segunda-feira, 30 de setembro de 2019

VIÇOSA


 Dentre tantos outros lugares possíveis, aqui nessa Viçosa escolhi viver. Foi esse o canto que elegi para criar minhas filhas, cultivar meu jardim, tecer meus bordados.
Aqui é uma escola. E a escola é um jardim
Não saberia dizer precisamente por quê. Suspeito que seja por seu nome tão bonito e porque esse lugar é uma escola. E todo dia, por aqui, é dia de aprender. E porque a escola é um jardim. E porque nesse jardim há lindas pistas para caminhada, o esporte que escolhi.   
A mais linda pista de caminhada
Fiz desse lugar minha casa e dela meu canto no mundo. Aquele para onde desejo sempre voltar, depois das viagens que tanto gosto de fazer. É para cá que trago as sementes que colho e as ponho para germinar. E faço mudas e as transplanto, para a alegria das formigas.  
Pode não ser muito, mas fiz dele meu lugar no mundo. Aqui vivo tentando juntar meus cacos e meus livros; experimento coser meus retalhos e arrisco uns passos de dança. Ensaio, quase sempre em vão, juntar palavras em crônicas, em poesia, em contos.
Aqui gosto de morar e experimentar coisas novas, no meio do caos dessa cidade, de suas feridas cravadas por seus algozes.
Painel  (mosaico) artístico de autoria
do Prof. Adenilson Monteiro

Não é fácil ver esse lugar tão sacrificado.  Autoridades permitem construções bem em cima do ribeirão, que tem nome de santo. Deixam-lhe botar barracas em cima, daquelas que vendem quinquilharias da China. Não exigem acessibilidade nas calçadas. Permitem que o trânsito vire uma bagunça. Não cuidam direito do lixo, nem levam em conta a necessidade de um ar mais limpo e de um andar mais seguro.
Mas aqui a esperança não morre, a comida e a cachaça são boas,  a mineirice é marcante. Encravada nesses morros, há a mais linda procissão de Santa Rita.
Esse é um reduto de gente hospitaleira e lugar de mestres e artistas. Há opções culturais o ano todo. Há muita gente que inspira, que luta por outras pessoas, utópicos querendo melhorar o mundo.  Aqui sempre encontro companheiros de luta.


terça-feira, 17 de setembro de 2019

CONVERSAS DE JARDINEIROS – Reformas em Casa


Jardins bonitos requerem manutenção constante, por mais que sejam habitados por espécies perenes, que exigem menos cuidados. Podas de limpeza,  retiradas de hastes secas, galhos ou folhas que precisam ser removidos, boas regas e alguma adubação, entre outras, são rotinas de jardineiros cuidadosos.
Todavia, quando se torna necessária alguma intervenção mais profunda, os cuidados precisam ser redobrados. É o que normalmente acontece quando a casa encontra-se em reforma. O jardim, frequentemente, acaba sofrendo e, muitas vezes, precisa ser incluído nos reparos.
Obras que envolvem a recuperação de  muros que servem de encosta ao jardim podem exigir  cuidados maiores, mesmo com as plantas mais robustas. Geralmente quando se pode escolher, dá-se preferência para a execução de obras no período da seca. Por aqui, esse período começa geralmente a partir de junho, quando a probabilidade de chuvas é menor, indo até setembro. Também nessa época, as podas são mais indicadas. Assim, casar os dois procedimentos pode ser uma boa escolha, já que, mesmo com todos os cuidados, as plantas costumam sofrer com poeira, respingos de massa e tinta, além de outros danos.
Caso o jardim seja algo importante, é melhor deixar bem claro para os profissionais que estão envolvidos na obra, que durante a reforma,  os cuidados com as plantas são imprescindíveis No meu caso, além de recomendar, prefiro me envolver pessoalmente, não abrindo mão, por exemplo, de orientar a retirada de plantas que precisam ser removidas. Costumo ainda escolher pessoalmente o lugar onde as plantas retiradas do jardim serão colocadas provisoriamente e me encarregar dos cuidados com as regas e podas, nesse processo de reformas.  
Raramente, por mais que planejemos, as obras em casa ocorrem sem nenhum imprevisto. Isso vale também para as plantas e o jardim. Assim, para evitar decepções e aborrecimentos maiores, melhor dar início à reforma, contando que alguma perda pode ocorrer. É muito bem vinda a contratação de profissionais que compreendam o quanto a preservação e os cuidados com o jardim são importantes na empreitada. Contar com um bom servente que tenha alguma prática de jardinagem, ou gosto com plantas, nessa situação, é um luxo.  
Dependendo, obviamente, do tamanho da intervenção, nem todas as plantas precisam ser removidas do jardim. Alguns cuidados permitem que sejam mantidas em sua posição original, sem grandes interferências em seu crescimento e floração.
Selecionei alguns exemplos que podem ajudar quem vai passar por uma reforma em casa e não quer ver seu jardim  danificado e necessitando “começar de novo”, depois que a casa estiver pronta.

Buganvília adulta em floração
-  Buganvília adulta em plena floração que encontrava-se apoiada no muro, teve seu tronco e galhos afastados do apoio com o auxílio de cordas e um suporte de ferro, enquanto a edificação era restaurada e pintada. Durante o período em que permaneceu fora do apoio do muro, recebeu regas diárias. Ao final do procedimento, ganhou uma poda de limpeza, uma boa adubação e foi reconduzida ao muro. Praticamente não sofreu danos.

Nolina amarrada durante a reforma
- Nolinas (pata de elefante)  e sagus adultos são exemplar preciosos em muitos jardins. Embora sejam  espécies caras e de crescimento lento, são bastante robustos e resistem bem a pequenas agressões. Um bom amarrado em suas folhagens costuma funcionar bem, protegendo-as de  respingos de tinta e massa de reboco, poeira de cimento e alcance de pedras e ferramentas. Borrifar água diariamente nas folhas e nos troncos é um procedimento que auxilia para que essas espécies não sofram danos maiores durante uma reforma.

Essa touceira de Chamedória foi
protegida com amarração
- Palmeiras como as de Petrópolis, as Chamedórias, as Fenix e as Raphis,  mesmo que não alcancem altura elevada quando adultas, costumam ser  espécies que tornam-se difíceis de serem removidas temporariamente do seu local, sem trabalheira. Recursos como amarrar as folhagens e manter a umidade do  solo também costumam funcionar nesses casos.

- Dracenas, no geral apreciam boas podas, especialmente nessa época do ano. Suas hastes costumam ser flexíveis e as folhagens bem resistentes. Assim sendo, melhor mantê-las em seus locais de origem, bastando afastar seus galhos do contato direto com materiais da obra. Podas de limpeza e manutenção devem ficar para depois da conclusão da reforma, priorizando a retirada de hastes que sofreram algum dano como quebras de folhagem, feridas e respingos de tinta ou poeira de cimento.  

Manacá floresce durante a obra, amarrado
a pedras que o mantem fora do muro.

- Arbustos como os manacás, as clúseas e os resedás somente devem ser removidos de seu local, caso seja estritamente necessário. Cobri-las com lona durante o trabalho, ou arredar seus galhos do contato com a obra, costuma ser ação suficiente para protegê-las.  

Ao contrário das espécies citadas, algumas plantas podem ser facilmente removidas do lugar em que se encontram, em perfeito estado. É o caso, por exemplo, de  bromélias e orquídeas de chão. Tais plantas costumam ter o sistema de enraizamento bem superficial e resistem  a serem arrancadas, algumas até sem os respectivos blocos de terra;  precisam apenas serem protegidas de excesso de poeiras, respingos de tinta e outros acidentes comuns em obras. Podem ficar bem, se transferidas para locais de espera principalmente sombreados, com menor risco de perdas.


Bromélias aguardam em caixas até serem
levadas de volta ao jardim

Na maior parte das vezes, as plantas preferem, caso seja possível, serem mantidas no local em que estão habituadas e adaptadas. Obviamente que tal solução somente se aplica para o caso de não haver projeto de interferência significativa no jardim. Amarrar as folhagens, cobri-las e às  floradas com uma lona, durante o dia,  descobrindo-as à noite, jogar  água nas folhas e nas raízes ao fim do dia, são práticas que costumam funcionar bem.
Dessa forma, ao fim da obra, a recomposição do jardim pode ser realizada com menos trabalho e ser menos onerosa. Como é sabido, exemplares adultos de espécies ornamentais costumam ser caros, além de precisarem de um tempo para adaptação.