sexta-feira, 29 de agosto de 2014

RESENHAS



SENDO A LITERATURA UM DOS MEUS AMORES INCONDICIONAIS, QUANDO INAUGUREI O BLOG ME PROPUS A FALAR DESSE TEMA. AGORA, REVENDO ALGUNS ESCRITOS, PERCEBO QUE TENHO COMPARTILHADO POUCO OU QUASE NADA DESSA MINHA GRANDE PAIXÃO. É TEMPO DE RESGATAR E, A PARTIR DE AGORA, VOU POSTAR POR AQUI RESENHAS DE LIVROS QUE JULGO QUE VALEM A PENA SEREM LIDOS. COMO NOS ÚLTIMOS TEMPOS ANDO ENCANTADA PELA LITERATURA LATINO AMERICANA, ACHEI BACANA COMEÇAR PELO ESCRITOR URUGUAIO MÁRIO BENEDETTI, UMA DAS MINHAS BOAS DESCOBERTAS MAIS RECENTES.


QUEM DE NÓS - Mário Benedetti

Depois de outras incursões pela obra do autor, agora sim, descobri o Mário Benedetti, escritor aclamado pela crítica e pelo público como um dos maiores representantes da poética latino americana atual. Em Quem de nós, os personagens Miguel, Alícia e Lucas formam um provável (talvez apenas imaginário), triangulo amoroso. Miguel e Lucas são amigos e, morando em cidades diferentes,  trocam cartas. Miguel e Alícia são marido e mulher. Alícia tem muito mais em comum com Lucas. Miguel está certo disso e, em sua correspondência com o amigo, nunca deixou de transmitir as lembranças enviadas por sua mulher.
O que me encantou no livro? A escrita enxuta, o estilo irônico, ou seria amargo? Talvez melhor seja dizer, debochado. “De modo que, perdida a esperança de me achar inteligente, ou apaixonado, resta pelo menos a presunção de saber sincero. Para isso comecei estas anotações, nas quais castigo a minha mediocridade com meu próprio e objetivo testemunho. É certo que o mundo está cheio de vulgares, mas não de vulgares que se reconhecem como tais. Eu me reconheço.” (p. 14), ou ainda: “Alicia e eu perdemos a graça, perdemos aquele tipo de cegueira que o amor concede quando nos inaugura. Faz muito tempo que somos lúcidos e desgraçados.” (P. 45). E, delícia das delícias em um livro, encontrar uma frase que se acredita tenha sido escrita para nós: “...ela é Maria, tem nome de virgem mas gosta de tangos, de homens e de poesia.” (p. 73). A riqueza das notas de rodapé, um luxo, como esse da de nº 27: “Essa variz, que coisa absurdamente triste. O pior é que não sinto compaixão por Alícia: sinto pena de mim, deste meu tempo inexoravelmente limitado por uma manchinha violácea e indecorosa.” (p. 79). Magnifico, encantadoramente simples, literatura da melhor qualidade. Enfim, um livro imperdível.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

TERCEIRIZAÇÃO OU PRECARIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO?

Neste semestre, com muito orgulho fui escalada para ministrar a disciplina Administração de Recursos Humanos, área com a qual tenho muita afinidade, alguma formação e larga experiência. Ensinar em escolas de nível superior é um desafio enorme. Na graduação  ficam evidentes as deficiências e precariedades do ensino fundamental e médio, bastante generalizadas país afora. Uma das mais evidentes é a limitada capacidade de reflexão dos estudantes.
Dia desses, expressei aos alunos  que o meu grande desejo, ou melhor, meu objetivo,  não é o de repassar-lhes técnicas e métodos de recrutamento, seleção, cargos e salários e outros tópicos inerentes ao programa da disciplina, mas sim, incentivá-los a refletir e a desenvolver um pensamento crítico a respeito do que é  publicado  em livros, revistas e, especialmente, em sítios na internet.
O campo da Administração é repleto de modismos. Infelizmente alguns autores e pretensos intelectuais da área não raramente assumem posição de defendê-los e replicá-los, apresentando-os, por vezes, como soluções milagrosas para os incontáveis desafios da gestão das organizações.
Há alguns anos os textos de administração, de maneira geral, têm apresentado o processo de terceirização como o milagre da vez. Felizmente, nas áreas do Direito e da Sociologia principalmente, tem aparecido vozes dissonantes, lembrando que toda vez que a concorrência aumenta e os lucros tendem a diminuir, empresários de maneira geral,  reagem com propostas de redução de custos, que atingem direitos dos trabalhadores, como é o caso da terceirização.
Essa, em muitas situações, não passa de mera intermediação de mão-de-obra, destinando a empresários parte dos recursos que deveriam ser direcionados ao pagamento do trabalhador. Os efeitos são, quase sempre, deletérios sobre as condições de trabalho.
Juízes do trabalho têm considerado que a terceirização é uma forma selvagem de precarização das relações de trabalho. Segundo o Dr.  Grijalbo Fernande Coutinho, Presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, “A terceirização tem dois propósitos muito evidentes: o econômico e o político. Sua razão econômica é permitir aos patrões a diminuição de custos com a exploração da mão de obra. Vários argumentos são usados no sentido de que se trata de especialização, de racionalização, mas tudo isso é secundário. A outra razão  é a de cunho político. Nesse ponto o objetivo é dividir os trabalhadores, fragmentá-los, especialmente em suas representações sindicais”. Para ele, a terceirização é um duro golpe contra direitos do trabalho,  conquistados por trabalhadores em sua história de lutas, desde o fim da escravidão.
              Uma amiga, assistente social e  trabalhadora do setor da saúde, lembra que, ainda dentro do propósito político e, no caso de instituições públicas, há a vertente politiqueira, que usa a terceirização para contratar apadrinhados sem precisar submetê-los a concurso público, garantindo um contingente de pessoas que são utilizadas como massa de manobra. 
O golpe da terceirização aparece sob diversas faces. Observe-se, por exemplo, o que vem acontecendo em bancos oficiais. Delegam-se às Casas Lotéricas e Pag-Fácil, geralmente pequenas lojas comerciais com pouca ou nenhuma estrutura de segurança, os serviços de menor complexidade como pagamentos de contas e boletos, retiradas de saldos e saques. As pessoas que trabalham nessas empresas recebem salários baixíssimos e, geralmente, não possuem quaisquer benefícios adicionais. No entanto, prestam serviços similares aos dos bancários que, por serem uma categoria de trabalhadores organizada e detentora de direitos duramente alcançados,  no geral, atuam sob melhores condições, auferindo salários mais respeitosos e possuindo, em grande parte das vezes, benefícios complementares importantes, patrocinados pelos bancos.
Tal situação, embora não caracterize uma terceirização expressa, pois os funcionários das lotéricas não trabalham “dentro” dos bancos, como a maioria dos trabalhadores terceirizados, constitui forma de gerar economia para essas organizações, enquanto  submete os trabalhadores a condições precárias de trabalho.
Convidando meus alunos a refletirem sobre os processos de terceirização, creio tê-los incentivados a ficarem mais atentos ao discurso prevalecente,  repetido por livros, revistas de negócios e outros meios de comunicação. Ao trazer o tema ao blog, estendo aos meus leitores o convite à reflexão sobre o assunto, mostrando um pouquinho do outro lado da moeda, geralmente excluído da literatura da administração.

É possível ver mais sobre o assunto em:


http://www.trt4.jus.br/portal/portal/trt4/comunicacao/noticia/info/NoticiaWindow?action=2&destaque=false&cod=804550

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

OLHA PRO CÉU MEU AMOR...

O céu neste agosto frio está encantador. Quem, como eu, gosta de admirar as noites claras está tendo motivação adicional nesse período. Ontem, noite de lua cheia, ocorreu o fenômeno chamado de Super lua, momento em que o nosso satélite encontra-se mais próximo da terra. Mas, ainda hoje, a danada tá bonita de fazer chorar.
Lua cheia de ontem: Super lua - Foto de Rosilene Salomé

Teremos, segundo os entendidos, outras super luas no ano, como a que está prevista para o próximo 08 de setembro, no entanto, essa  de ontem, foi a maior delas.
Fenomenal Super lua - Foto de Rosilene Salomé

Outro bonito fenômeno astronômico dessas noites, visível a olho nu e possível de ser observado, em noites limpas,  são as estrelas cadentes, ou chuva de estrelas fugazes.
O Google dedicou seu doodle de hoje à chuva de meteoros, chamadas perseidas. Conhecido no hemisfério norte como lágrimas de São Lourenço, o fenômeno astronômico das perseidas distribui-se nos meses de julho e agosto e, segundo especialistas da área, terá maior concentração entre a noite de hoje e a da próxima quarta feira, dia 13 de agosto.  O fenômeno é produzido pela passagem da terra por trilhas de detritos e poeira cósmica deixados por corpos celestes como os cometas, em sua órbita.
Felizmente nesses dias o céu está limpo, praticamente sem nuvens, o que favorece a observação e contemplação desses fenômenos bonitos e instigantes.
Apreciar o céu é sempre uma beleza. Contemplá-lo com calma e serenidade é um privilégio do qual poucas pessoas ainda usufruem, devido à correria  e ao cansaço decorrentes de uma vida muito atribulada.
Nesses dias de fenômenos menos frequentes, mais que nunca, vale o convite do poeta: olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo...

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sábado, 2 de agosto de 2014

FIM DAS FÉRIAS: DESAFIOS NOVOS

Já disse aqui em texto intitulado “A difícil e delicada arte de gerenciar pessoas”, o quanto é complicado exercer funções relacionadas a essa área.
Depois de trabalhar um bom tempo com gestão de recursos humanos, agora estou encarando um desafio ainda maior: ensinar na faculdade a disciplina Administração de Recursos Humanos.
Não vou dizer que ando perdendo o sono por causa disso, porque não seria verdadeiro. Tenho dormido muito bem, graças a Deus, e às  custas das caminhadas e da ioga. Mas que estou apreensiva, não nego. Ando debruçada em cima de vasta literatura, revirando experiências, enfim, buscando me preparar um pouquinho para apresentar um trabalho digno. Meu maior desejo é, acima de tudo, despertar nos estudantes a curiosidade e a sensibilidade por essa área, ainda tão pouco valorizada, mas que é a alma das organizações.
Preparando: muitos livros para consultar
Se considero difícil trabalhar na área, o que pensar  da tentativa de preparar pessoas para atuarem como futuros gerentes e dirigentes de Recursos Humanos? Posso prever, antes de iniciarem as aulas, que o mais complicado não será apresentar-lhe métodos e técnicas de gestão de pessoas, mas despertar o interesse a sensibilidade desses meninos ainda tão jovens e inexperientes para uma área tão complexa.
Tudo poderia ficar mais simples seu eu assumisse esse discurso fácil que povoa boa parte da literatura atual da área, infestada por manuaizinhos de autoajuda daqueles que oferecem respostas fáceis e rápidas para problemas de elevada dificuldade.
Recuso-me valentemente a adotar essa conduta, acreditando, cada vez mais, na riqueza de possibilidades gerada por uma interação bacana entre professor e estudantes. Esta, quando praticada a partir de intensa troca de experiências e percepções, e ancorada nos estudos e teorias consolidados na área, torna  possível estimular um ambiente de inquietação e interesse, base para o início de um processo dinâmico de aprendizagem.  
Frio na barriga, sim, desânimo, nenhum. Trabalho pouco, para dar conta de  manter a motivação elevada, nos momentos mais desafiadores. Assumir essa disciplina contribui para a minha busca por maior diversidade no trabalho.