quinta-feira, 31 de maio de 2018

MAIS SOBRE A SERRA DA CANASTRA



À Serra da Canastra é melhor que se vá fora da temporada de chuvas, nos meses compreendidos entre maio e novembro. Obviamente as águas dos rios, cachoeiras e riachos estão menos abundantes, porém as estradas e vias de acesso aos pontos turísticos ficam em melhores condições de transito. Sem contar que, no período de dezembro a abril, a ocorrência de chuvas e de raios torna mais arriscada essa gostosa experiência.

Maciço de Candeias, arbusto típico do Cerrado,
contorna a Serra
Sempre viva no caminho da Rasga Canga

Como disse anteriormente, além da Casca D´Anta, outras bonitas cachoeiras no Parque Nacional ou em seu entorno, podem ser visitadas, com certa facilidade. É preciso ter apenas alguma disposição para enfrentar acessos empoeirados e estradas esburacadas e para andar um pouco a pé. Em nossa permanência de cinco dias na Canastra, além da Casca 
D´Anta, visitamos  as cachoeiras Rasga Canga, do Capão Forro, da Toca do Lobo, do Cerradão e da Chinela.  Parte do acesso geralmente precisa ser feito em  carros com tração nas quatro rodas, necessitando-se completar os trechos a pé. As trilhas às cachoeiras mencionadas são fáceis e curtas, no entanto, devido a peculiaridades locais é melhor que sejam feitas juntamente com um guia. 
Rasga Canga - situada dentro da área do Parque Nacional, com acesso pela portaria 1 e no caminho que leva à parte alta da Cachoeira Casca D`Anta fica a Cachoeira Rasga Canga. A vegetação é baixa, exceto nas proximidades das águas, onde existem árvores de porte médio e onde avistei bromélias pela primeira vez na Canastra. Origina-se de corredeiras do córrego do Rolinho que possui águas de tom esverdeado bem cristalinas e repletas de peixinhos. Estivemos por lá em final da tarde, já cansadas e com o tempo nublado. Fica a cerca de 10 km de São Roque de Minas, sendo a entrada de acesso bem íngreme, esburacada e empoeirada.
Mais de uma queda na Capão Forro
Capão Forro – Esse complexo, de nome esquisito possui duas cachoeiras principais: a do próprio nome  e a da Toca do Lobo cujas águas nascem dentro da área do Parque Nacional  e formam o rio do Peixe. Situam-se em área particular e nas proximidades há outras quedas d´agua e diversos poços para banho. Fica a cerca de 6 km de São Roque de Minas e o acesso se dá, em até certo ponto,  pela mesma estrada que leva à parte alta da cachoeira Casca D´Anta. Avistar as duas cachoeiras despencando-se das alturas, entre as rochas, paralelas uma à outra, é uma experiência impar. É, dentre as cachoeiras que visitamos das mais gostosas para banho, embora a água, nessa época do ano, seja bastante fria. Para quem gosta de sossego, como é o meu caso, é uma preciosidade. Enquanto permanecemos por lá, não apareceu mais ninguém. Cobra-se uma taxa de acesso de R$ 20,00.
Cachoeira da Chinela  -  é alcançada indo-se ao município de Vargem Bonita (a primeira cidade banhada pelo São Francisco), numa estradinha empoeirada, repleta de pequenas propriedades que produzem e vendem queijos artesanais, doces e cachaças típicas da região. Muitas dessas propriedades oferecem pousadas e algumas possuem poços e pequenas quedas d’água acessíveis aos hóspedes. A Cachoeira da Chinela é uma queda d´água bastante alta que fica entre árvores de porte elevado e um emaranhado de cipós bastante robustos, menos o comuns na região, onde há predominância do Cerrado. Também situa-se em propriedade particular, embora na data em que a visitamos o acesso estivesse livre. Além de nós, apareceram apenas dois casais de namorados que por lá pouco demoraram, deixando-nos o sossego absoluto para desfrutar daquela preciosidade. Mesmo sem muita boa vontade por parte do guia, convenci-o a acompanhar-me para fazer a trilha que dá acesso à parte alta da cachoeira. É um caminho curto, cuja subida se faz em 10 a 15 min, porém bastante acidentado. Muitas vezes torna-se necessário apoiar-se em pedras e ir se segurando em cipós, o que não é muito recomendável para quem não tem alguma experiência com trilhas.
Trilha para a Cachoeira do Cerradão
Cachoeira do Cerradão
Cerradão – A Cachoeira que leva este nome fica em uma área de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural),  e encontra-se aberta ao ecoturismo com um mínimo de estrutura aos visitantes. Há portaria, recepção, banheiros e cobram-se R$ 20,00 a entrada. O caminho até a entrada da reserva, a partir de São Roque, pode ser feito de carro (preferencialmente 4 x 4), seguindo-se por estrada de chão, por 7 km. Depois da portaria, é preciso caminhar a pé por cerva de 20 min. A trilha é bem delimitada e sinalizada.  Há placas indicando o nome popular e científico de diversas espécies de árvores e arbustos da trilha. A cachoeira do Cerradão é uma das mais altas da Canastra, possuindo ao todo cerca de 200 m. Suas águas despencam entre as rochas em três lances. O poço para banho me pareceu bastante perigoso. Além de nós, apenas um casal apareceu por lá.
Digno também de ser visitado é o “Curral de Pedras”, que encontra-se dentro da região do Parque Nacional. Trata-se de uma antiga construção que fica no alto da Serra, e que compõe-se de um grande cercado de pedras sobrepostas umas sobre as outras sem nenhum tipo de liga ou argamassa. A edificação é o que restou de um antigo retiro, um local de uso temporário, que servia de espaço para contenção, durante a noite, ou no inverno, do gado de leite que era levado para a parte alta de serra por antigos fazendeiros da região.
A região da Canastra não é um lugar atraente apenas por abrigar o berço do Rio São Francisco, com sua profusão de nascentes, quedas d´água e cachoeiras. Há outras preciosidades, como o queijo da canastra, por exemplo, produto artesanal exclusivo da região. O canastra real produzido em certa propriedade local possui selo de qualidade entre os melhores do mundo. É iguaria de sabor inigualável, produção limitada e preço bastante salgado para a maioria dos mortais. É um queijo que, para manter suas características, precisa ser de tamanho grande (cerca de seis a sete quilos) e leva de 20 a 30 dias para alcançar o ponto bom de cura. Felizmente é vendido fracionado. A aquisição é feita apenas na fazenda que o produz, que disponibiliza vários tipos de queijos para degustação, além de cafezinho e cachaça da região.
O entorno da Serra da Canastra não é uma região pobre. Há vasta produção de café, com cultivo bastante mecanizado. Embora com boa presença e efetividade do ICBio, o turismo não é intenso e visitas ao Parque Nacional não são estimuladas. É comum encontrarmos moradores da região, que não conhecem o Parque e suas atrações, como as cachoeiras e as nascentes.
Primeiras quedas do Rio São Francisco
Apesar de ser considerada a capital da Serra da Canastra, a cidade de São Roque de Minas possui pouca estrutura turística, assim como toda a região. Há limitada oferta de hospedagens e restaurantes, o comércio local é incipiente e funciona em horário irregular. Os queijos da Canastra são a principal atração em termos de compras, havendo também boas opções de doces, geleias, cafés e cachaças.



sexta-feira, 25 de maio de 2018

SERRA DA CANASTRA, UMA BELEZURA


 Era um sonho antigo. Visitar a Serra da Canastra e tomar um banho nas águas sagradas das  nascentes do rio São Francisco.

A principal nascente do São Francisco

A região onde estão as nascentes fica a Oeste do estado de Minas Gerais sendo protegida pelo Parque Nacional da Serra da Canastra, o mais mais antigo do Brasil. O parque abrange vários municípios, sendo São Roque de Minas (com pouco mais de 6.000 habitantes) o mais importante deles. São José do Barreiro e Vargem Bonita também são municípios abrangidos por áreas dessa  reserva ecológica que possui uma área de mais de 70.000 hectares e é administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Sempre vivas no caminho

Além das nascentes, o Parque abriga cenários de extrema beleza que se compõem por uma topografia bem peculiar e por espécies raras da fauna e da flora silvestres do Brasil. O local é considerado um santuário de aves, algumas especialíssimas,  como o Pato Mergulhão, uma das  espécies mais raras e mais ameaçadas do mundo. Também lá vive o Papagaio Galego, pássaro restrito ao cerrado e áreas adjacentes. Além dessas, há muitas outras espécies, como as Emas, por exemplo, consideradas um diamante do Parque da Canastra.  Ao todo são mais de 400 tipos de aves documentadas, como a belíssima Jandaia da Testa Vermelha, o Periquito Rei, o cantador Pintassilgo e a Maria Preta de Penacho, também raras, segundo o Catálogo 100 AVES do Parque Nacional da Canastra, uma publicação do ICMBio.
Mariposa colorida pousa na pedra da cachoeira
A fauna do Parque não é rica apenas em aves. Por lá é comum avistar o Lobo Guará, o Tamanduá Bandeira, o Tatu Canastra e muitas outras espécies, algumas já desaparecidas da maior parte do território brasileiro.

O dourado do capim de bode

A região da Canastra recebeu esse nome devido ao formato peculiar de sua cadeia de montanhas que lembra um baú. Trata-se realmente de uma caixa de preciosidades: a vegetação típica do Cerrado na Serra da Canastra tem peculiaridades interessantes. Cerradão, Cerrado Ralo, Cerrado Rupestre, Campos de Murundus, Campo Limpo convivem harmoniosamente com Capões de Mata, Campos Sujos, Matas de Galeria, Campo Úmido e outras denominações curiosas, incapazes de descrever a diversidade de plantas do local. Árvores, arbustos e arvoretas, plantas herbáceas (sem caule lenhoso, geralmente de porte baixo), como as lindas Sempre-vivas,  variados tipos de grama, todos de grande relevância ecológica, ajudam a compor uma paisagem única e exuberante.

Vegetação deslumbrante

Uma profusão de nascentes (mais de cem ao todo), cursos d´agua, riachos, e cachoeiras complementam o cenário. A Cachoeira Casca d´Anta, com cerca de 186 m de queda livre, é um dos maiores pontos de atração do Parque. Constitui, sem dúvida, um marco paisagístico da Serra da Canastra, deixando deslumbrados os seus visitantes, diante da beleza cênica da sua queda d´água.


Parte baixa da Cachoeira Casca D´Anta
emoldurada por quaresmeiras
A parte alta da Cachoeira Casca d´Anta,  fica a cerca de 35 km do município de São Roque de Minas. O acesso é feito por estrada de terra passando pela portaria 1 do Parque. De lá para a frente, apenas a pé ou em carros 4 x 4. Também por essa portaria se tem acesso às nascentes (que ficam cerca de cinco km depois). Daí até a primeira queda d´agua do rio São Francisco  e ao mirante da parte alta são cerca de mais 15 km percorridos no topo da Canastra.
Siriemas atravessam o caminho da
Cachoeira Casca D´Anta
Foto Márcia Rigueira
A melhor visão da Cachoeira Casca D´Anta  é obtida em sua parte baixa, cujo acesso é feito por Vargem bonita (a primeira cidade banhada pelo São Francisco), passando-se pela portaria 4, do Parque. A vista é deslumbrante, sendo difícil descrever a sensação que se tem ao avistá-la ao longe, majestosa despencando-se abruptamente do incrível paredão rochoso, recoberto de quaresmeiras floridas. 
A trilha de acesso é feita no meio da matinha que segue margeando o Rio São Francisco, por cerca de 15 a 20 min. Durante o percurso há pequenas piscinas naturais onde se pode nadar.

Diversas outras bonitas cachoeiras no entorno de São Roque de Minas e Vargem Bonita também podem ser visitadas, caso se tenha alguma disposição para enfrentar acessos empoeirados e estradas esburacadas. Além da Casca D´Anta, visitamos as Cachoeiras do Capão Forro, da Toca do Lobo, do Cerradão, a Rasga Canga,  a dos Rolinhos  e a da Chinela.  Para se chegar a qualquer uma delas é preciso andar alguns trechos a pé. Todas são trilhas fáceis e curtas, no entanto, devido a peculiaridades locais é melhor que sejam feitas juntamente com um guia.
Por ora, fico por aqui. A fim de evitar um texto muito longo, farei outra postagem falando das demais cachoeiras que visitamos na Serra da Canastra.



Companheiras na nascente principal