segunda-feira, 30 de abril de 2012

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO: confinamento, arte e loucura

Pobre, negro, nordestino e louco. É quase impossível acreditar que, no Brasil, alguém com esse perfil fosse capaz de se transformar num artista de vanguarda, respeitado não somente aqui, mas em boa parte do mundo. Arthur Bispo do Rosário nasceu no estado do Sergipe, porém não se sabe ao certo o ano. Alguns registros datam de 1909, outros de 1911. Por volta de 1938, perambulava pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Em 1939, detido pela polícia deu entrada na Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, como um indigente. Sabe-se que antes disso já havia passado em pelo menos um outro manicômio. Permaneceu internado como louco por praticamente toda a vida. Muitas vezes violento, consta que se recusava a receber tratamentos médicos. Vivia praticamente isolado numa cela onde produziu todo o seu acervo, do qual não gostava de se afastar. Seus primeiros trabalhos artísticos tiveram inicio em 1939 e ele criou até a sua morte, cinqüenta anos depois. Suas obras eram feitas a partir de materiais improvisados ou recolhidos no lixo. Produziu bordados, colagens, esculturas, instalações e outras peças difíceis de serem classificadas. Em seus delírios afirmava que recebeu a missão de recriar o mundo para apresentá-lo a Deus no dia do Juízo final. Desfiava seu uniforme de interno e lençóis do manicômio para conseguir linhas para bordar mantos, fardões e estandartes. Seu manto da apresentação é uma peça magnífica, do lado direito um emaranhado de símbolos e cores. O forro é uma espiral de bordados com nomes de mulheres. Para as instalações e esculturas utilizava sucatas que ia encontrando pelo lixo, - chinelos, escovas de dentes, canecos, pedaços de bonecas, garrafas plásticas, rodos e vassouras - e mais uma infinidade de quinquilharias que ia organizando e, com as quais, compunha suas produções. A criação de suas obras era, segundo ele, orientada por uma voz. Dizia que quem fazia as peças não era ele, era a voz. Há disponível na internet um documentário bacana apresentado por Fernando Gabeira, com imagens do artista no manicômio, onde ele é entrevistado e mostra parte do seu trabalho. Em 1982 suas obras participaram da exposição A Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, única ainda em vida. Em 1995, Bispo do Rosário representou o Brasil na Bienal de Veneza, e, de lá pra cá participou de diversas mostras e exposições internacionais, como a Bienal de Lyon e mostras na Bélgica e na Espanha. Ele foi também um dos principais destaques da 30ª Bienal de São Paulo, em 2011. A antiga Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, onde viveu confinado como outros doentes mentais e permaneceu até a morte, foi transformada em museu que leva o seu nome. Bispo do Rosário rompeu com alguns paradigmas: elevou o bordado à condição de arte; influenciou uma geração de artistas que lhe sucederam; e, sendo pobre, negro, nordestino e louco, demonstrou que o processo criativo não respeita rótulos.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ioga é Tudo de Bom

Que tal se exercitar e, ao mesmo tempo melhorar sua concentração, reduzir o estresse, obter benefícios à saúde e se tornar uma pessoa mais calma, equilibrada e em harmonia com o mundo? Pois a Ioga, uma técnica milenar muito difundida em todo o mundo, é capaz de proporcionar todos esses benefícios. Leia mais sobre a Ioga e seus benefícios em Tudo de Bom.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A PELE QUE HABITO – O Almodóvar de sempre: ousado, polêmico, intenso.

Coragem e ousadia, marcas de Almodóvar, aparecem novamente em A Pele que Habito. Trash em sua origem, o diretor amadureceu mantendo suas temáticas preferidas: sexualidade, gênero, relações familiares obsessivas e neuróticas. Agora sem a ostensiva presença das cores fortes, também marca registrada de seus filmes, Pedro Almodóvar nos traz uma história bem mais bizarra do que havia apresentado até agora. Baseou-se em um romance francês para contar a saga de um médico cirurgião-plástico, totalmente desprovido de escrúpulos e obcecado por vingar as mortes da esposa e da filha, ambas em situações violentas.
Sem receio de ser polêmico, nem de criar indisposição com setores mais conservadores da sociedade, aborda com freqüência tabus como incesto, educação religiosa, amores homossexuais. Agora tangencia o universo da ficção científica e das pesquisas médicas, mantendo, como em boa parte de seus outros filmes, a loucura, como marca registrada do personagem principal.
Mas a maior ousadia nesse seu último filme foi, em minha opinião, a de voltar a ser trash, como em sua origem. No filme, aquela pele picareta, totalmente artificial, o espartilho que molda o corpo feminino no curto prazo, os laboratórios e materiais de pesquisa, tão ostensivamente falsos e a equipe médica fajuta que aceita todas as propostas do Dr. Robert sem questionar, não nos deixam esquecer, em momento algum, que estamos assistindo um filme.
Na maior parte das vezes capaz de deixar sua platéia entusiasmada, - Abraços Partidos é uma das exceções -, diante de A Pele Que Habito não há como ficar indiferente. Amamos ou odiamos suas cenas fortes, de muito suspense, a adrenalina a mil. Mesmo que pareça ter feito pouco esforço para isso, o diretor nos envolve plenamente. Esse é Almodóvar.
Como se pudéssemos imaginar que após Dom Quixote, Miguel de Cervantes fosse capaz de escrever algo melhor, esperamos sempre mais daqueles que sabemos gênios. Mas, depois de A Lei do Desejo, Volver e Fale com Ela, era mesmo difícil o diretor se superar, embora nós, seus fieis escudeiros, estejamos sempre esperando por isso, em seus novos lançamentos.
Enfim, mesmo inesperado e surpreendente, A Pele que Habito é um dos seus filmes menores: Almodóvar é melhor quando conta suas próprias histórias.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

LUA QUASE CHEIA

Thiago de Mello selecionou, traduziu e fez as notas do lindo livro “Poetas da América de canto castelhano”. O poema a seguir é de Alfonsina Storni, poetisa argentina, ainda pouco conhecida por aqui.

LUA

Alfonsina Storni

Hoje me espia a lua
branca e desmesurada.

É a mesma lua de ontem
A mesma de amanhã.

Mas é outra, que nunca
Foi tão grande e tão pálida.

Tremo assim como as luzes
Estremecem nas águas.

Tremo como nos olhos
Sabem tremer as lágrimas.

Tremo como nas carnes
Sabe tremer uma alma.

Oh! A lua moveu
Seus dois lábios de prata.

Oh! A lua me disse
As três velhas palavras:

“Morte, amor e mistério”...
Minhas carnes se acabam.

E sobre as carnes mortas
A minha alma se arqueia.
Alma, gata noturna,
Salta por sobre a lua.

Vai pelos céus, compridos,
Triste, toda encolhida.

Vai pelos longos céus,
Vai sobre a lua branca.

(Mello, Thiago de. [Seleção, tradução e notas]. Poetas da América de canto castelhano. São Paulo: Global, 2011, p. 25).
(De la inquietud del rosal, 1916)