens de luta na sofrida catinga nordestina, assim como a de Antônio Conselheiro e outros vai sendo, pouco a pouco, revista. Não obrigatoriamente pela história oficial, mas principalmente pelas artes, especialmente a literatura e a música.
Assim fez o grupo El Efecto, com esse forró-rock de tirar o fôlego, verdadeira crônica da época recente em que o mega milionário Eike Batista mandava no Brasil inteiro com seu império X. Além do link ao final, transcrevo a letra, porque acho importante prestar bem atenção ao seu conteúdo, enquanto se ouve a música.

“...
Reza a história que num dia, daqueles de sol arisco,
O bando de cangaceiros mais valente nunca visto:
Candeeiro, Labareda, Zabelê e Mergulhão,
Juriti, Maria Bonita, Volta Seca e Lampião,
Enedina, Quinta-feira, Beija-flor e Zé Sereno,
Lamparina, Bananeira, Andorinha e o Moreno,
Moderno, Trovão, Dadá, Moita Brava e mais Corisco,
Pra mó de se arrefrescar, margeavam o São Francisco
Ai que calô!
De repente um escarcéu aperreia a todo bando
Vem um trem rasgando o céu e na terra vai pousando
Do grande urubu de lata, cercado por muitos hômi
Desce um  gringo de gravata falando ao telefone
Uns hômi tudo de preto, peste vinda do futuro
Que pra não olhar no olho veste óculos escuro
Um se aprochegou do bando, grande pinta de artista
Disse com ar de desprezo, muito seco e elitista:
"- Calangada arreda o pé, que agora isso é de Eike Batista..."
A peixeira já luzia quando o gringo intercedeu:
"- Perdoem a grosseria desse empregado meu
Sou homem civilizado, não gosto de violência
Trago papel assinado, prezo pela transparência
A terra é, de fato, minha. O governo fez leilão
Eu que dei o maior lance, ganhei a licitação
Não sou nenhum trapaceiro, o que é meu é de direito
Mas como bom cavalheiro lhes proponho um outro jeito..."
Chamou Lampião na chincha, prum papo particular
Uma proposta de ouro difícil de recusar:
"- Vou ganhar muito dinheiro com um novo agronegócio
Emprego teu bando inteiro e ainda te chamo pra ser sócio."
"- Tu pode comprar São Paulo e o Rio de Janeiro
Foto em capa de revista por causa do seu dinheiro
Ter obra no mundo inteiro, petróleo, mineração
Mas aqui nesse pedaço, quem manda é o rei do cangaço...
VIRGULINO LAMPIÃO!"
Se tu gosta de X, mais um X eu vou lhe dar
no xaxado que diz XISPA!
E os hômi tudo de gravata desandaram a fugir
Subiram no urubu de lata e arredaram o pé dali
E até o velho Chico cantou pra todo mundo ouvir:
- Eike, Eike, Eike, Eike, Eike, hay que resistir..."


O link a seguir dá acesso ao clip do grupo


https://www.youtube.com/watch?v=986B6QNI8Es