terça-feira, 25 de junho de 2013

QUITUTES JUNINOS

O mês de junho,  no interior do Brasil é uma tentação para aqueles que querem ou precisam manter a forma.  Assim como no Natal,  as festas juninas são marcadas por uma comilança irresistível.
No interior de Minas Gerais,  prevalecem os caldos, as bebidas quentes e os doces. Como temos um inverno bastante rigoroso e úmido, as gostosuras vêm para aquecer o peito, pois o sereno cai impiedoso e, mesmo em volta de fogueira, o frio é de lascar.
As comidinhas mais comuns ainda são a pipoca, o amendoim torrado, o milho verde cozido ou assado na brasa, a batata doce assada e a canjica doce com amendoim. Tudo muito simples e informal.  Originalmente aqui na nossa região, as festas juninas estavam relacionadas à colheita do café – época do ano em que se compravam roupas novas, renovavam-se os móveis da casa e faziam-se outras extravagâncias, tudo graças ao dinheirinho extra da colheita.
Mas nas festas juninas também podemos, sem deixar de lado a  tradição, fazer comidinhas mais elaboradas e gostosíssimas. Tá certo que dão um pouco mais de trabalho, mas a alegria de reunir amigos compensa o esforço.  Aliás, para mim, festa junina é isso:  gente que a gente gosta reunida em volta da fogueira, comemorando a vida. Não esses grandes eventos, quase puramente comerciais, onde se vende cachorro quente e se escuta música caipira de gosto duvidoso.
Então, mostro aqui duas receitas especiais para as festas juninas. A primeira é de um quentão especialíssimo. Ao invés de usar o limão rosa tradicional, utilizei a laranjinha kikan. Ficou um primor. Não somente lindo, com as rodelinhas flutuando no líquido fumegante, como muito saboroso. A outra é a ambrosia. Embora muito presente no interior de Minas ela é pouco lembrada nas festas juninas e mais comum nas festas de fim de ano.  Podem ser boas sugestões para sair do trivial. Seguem as receitas.
QUENTÃO 
Quentão de laranjunha kinkan

Ingredientes
- 1 litro de água
- 250 ml de cachaça de boa qualidade
- 12 laranjinhas kinkan
- 1 xícara das de chá de açúcar
- 4 paus de canela
- 8 cravos da índia
- 10 rodelinhas de gengibre, descascado
- Caldo de 2 limões.
Modo de Preparo
Primeiro faça o xarope, colocando em uma panela esmaltada a água, o açúcar, a canela, os cravos e o gengibre e a laranjinha kinkan em rodelinhas finas, sem as sementes. Deixe ferver por 15 minutos e  acrescente o caldo dos limões, também sem sementes. A laranjinha deve ficar macia, para que possa ser comida junto com o quentão. Assim que obtiver um xarope bem cheiroso e a laranjinha estiver no ponto,  acrescente a cachaça somente para aquecê-la. Não deixe ferver, mas mantenha aquecido para servir.

AMBROSIA
Ambrosia

 Ingredientes
- 1 litro de leite
- 2 latas de leite condensado
- 3 ovos
- casquinhas de 1 limão e suco (opcional)
- oito cravos da índia e 4 paus de canela
 Modo de Preparo
Em uma panela, preferencialmente esmaltada, leve o leite para ferver juntamente com a canela, o cravo e as casquinhas de limão. Ferva por 10 minutos, mexendo de vez em quando para não formar rapa no fundo da panela.  Acrescente o leite condensado misturando bem e mexendo por mais 10 minutos. Retire as casquinhas de limão, os cravos e os paus de canela. Bata as claras em neve, acrescente as gemas, misture bem e despeje sobre o leite fervendo. Deixe talhar e vá cortando com a escumadeira, até que os ovos fiquem bem incorporados ao doce. Isso leva mais uns dez minutos.  Obs.: Se não talhar, acrescente caldo de um limão.  



terça-feira, 18 de junho de 2013

DECORAÇÕES PARA FESTAS JUNINAS: Estandartes e Arranjos Tropicais

            Há algum tempo depois de assistir um show do Flor do Batuque,  aqui em Viçosa, que usava lindamente um estandarte à frente do grupo,  andava querendo  me aventurar em fazer alguns.
Semana passada baixou Artur Bispo do Rosário em mim e pus mãos à obra.  Preferi, ao invés trabalhar com colagens, como vemos em alguns vídeos da Internet, fazê-los costurados. Creio que assim ficam mais resistentes e duram mais.Como tenho pouca prática, foi um desafio. 

Acabou dando certo. Afinal não era alta costura, mas apenas uma brincadeira. Fiz vistas grossas às imperfeições e abusei das cores e materiais.  Deixei os tons se divertirem, sem me preocupar “se combinavam” ou estavam em perfeita harmonia.
Ao final, gostei do resultado. Estandarte é isso! Um santo a ser homenageado, disposição para furar os dedos com agulha de vez em quando e uma sacola de retalhos e aviamentos a aproveitar. Rendas, fitas, sinhaninhas, sutaches, cordões, passamanarias e flores: é possível utilizar tudo isso e mais. Na confecção de estandartes, não há regras fixas. Originalmente eles eram feitos, aproveitando-se o que tinha em casa. 
São João com seu carneirinho
Assim, valia e continua valendo soltar a imaginação e bisbilhotar aquela gaveta onde se guardam bugigangas que não tivemos coragem de jogar fora, como um brinco quebrado, lantejoulas, vitrilhos, ponto-russo e até botões.   
O São Pedro foi confeccionado em cetim
Para decorar as festas juninas saindo um pouco das habituais bandeirolas é uma ideia diferente.
Musa e Alpínea compõem um belo arranjo
Outra opção bacana, em minha opinião, é utilizar flores tropicais e fazer arranjos bem vibrantes. Eles podem ser colocados em vasos rústicos de cerâmica de maneira bastante despojada.
Afinal as festas juninas nos remetem à vida simples no campo e, mesmo hoje, vivendo em um mundo tão tecnológico e sofisticado, muitas pessoas sentem falta disso.



domingo, 9 de junho de 2013

CAUSA CIGANA

A gente vive anos sem pensar em um assunto. De repente, por um desses encontros que a casualidade nos reserva, somos tomados por algo novo e que passa a fazer parte de nossas reflexões. Foi o que me aconteceu em relação aos ciganos, depois de conhecer uma pessoa encantadora e determinada em sua luta pela causa cigana. Falo da professora Bernadete Lage Rocha, que vive aqui em Viçosa e faz parte do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – MG e do movimento Mulheres Pela Paz, a quem tive o privilégio de conhecer por intermédio de meu grande mestre Professor Tancredo Almada Cruz. A paixão que move a professora na defesa do povo cigano é algo arrebatador. Vejam partes de um texto publicado por ela e que vale a pena ser replicado: “ Estamos tratando do histórico preconceito que se perpetua há quase 1.000 anos e que é matriz dos efeitos devastadores sobre um povo, a Etnia Cigana,  condenando a maioria de suas crianças, jovens e adultos a uma existência inteira de completa exclusão pelo mundo”. 
Relatando as origens do enorme preconceito que cerca essa etnia, continua a Professora Bernadete: “Para sobreviverem, viajavam como mágicos, videntes e músicos. Por falta de lastro social, passaram a despertar o desprezo e  a ira da minoria dominante, o que culminou em   irracional discriminação....”. Lembrando que esses povos sofrem “as mais contundentes formas de segregação e violência”, a professora menciona que “Na Itália, em 2008, Berlusconi mandou queimar 400 tendas, deixando ao relento centenas de famílias.”. Relata ainda que o mesmo tem ocorrido em tempos recentes em  outros países ditos desenvolvidos como a França, onde recentemente houve ataques a acampamentos de ciganos. 
No Brasil a situação não é diferente. Estando por aqui, desde o século XVI, eles têm sido discriminados ao longo dos tempos. Dos cerca de 800.000 ciganos hoje existentes, 90% são analfabetos e “ excluídos  de políticas públicas básicas de saúde, bolsa-escola, bolsa-família, vacinação, pré-natal, atendimento médico”. E mais: “O surpreendente é que todo esse sofrimento sem fim, está fundamentado apenas no imaginário coletivo, atávico, de que ciganos são perigosos, desonestos, denominações, inclusive, encontradas até em dicionários”.  
Felizmente, alguma luz começa a surgir no fim desse túnel escuro de preconceito e ignorância. Por iniciativa do Deputado Federal Tiririca, alguns projetos de lei em defesa dos ciganos, circenses e outros “mambembes” têm sido apresentados. Bom que esteja vindo dele, que conhece de perto o que é sofrer preconceito e que, mesmo antes de iniciar seu mandato, foi massacrado pela grande imprensa por ser “ignorante”, como se boas ideias, dedicação e trabalho fossem prerrogativas de gente estudada.
        Trago ao meu blog, ainda tão incipiente, esse assunto do qual conheço pouco, na tentativa de compartilhá-lo, mesmo que com número reduzido de pessoas. E, principalmente,  em solidariedade ao povo cigano e  como homenagem à Professora Bernadete, corajosa e decidida em sua busca por fazer esse mundo um pouco melhor.
                                                                                                
O texto completo da professora Bernadete está disponível em:


Veja também vídeo da professora Bernadete divulgado na conferência Rio + 20, em: http://www.youtube.com/watch?v=P9JwaMBUSl8





terça-feira, 4 de junho de 2013

CRÕNICAS DO DIA A DIA

ESSA CASA SOU EU

        Não resisti a parodiar o rei, quando dia desses me peguei refletindo sobre a minha, a nossa casa, esse “melhor lugar do mundo”, que, querendo deixar, muitas vezes, nos prendemos.
       Que fique de fora, claro, qualquer pretensão de análise psicanalítica,  todavia, por vezes resvalo. Pois não é que os danados dos pensamentos surgem num instante qualquer devagarinho e passam a nos perseguir com tal constância, que, ah!, deixar de pudores e escrever sobre eles, é mesmo uma catarse.
        Assim neste período em que tenho cogitado bastante deixar meu canto e experimentar viver noutros lugares, embora já venha exercitando o desapego até com algum resultado,  me pego amarrada nesse espaço que não somente é meu: Sou eu. Pois nele estou toda e em cada canto.
         Que negócio difícil esse de tentar  reconstruir-se a partir de  estar em um novo lugar! Não serão apenas memórias,  (Ah Proust!). Como Cecília, pergunto por simples canteiros (“Quem me compra um jardim com flores? Borboletas de muitas cores, ... passarinhos,...?”). Tonta, ando a querer saber quanto isso vale. E me perco diante de uma razão sem lógica.  “E este sapo que é jardineiro? E a cigarra e a sua canção? E o grilinho dentro do chão?”.*
         - Claro que não! Não é sobre preço ou valor que  penso. Quanto valem os calos das mãos, a casinha da cachorra que já não  está?!. E o frio do  escritório, onde passei horas estudando estatística com  amigas que se mudaram? Se deixar meu canto, minha mesa, podem desprender-se de mim essas lembranças e não quero ficar sem elas. Ando pensando que se for embora, como quero, como preciso, vou ser mais depressa outra pessoa e não sei se desejo sê-lo, apesar de, mesmo aqui, ser inevitavelmente, outra a cada momento.  (Ah!, de novo, ah!, Hiroshima Meu amor!).
         Amiga do peito me diz: - desapego. Li essa cartilha, gostei dos seus ensinamentos e incorporei muitos deles, principalmente  depois de perder meu pai e minha irmã. Mas  beija-flores marrons me  visitam  de manhã e são Ana, magra, ágil, bonita e amante das flores que vem me dar bom dia, como me mostrou outra amiga,  generosamente espiritualizada e capaz de palavras tão consoladoras.
        ESSA CASA SOU EU. Pois fiz a escolha do lugar e o elegi por ter uma área de preservação ambiental em frente. Afinal sou do mato, (Ah, Juca Mulato! “Juca olhou a floresta: os ramos, nos espaços, pareciam querer apertá-lo entre os braços... Por isso o que vale ir fugitivo e esmo buscar a mesma dor que trazes em ti mesmo?”).**
          Desde o início houve um encantado encontro com a arquiteta que soube interpretar minhas buscas e  as  traduziu em varandas que dão para canteiros, cozinha grande e janelas generosas,  pisos fáceis de limpar e  diversos outros detalhes que requeri. Essa vivência também está em mim, e tornou-se gosto que, a partir da magnífica experiência de construir uma casa, não me largou mais e, certamente nunca me deixará.
          Tudo isso virou eu nesse tempo de antes e de agora. Ânsia  não,  apenas um desejo,  vem me falar da possibilidade de novos apegos em outros tempos e lugares e tenho ficado assim, assim, com vontade, mas sem saber.

Poemas citados disponíveis em:      
*  Leilão de Jardim:  http://www.revista.agulha.nom.br/ceciliameireles05.html#leilao