sábado, 26 de agosto de 2017

VIAGENS – Museu Guimarães Rosa e Gruta de Maquiné, em Cordisburgo MG

Costumo dizer que seu não fosse mineira, queria ter nascido em Minas Gerais. Ainda bem que dizem por aí que somos tímidos e modestos (o que penso não ser o meu caso, em particular). Não fora isso, viveríamos de exaltar as coisas boas que temos no estado.
Relacionar lugares para visitar em Minas é uma moleza. Podemos fazer listas que não acabam mais, começando pela capital e seu entorno, destacando o Inhotim, indo depois para Ouro Preto, Mariana e redondezas. Não é difícil alcançar Congonhas, Tiradentes, Sabará, Diamantina e os incontáveis distritos históricos mineiros, cheios de beleza e charme. Em nosso clima ameno e topografia predominantemente montanhosa, encontramos paisagens encantadoras, trilhas incríveis, com rios, cachoeira e grutas espetaculares. Além da comida, é claro, um dos atrativos consideráveis do estado.
Passaria facilmente longas horas a contar dos encantos do nosso estado, se não quisesse também falar de nossa gente. Quem tem Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado, Fernando Sabino, Ziraldo, Fernando Morais, Milton Nascimento e Sebastião Salgado, entre tantos outros, tem prosa da boa por muito tempo.
Estaçãozinha de trem em Cordisburgo
A proposta de hoje é falar de um passeio à terra do nosso escritor maior. Refiro-me a Cordisburgo, cidade de Guimarães Rosa, que fica bem próximo a Belo Horizonte. Um dia é suficiente para adentrar no ambiente onde foi gestada e  inspirada a obra desse autor admirável. Em sua terra natal, está o Museu Casa de Guimarães Rosa, organizado na residência da família onde viveu o escritor grande parte de sua infância. O museu reúne um ótimo acervo com mobiliário original, fotos, manuscritos, matrizes de impressão de algumas obras e edições históricas dos livros do autor, entre outras preciosidades. Dentre os cômodos preservados da casa, o quarto da avó e a venda do pai (seu Fulô), onde o menino João cresceu ouvindo histórias contadas por sertanejos da região, que inspiraram toda a sua obra, especialmente o espetacular Grande Sertão - Veredas. Emociona ver os livros com dedicatórias e as cartas do autor aos pais e, encanto dos encantos, a coleção de gravatas borboletas do autor de Sagarana.
No museu estão também a sua máquina de escrever, objetos referentes à sua atuação como médico e diplomata e o diploma da Academia Brasileira de Letras, recebido apenas três dias antes de sua morte.  
Capa bordada com cenas do livro
Grande Sertão - Veredas
Importante atrativo da cidade, incentivando o turismo cultural e de pesquisadores, o museu conta com intensa participação da comunidade local que, por intermédio da Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa (AAMCGR), desenvolve atividades, eventos e projetos voltados à divulgação da obra do autor e à preservação de sua memória. 
No Portal Grande Sertão
Bem à frente do Museu está o Portal Grande Sertão, um conjunto de esculturas em bronze, representando uma cena de um grupo de cavaleiros prontos para adentrarem o sertão, tal como fez Guimarães Rosa diversas vezes, não somente ao exercer sua atividade como médico, mas também em viagens planejadas ao norte de Minas e adjacências, para colher materiais para seus escritos. Compõe o conjunto uma estátua do autor.
A cidade de Cordisburgo, que é pequena e acolhedora, preseva traços da época em que viveu o autor. Bordadeiras compõem peças com reproduções de cenas da obra de Rosa, bem em frente à estaçãozinha de trem. Tudo na cidade respira literatura.

Entrada da gruta de Mquiné
Estando em Cordisburgo não se pode deixar de visitar a sua outra grande atração turística: a gruta de Maquiné. Com boa estrutura para atendimento ao visitante, o local abriga um museu moderno e interativo que guarda acervo relativo ao período da descoberta da gruta, em 1825 e homenageia o naturalista dinamarquês Peter Lund, um importante estudioso das grutas de Minas Gerais, responsável  pelos registros de vida pré-histórica na região.
Primeiro salão da Gruta 
Já relatei por aqui que não sou muito amiga de grutas. Confesso que dessa vez quase rompi meu medo, encantada que fiquei com a vista ao primeiro salão, majestoso e claro, um cenário de sonhos, esculpido pela natureza. Não me encorajei a atravessar o estreito corredor de acesso aos outros ambientes de Maquiné. Obviamente, minha visita foi incompleta. Ainda assim, sinto-me animada a incentivar os mais ousados a adentrar aquele universo misterioso e encantador, que levou milhões e milhões de anos para se formar e que somente há menos de dois séculos foi descoberto pela humanidade.  
Bem próximo dali e ainda mais perto de Belo Horizonte, está a gruta Rei do Mato, outro conjunto natural importante principalmente por descobertas arqueológicas recentes.
Minas é assim: anda-se apenas mais um pouquinho, que logo ali se descobre outra beleza, outra gostosura, mais conversa boa. Atrações interessantes “dão sopa” por aqui. Agora imagina só, compadre meu Quelémem,  se a gente fosse de contar vantagens...





quinta-feira, 10 de agosto de 2017

DUAS FÁBULAS E UMA VERDADE

Mais uma vez meu grande mestre colabora com este blog. Muita honra para o Maria da Saudade contar com sua sabedoria e compartilhar. 

Duas Fábulas e Uma Verdade

Tancredo Almada Cruz
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tancredo@ufv.br>

        Conta uma fábula bem conhecida que um rei, extremamente vaidoso, ordenou ao seu costureiro que lhe fizesse a vestimenta mais bela que pudesse existir. Após várias tentativas para atender ao pedido de Sua Majestade, sem obter sucesso, o costureiro decidiu iludi-lo, dizendo ter feito a veste mais bela jamais vista. Fingiu vestir o monarca com uma roupa mágica, que só poderia ser vista por pessoas justas e leais ao reino. Em seguida, levou-o até a sala do trono onde a roupa invisível do rei foi elogiada por toda a corte, composta por bajuladores. A alegria do monarca foi tão grande, que decidiu sair às ruas para que fosse admirado pelos seus súditos.  Ao desfilar diante do povo, uma criança, com a pureza peculiar a todas as crianças, gritou: O REI ESTÁ NU! E a farsa se desfez...
Algo semelhante ocorreu no Brasil. O grupo que depôs a Presidente Dilma, acusada de conduzir um governo perdulário e corrupto, iludiu a população prometendo superar a crise com um governo austero e probo. Rapidamente, a farsa foi desfeita. As estatísticas oficiais demonstraram a queda do emprego, o aumento do deficit  público, a redução dos programas sociais, o aumento da miséria, além de outros  números  indicando  o  aprofundamento  da crise. Em paralelo, as investigações demonstraram que os corruptos, infiltrados no governo anterior, assumiram postos  de  comando  no novo governo e continuaram roubando com maior avidez.
    Enfim, o  IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e  Estatística e  a PGR – Procuradoria Geral da República gritaram: o rei está nu!
    Outra fábula, essa pouco conhecida,  conta  que  um  passarinho bateu à porta do céu, insistindo para falar com  Deus.  São  Pedro, irritado com aquilo,  indagou: O  que  você  quer aqui?
        - Quero pedir ao Senhor que faça o boi voar.
        - Boi voar? Para que? Perguntou o santo.
    - Para que ninguém se importe com as minhas cagadinhas.
    Na última quarta-feira, em triste espetáculo, a Câmara  Federal impediu que o presidente Temer fosse julgado por crime de corrupção passiva, pelo Supremo Tribunal Federal. Há várias explicação para este fato. Há quem diga que os  votos  foram  motivados pelos saborosos jantares oferecidos pelo palácio. Outros alegam que os deputados foram comprados por emendas, anistias fiscais  e até mesmo, por cargos para seus apadrinhados. Talvez essa fábula, possa explicar a lógica de votos tão absurdos: se protejo quem é suspeito de crimes graves, ninguém vai se importar com meus pequenos deslizes.
        A verdade é que, após o golpe do ano passado, o País vive um enorme retrocesso em todos os sentidos, seja na ética,
na  política e na justiça. Os brasileiros saberão reverter este
quadro.