sexta-feira, 21 de agosto de 2020

CONVERSAS DE JARDINEIROS

 O USO DE ORQUÍDEAS EM JARDINS E CANTEIROS

Estamos todos precisando de alentos, e conversar sobre jardins e plantas faz a gente esquecer, nem que seja por alguns momentos, os desastres da atualidade. Muito mais do que falar, essa ação de lidar com a terra e com as flores proporciona um relaxamento difícil de obter por intermédio de outras atividades. Isso se dá comigo e com um bom número de amigos jardineiros e amantes da natureza com quem tenho dialogado durante essa pandemia. Se você ainda não se animou, que tal experimentar?

Arundina, ou Orquídea bambu - a mais comum em canteiros
Foto: Rosilene Salomé

Hoje vamos falar sobre uma possibilidade ainda pouco utilizada na composição de jardins e canteiros: o uso de orquídeas para esse fim. Essa linda flor, tão nobre e tão cobiçada, geralmente fica restrita aos vasos. Também é bastante comum nos jardins, observar espécies epífitas hospedando árvores e arbusto. Mas, raramente as vemos compondo canteiros. E muita gente nem sabe dessa alternativa, o que é uma pena, pois não imagina que está perdendo a possibilidade de possuir um jardim único, pouco comum.

As orquídeas são uma família de plantas das mais numerosas, considerando-se apenas as espécies nativas das diversas regiões do planeta. Se forem incluídos os híbridos tornam-se praticamente inumeráveis.  Assim as opções são várias.

Dentro desse vasto conjunto de plantas, tem-se as orquídeas  terrestres, e é dessas que vamos falar. Darei apenas alguns exemplos de possibilidades de usos delas na composição de canteiros, mencionando espécies nativas e, ou bem adaptadas ao nosso clima tropical.

Na composição de canteiros gostamos de possuir espécies de alturas e cores variadas, o que confere mais harmonia e beleza aos conjuntos. Assim, menciono  orquídeas mais altas, de porte médio e até algumas que podem ser utilizadas como forração de canteiros.

A Arundina, ou orquídea bambu é, segundo o que percebo, a mais comum na composição de jardins em nosso país.  Ela é originária da Ásia, mas perfeitamente adaptada ao clima tropical brasileiro.  Ela floresce o ano inteiro, aceita sol pleno e é de fácil reprodução. Não exige solo muito bem drenado, como a maioria das orquídeas, mas fica melhor nessa condição.

Com sua florada lilás, ela fica muito bem em bordaduras de muros, com plantas mais baixas à frente. E, atrai borboletas e passarinhos.

Assim como a sua irmã Arundina, o cirtopódio, mais conhecido por aqui como rabo de tatu, é planta bem alta. Mas essa é nativa do Brasil, sendo facilmente encontrada na natureza em vários estados, especialmente na região que vai do Paraná à Bahia.

Cirtopódio em sol pleno - Foto: Rosilene Salomé

Essa planta fica bem em solo arenoso, e precisa de sol pleno. Não aprecia muita umidade, assim não necessita mais do que uma rega semanal. Seus cachos amarelos são fartos em flores e podem atingir até um metro de altura.

Canteiro de epidendros 

    Dentre as orquídeas de porte médio, a menos incomum e também fácil de ser cultivada em nosso clima é a Epidendro fulgens, comumente chamada de orquídea de praia, ou orquídea da restinga. Ela é nativa das Américas e endêmica em várias regiões do Brasil, sendo encontrada principalmente à beira do mar, ou em dunas.

Orquídea estrela dá belos arranjos.
Foto: Dayze Magalhães



Os epidendros apreciam solos arenosos e sol pleno. São fáceis de serem cultivados e reproduzem-se a partir das mudas que brotam e enraízam-se em sua haste floral, ou por divisão de touceiras. Muitos epidendros de tamanho médio têm caules frágeis e pendentes, ao contrário da orquídea estrela, que possui hastes eretas. Isso favorece não apenas a composição de belos canteiros, como também favorece o corte, sendo possível fazer elegantes arranjos florais com suas hastes  cor de fogo.












Também com alguma presença em canteiros e jardins, a Phaius, ou chapéu de freira é uma orquídea com origem em regiões úmidas da Ásia tropical e da África.. Muito bem adaptada ao clima brasileiro, essa planta compõe touceiras, de onde podem surgir várias hastes florais de uma vez, formando conjuntos de grande beleza.

Ela gosta de bastante umidade, solo com muita matéria orgânica e sobrevive bem ao sol, embora fique mais bonita à meia sombra. É uma planta de porte médio, embora suas hastes florais possam alcançar alturas próximas a um metro. Compõe bem com a orquídea violeta não somente pelo formato de suas folhagens, como pela coloração das flores de cor vinho, variando ao chocolate. 


Quem não gostaria de uma touceira dessas em seu jardim?

Outra orquídea bem adaptado ao plantio diretamente no solo é a Dendróbio moscato, ou orquídea pêssego, assim popularmente chamada, devido à sua cor. Ela é natural da Ásia, mas, assim como muitos outros dendróbios perfeitamente adaptada ao clima brasileiro.

Dendróbio Moscato

Ela precisa de solo bem drenado, mas não seco e adapta-se bem à meia sombra. No caso de estar em locais bastante sombreados, suas hastes costumam alcançar alturas superiores a meio metro e precisam ser escoradas para que suas hastes florais não pendam ao chão.

Címbídios são raros em canteiros

Os cimbídios ocorrem naturalmente no sudeste da Ásia e na Austrália, mas também nas Américas, especialmente em regiões de clima ameno, ao sul do Equador. Provavelmente estão entre as orquídeas mais sujeitas ao processo de hibridização e comercialização.

De floração farta e cultivo relativamente fácil, em boa parte do Brasil, essa espécie, no entanto, raramente é utilizada na composição de canteiros. Para boas florações, ela precisa ser cultivada em solo rico de matéria orgânica, como esterco de gado bem curtido, ou húmus de minhoca. Como a maioria das orquídeas não gosto do solo encharcado.

Por encontra-se comercialmente disponível em diversas cores, e apresentar exuberantes floradas de longa duração, especialmente durante o inverno, é difícil entender porque o uso dos cimbídios em canteiros ainda é pouco explorada no paisagismo.

Orquídeas terrestres menores para serem usadas como forração de canteiros são ainda menos comuns nos jardins.

Orquídea violeta é linda como forração de canteiros

Tenho uma experiência bem positiva com a orquídea violeta, ou orquídea grapete. Originária das regiões tropicais da Ásia, ela aprecia lugares com bastante umidade e sol e, aqui no Brasil costuma entouceirar-se bem e florescer durante quase todo o ano, exceto nas regiões de clima muito frio. Sua folhagem plissada verde-escuras e seus cachos roxos trazem uma beleza singular a qualquer canteiro. Gosta de solo bem drenado, porem rico em matéria orgânica.

Tenho experimentado também, com algum sucesso o uso da orquídea Maxilária, como forração de canteiros. Comecei cultivando-a em um tronco colocado horizontalmente em um canteiro. À medida que ele foi apodrecendo e se decompondo, as brotações foram se alastrando ao seu redor, incorporando-se ao solo.

Maxilária crisanta

Não sou uma especialista em orquídeas, nem me prendo muito às nomenclaturas e classificações botânicas. Costumo dizer que tenho orquídeas para me divertir e não para me torturar. Essa última que menciono, parece tratar-se de uma Maxilária Crisanta, originária da Argentina e que pertence a um gênero bastante comum na América do Sul, com algumas espécies sendo nativas do Brasil. Talvez por essa razão adapte-se com alguma facilidade por aqui. Desconheço qualquer nome popular a ela atribuído.