quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Tempo de Contemplação

Planejei escrever nesta semana  sobre comidinhas de Natal. Pretendia mostrar umas quitandas típicas da Saudade e divulgar mais umas receitinhas de família. A ideia era mostrar que comidas de Natal não se restringem aos almoços e ceias e suas sobremesas de comer rezando. Incluem também os cafés da manhã e lanches da tarde recheados de gostosuras. 
Isso vai ficar para depois. O que eu mais gosto de escrever por aqui são assuntos que despertam, num instante, a motivação necessária para vir compartilhar com vocês. – Isso eu preciso colocar no blog! É assim que penso nesses momentos de iluminação em que me ocorrem ideias  que merecem ser pensadas.
Aconteceu hoje pela manhã, enquanto percorria a curta avenida que separa a minha casa do centro comercial da cidade para onde eu me dirigia de carro, pretendendo encerrar de vez as comprinhas de Natal. A ideia, é claro, era não ter que continuar enfrentando aquela tortura de trânsito engarrafado e comércio lotado que caracteriza essa época.
Pois no meio do caminho, não havia uma pedra, mas um coqueiro, ou melhor, uma fileira deles, no canteiro central. Eles estão lá há algum tempo, só que, desta vez deparei com algo diferente. Um deles, em especial chamou minha atenção.
Mesmo sendo uma atenta observadora de plantas nunca havia reparado no desabrochar de um cacho de coqueiro. Muitas vezes já vi as cascas que soltam deles e ficam caídas ao solo, mas nunca tinha reparado em como eles se abrem. Foi um encantamento! Parei o carro, mesmo sendo um local não muito apropriado, andei a pé no sol quente e fui até bem perto pra apreciar melhor. Deu vontade de sentar em plena avenida e ficar vendo aquilo por mais tempo. E permitir, esquecida  da barulheira dos carros passando, que aquela belezura me resgatasse da minha pouco frequente prática de contemplar.
Ao contrário do coelho de Alice eu repetia para mim mesma: não, eu não tenho pressa, não é tarde, não estou atrasada. Não preciso nem quero consultar o relógio. Naquele momento o que eu precisava era de contemplar o desabrochar de um cacho de coqueiro e me extasiar com essa beleza dourada,  feito uma criança diante de uma nova descoberta. E pude fazê-lo até me sentir plena desse achado e só por isso ganhei o meu dia. Por me alegrar porque tenho tempo, essa preciosidade tão rara.

Foram bons instantes de contemplação mesmo com o barulho e a pressa dos carros passando. Eu ali no meio fio, com o celular na mão tentando fazer uma foto decente com aquela claridade toda a me impedir até de ver com nitidez as imagens da tela.
Agora não sou mais a mesma. Vi pela primeira vez como desabrocham os cachos dourados do coqueiro. A qualquer hora podem me encontrar absorta, provavelmente em local mais sossegado, talvez com meu binóculo nas mãos a procurar outros cachos se abrindo.  
Nesse Natal já formulei meu desejo: que sejamos resgatados da síndrome do coelho de Alice e que possamos ser mais contemplativos. Afinal a natureza ainda tem tanto a mostrar a cada um de nós. Que possamos todos andar com menos pressa e com olhos bem abertos para esses pequenos milagres que tantas vezes nos passam despercebidos.
E por falar nesse assunto, teremos lua cheia nesta noite de natal. Quer belezura maior e motivo mais atraente para uma boa contemplação?

Boas festas a todos!

domingo, 13 de dezembro de 2015

Adélia Prado: 80 anos

Por que gostamos tanto de poesia? Acho que é porque ela adoça a vida.
A poeta mineira, Adélia Prado, que, assim como os bons de sua estirpe, tira poesia de pedras, celebra, neste domingo, 80 anos de vida. Morando em Divinópolis, no interior do estado, vive sem estrelismos. “Em silêncio, como pede o atual momento”, disse a poeta. Em comemoração, a Editora Record publica Poesia Reunida, que, como o próprio nome sugere, congrega todos os seus livros em um só.
Adélia é capaz de descrever, com singular beleza, ações simples  do cotidiano, como o poema da mulher que confessa gostar de limpar os peixes que o marido pesca; ou quando conta que o pai pintou a casa de alaranjado e ficou sempre como se estivesse amanhecendo. 
A poeta lançou seu primeiro livro, Bagagem, em 1976. Depois publicou:  O coração disparado (1978), Terra de Santa Cruz (1981), O pelicano (1987), A faca no peito (1988), Oráculos de maio (1999) e A duração do dia (2010).
Mas, o que mais me encanta em Adélia é a sua verve  apaixonada, primorosa. Fiquei sem fala a primeira vez que li o poema Bilhete em papel  rosa, que dedicou ao seu amado secreto, Castro Alves.
Quantas  loucuras fiz por teu amor, Antônio.
Vê estas olheiras dramáticas,
Este poema roubado:
‘o cinamomo floresce
em frente ao teu postigo.
Cada flor murcha que desce,
Morro de sonhar contigo’.
Ó bardo, eu estou tão fraca
E teu cabelo é tão negro.
Eu vivo tão perturbada
Pensando com tanta força
Meu pensamento de amor,
Que já nem sinto mais fome,
O sono fugiu de mim.
Me dão mingaus, caldos quentes,
Me dão prudentes conselhos,
Eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido,
A tua boca de brasa, Antônio, as nossa vidas ligadas.
Antônio lindo, meu bem,
Ó meu amor adorado,
Antônio, Antônio.
Para sempre tua.”

Ou no também arrebatador, Pranto para comover Jonathan:

“Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.”

A paixão em Adélia é sofrida, mas é um sentimento lindo demais! Obrigada poeta, por tornar nossos dias mais doces. Vida longa e muito produtiva a você, para o nosso bem.

sábado, 5 de dezembro de 2015

NATAL MINEIRO

Em minha família geralmente o Natal é momento de muita alegria e confraternização. Valorizamos a data e reunimos todos. É um momento raro. À noite o encontro acontece em minha casa e, no dia seguinte vamos para a chácara que nossos pais nos deixaram e que tentamos manter do jeitinho que eles gostavam.
Mini presépio de cristal em terráreo
Árvore sóbria: cores cruas e uma pitada de azul
Esse está sendo um ano difícil. Lidamos com uma perversa doença em família que tem nos deixado exaustos e entristecidos. Ainda assim, vamos tentar estar juntos e comemorar da forma que for possível.
Por essa razão e pelas frequentes viagens que tenho feito em função disso, também tenho escrito com pouca frequência  no blog.
A decoração de Natal atrasou e, somente hoje consegui deixar a casa com cara de fim de ano.  

Presépio de cerâmica vindo de Ouro Preto

Por conta do momento e também considerando a grande catástrofe ocorrida aqui em Mariana, desta vez, nem mesmo na árvore de Natal utilizei cores muito vibrantes. O vermelho está praticamente ausente este ano.
Abusei do verde e das cores cruas e terrosas, incluindo uma pitadinha de azul.
Em julho ganhei um mini presépio de cristal, vindo de Poços de Caldas. Andei um bom tempo pensando como iria inserir aquela delicadeza no contexto da decoração. Acabei optando por fazer um terrário, compondo com suculentas, pedaços de rocha de Cristal e outras pedrinhas.
O Vale do Jequitinhonha, por onde estive viajando este ano e de onde trouxe umas coisinhas, também está presente na decoração.
Arranjo de Porta com elementos
 do Vale do Jequitinhonha

O presépio tradicional é de cerâmica. Como estava querendo fazer uma referência ao Rio Doce, o barro deu o tom da composição. Utilizei pedras vindas de Lavras Novas que pela elevada presença de minérios, tem um brilho bacana, mesmo já estando algumas cobertas de musgos. Coloquei plantas bem típicas da região como samambaia, bromélias e orquídea. Expus tudo em cima de um aparador de madeira de demolição, o que contribuiu para o simbolismo que eu queria alcançar. Ficou com a cara dos presépios da minha infância.

Embora com pouco tempo, fiz tudo com muito carinho.  A escolha de cada detalhe, proposital ou inconscientemente, acabou retratando o grande amor que cultivo pelo Natal e a admiração que dedico ao seu significado para os cristãos. Retrata também o respeito que tenho pelas tradições da família e pelas minhas preciosas memórias da infância  No entanto,  a decoração como um todo, refletiu a parcimônia e a contenção que o momento requer.