segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

CRÔNICAS DO DIA A DIA - TODA HORA É HORA DE FALAR DE POLITICA


Nas redes sociais não são poucas as pessoas que estão dizendo, diante da tragédia ocorrida em Brumadinho, que não é o momento próprio para falar de política. Só com muita paciência e com uma enorme crença na força do diálogo, para não virar as costas e desistir dessa gente. O momento é trágico. A irresponsabilidade e a ganancia de uma empresa acabaram com centenas de vidas humanas e colocam em risco mananciais de água e outros biomas importantes para a preservação do planeta.  
Não há momento mais oportuno para reflexão, especialmente para aqueles que vivem defendendo o estado mínimo, sob o argumento, jamais comprovado, de que a gestão privada é mais efetiva do que a gestão pública. A mineradora responsável pelo crime de Brumadinho e também pelo de Mariana, já foi uma empresa estatal lucrativa e benéfica para o Brasil. Por ter como atividade principal a exploração de recursos minerais, questão estratégica para qualquer país que se preze, seria natural que continuasse sendo gerida pelo poder público, mesmo como uma instituição de economia mista, com participação da iniciativa privada; mas preservando-se o controle do capital e o poder de decisão nas mãos do estado.
Ao que se sabe, enquanto foi gerida pelo governo, a mineradora originalmente chamada Vale do Rio Doce, jamais provocou mortes e desastres ambientais comparáveis ao de Mariana e Brumadinho. Ou melhor dizendo, jamais praticou crimes dessa dimensão!
Assim sendo, este é sim o momento exato para falar de política. É ocasião mais que oportuna para refletir, por exemplo, sobre as propostas de flexibilização de leis ambientais!
Ainda mais necessário, é incluir nas discussões o tema das privatizações de áreas e setores fundamentais para a vida do povo, como saúde, previdência, educação e segurança.
Seria razoável entregar a gestão de nossa aposentadoria, por exemplo, a empresas que visam somente o lucro? Até que ponto o tão propalado déficit dos sistemas de previdência pública (incluindo-se o sistema geral, INSS, e os regimes próprios, tanto o federal quanto os estaduais e municipais), não são frutos de pressões e interesses de bancos que querem abocanhar esse filão de negócios, para engordar ainda mais seus já exorbitantes lucros?
Não poderíamos dizer o mesmo de empresas privadas e lucrativistas, almejando abocanhar cada vez maior quinhão da saúde, acabando com o SUS?
É preciso questionar também a quem importa que a educação e a segurança sejam entregues ao capital privado. Quem sai ganhando quando temos um país com tão baixos índices de desempenho na área da educação? Ou dito em outras palavras: a quem interessa que o povo seja cada vez mais ignorante e consequentemente mais fácil de ser explorado e manipulado?
Nesse momento tão triste em que nos sentimos impotentes e deprimidos, podemos por exemplo, pensar também sobre o papel de outras instituições, como as igrejas e organizações do terceiro setor. Muitas dessas, ao invés de engajarem-se em uma atuação política firme em favor dos pobres e do meio ambiente, preferem encabeçar campanhas assistencialistas que apenas amenizam e momentaneamente a dor e o desamparo das famílias alcançadas pela tragédia.
Mariana chora: Bordado sobre lenço 
Para além das perdas imediatas de tantas vidas humanas, há consequências difíceis de serem medidas com precisão, como o alcance dos danos provocados à saúde das pessoas que vivem no entorno dos locais onde as ocorrências se deram. O desastre de Mariana atingiu e prejudicou a vida e o equilíbrio ecológico de regiões distantes, estendendo suas funestas consequências às praias do Espírito Santo e provavelmente de outros estados. 
Agora o rompimento da barragem em Brumadinho já provoca danos de consequências ainda mais drásticas. Além da dolorosa perda de centenas de vidas, os rejeitos do rompimento da barragem já alcançam o rio Paraopebas  e a previsão é que, em cerca de quinze dias, chegarão ao Rio São Francisco, que corta diversos estados, além de Minas Gerais.
O Greenpeace uma das maiores organizações mundiais em defesa do meio ambiente afirma: "Este novo desastre com barragem de rejeitos de minérios, desta vez em Brumadinho (MG), é uma triste consequência da lição não aprendida pelo Estado brasileiro e pelas mineradoras com a tragédia da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), também controlada pela Vale. Minérios são um recurso finito que devem ser explorados de forma estratégica e com regime de licenciamento e fiscalização rígidos. A reciclagem e reaproveitamento devem ser priorizados. Infelizmente, grupos econômicos com forte lobby entre os parlamentares insistem em querer afrouxar as regras do licenciamento ambiental, o que, temos alertado, significaria criar uma 'fábrica de Marianas'. Casos como esse, portanto, não são acidentes, mas crimes ambientais que devem ser investigados, punidos e reparados."
Por favor, vamos ter um mínimo de bom senso e descartar esse discurso de que não é momento para falar de política.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

MEU TRAVESSEIRO

Travesseiro do enxoval de minha mãe

Somente a ti confesso todo o medo
Diante dessa ausência de respostas
Onde qualquer vida, dura apenas um instante.
E cada fato, mesmo que transborde em plenitude,
Segue peregrino para a inevitável indiferença
Rumo às sombras no desfecho previsível.

Tento acreditar que possuo o silêncio da noite,
Poço fundo onde lanço inúteis murmúrios
Invocando céus, que se existem, não consolam.
Passo  horas esperando por improvável socorro
Ansiando por um amor que seja capaz de erguer
Meu corpo, a partir de olhares e cumplicidades.

Estou sozinho a errar mais uma vez.
Supondo poder mudar, estando atado
Nesse curto instante de ilusória existência.
A enganar-me preso no espaço incontrolável
Sem voz nem vontade. Imerso nos ruídos
Que zumbem frenéticos em meus ouvidos.