quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

ADMINISTRAÇÃO: O Futuro da Gestão de Pessoas


Dentro do programa da disciplina Administração de Recursos Humanos somos convidados a discutir sobre o futuro da gestão de pessoas. Quase sempre me posiciono “com um pé atrás” diante dos diversos ensaios, artigos e previsões que surgem nos livros, revistas e na internet fazendo conjecturas sobre esse tema. Vejo com certa reserva previsões e prognósticos a respeito do futuro de qualquer área, por mais que a ciência tenha avançado em termos de predição e previsão de fenômenos.
Costuma-se falar muito em tendência mundial. Como se o mundo fosse um ovo e o que acontecesse em um país ou região tivesse, obrigatoriamente, que ocorrer em outras partes do planeta. Nada mais inadequado do que fazer generalizações, em um mundo, felizmente, ainda diversificado.   
Ao mesmo tempo em que se  observa, em países desenvolvidos ou em  desenvolvimento,  tendência de fortalecimento das grandes corporações e  de seus impactos sobre a vida de maneira geral, por outro lado, mesmo em países altamente evoluídos nota-se, por exemplo certo retorno a hábitos e costumes considerados provincianos. Enquanto entre a população das megalópoles, o consumo de industrializados é habitual e sua aquisição é feita geralmente em hipermercados, onde se vende desde o pão ao automóvel, boa parte da população da Holanda e da Alemanha, por exemplo, nos dias de hoje, consume produtos orgânicos feitos em pequena escala  e distribuídos em simples mercados e feiras de bairros.
Ainda assim, observamos processos que parecem sem volta. Por exemplo: a produção de maneira geral tende a ser feita com uso de alta tecnologia; a automação é um caminho consolidado, principalmente em atividades que envolvem esforço físico e dispêndio muscular elevado. Trabalhos  insalubres e perigosos serão, cada vez mais, efetuados com o auxílio de máquinas e robôs.
Trabalhadores estarão cada vez mais capacitados e bem informados.  Como tal, a tendência é que sejam também mais exigentes em termos de respeito aos direitos e condições de trabalho, e à qualidade das relações humanas. A internet, a conexão global e a comunicação em tempo real, paulatinamente vão “dando voz às pessoas”, democratizando as informações e possibilitando visibilidade e controle social sobre ações de organizações, grupos econômicos e decisões arbitrárias de forma geral.
Para que isso efetivamente aconteça e as liberdades individuais sejam respeitadas, torna-se necessário que as pessoas sejam cidadãos não somente bem informados, mas com pensamento crítico e não suscetíveis a se tornarem massa de manobra da mídia e do marketing, ferramentas cada vez mais eficazes na manipulação de desejos e pensamentos das pessoas. Neste sentido vale a pena retomar alguns pontos do pensamento do grande educador brasileiro, Paulo Freire:


"O discurso da globalização que fala da ética esconde, porém, que a sua ética é a ética do mercado e não a ética universal do ser humano, pela qual devemos lutar bravamente se optamos, na verdade, por um mundo de gente”

"A liberdade de comércio não pode estar acima da liberdade do ser humano".  “Para que tenhamos um homem autônomo, a liberdade e a dignidade humana não podem ser desrespeitadas ou esquecidas em favor dos interesses de grupos econômicos”.

Quando adota inteiramente as práticas e o tipo de personalidade que lhe são oferecidos pelos padrões culturais vigentes e predominantes, o indivíduo deixa de ser ele mesmo,  passando a agir orientado pelo que faz a maioria, sem refletir sobre as razões de sua conduta.
Esse é o  comportamento esperado pelas grandes corporações, movidas, na maioria das vezes, apenas pelo desejo de lucrar cada vez mais. A acriticidade leva  as pessoas a  serem facilmente transformadas em “massa de manobra”, dominadas pelo consumismo desenfreado, tal como os detentores do capital desejam. Você já ouviu falar de obsolescência programada? Sabia que grande parte da indústria atualmente faz produtos com prazo de duração pequeno, para fomentar  mais consumo? Já pensou onde vai parar todo o lixo, resultante do descarte cada vez mais veloz de produtos que poderiam ainda estar em uso?
Na disciplina Administração de Recursos Humanos estudamos  técnicas e aprendemos  métodos que, aplicados ao contexto das organizações, podem melhorar a sua efetividade e favorecer a obtenção de resultados mais favoráveis. Não podemos esquecer, no entanto, que estamos falando de gente; organizações, como todas as demais ações humanas, somente farão sentido se for para melhorar a vida do maior contingente possível de pessoas, sem lhes retirar a individualidade, nem desrespeitar suas crenças e valores. A diversidade cultural  é nossa grande herança,  o que nos faz mais ricos e interessantes. Quando nos tornamos “massa de manobra” perdemos essa grande possibiidade.
O  desafio do futuro da gestão de pessoas? - Favorecer um ambiente que valorize as diferenças, permita  convivências  em harmonia, e que indivíduos, enquanto trabalhadores em organizações, consigam preservar, mesmo que em parte,  sua diversidade e autonomia.
Ser gestor em um ambiente dominado por normas e padrões de comportamento rígidos e previamente determinados, não é difícil. Quanto mais se “robotiza” o sujeito, permitindo-lhe apenas assumir condutas e comportamentos  planejados e sancionados pela organização, mais fácil se torna, porque mais previsível. Dessa forma, lidar com pessoas deixa de ser “andar em campo minado”, tornando-se ação rotineira e passível de ser replicada.
Ao contrário, caso prevaleça a humanidade, a possibilidade do exercício das diferenças e a  perspectiva de cada empregado fazer uso de sua iniciativa  e criatividade, trabalhando com autonomia, que é, afinal, o desejo de cada um de nós,− nessa hipótese,  −  creio ser possível prever que a gestão de pessoas será cada vez mais desafiadora. É enganoso imaginar que possa ser  tarefa simples, conciliar os  conflitantes interesses entre o capital e o trabalho. 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Caminhada com Amigos

Geralmente andar a pé faz parte do repertório de pessoas que, como eu, nasceram e viveram boa parte de sua infância no meio rural.
Particularmente, cultivo certo fascínio por andanças, tenho, não apenas curiosidade, mas admiração por andarilhos e caminhantes de maneira geral. Em minha infância andava a pé alguns quilômetros para ir à escola, à casa de avós e outros parentes. Desde cedo, fazia desse modo, deslocamentos em distâncias consideráveis, para ir à cidade e quando saí da roça, vim caminhando com parte da família, já que não cabíamos todos na boleia do caminhão que trouxe a mudança. Depois, comecei minha carreira como professora no meio rural e percorria, diariamente, os doze km que compreendia o deslocamento de ida e volta para o trabalho.  Esse meu primeiro emprego durou pouco e seria até natural se, em seguida, eu não gostasse de caminhar, já que tive de fazê-lo por obrigação, durante boa parte da vida. Ainda o faço, hoje, por recomendação médica.  
Desenvolvi, no entanto, como disse, um gosto acentuado por caminhadas e trilhas, sentindo certa necessidade de sair andando em momentos em que me encontro muito aflita e, ou desesperada. Coisa de doido mesmo, eu sei. A maior parte deles adora andar.
Assim, sempre que posso vou fazer uma trilha. Em praias nunca perco a oportunidade de caminhar bastante e costumo dar preferência àquelas  que favorecem essa prática. Desde pequenas minhas filhas faziam-me companhia nessas andanças. Depois a mais velha perdeu um pouco o gosto. A  caçula, ao contrário,  apaixonou-se por caminhadas a pé. Acredito que, um pouco também, por ter escolhido o curso de Biologia, tornou-se  minha companheira de muitas  trilhas. Em outras tive a companhia de meus irmãos, cunhadas e sobrinhos. Sempre considero essas oportunidades momentos preciosos de contemplação da natureza e de integração.
Trepadeiras diversas
Mini orquídeas
Agora, neste carnaval, combinei uma trilha com amigos. Fomos ao Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB), que fica bem próximo e que eu praticamente não conhecia. Por sugestão deles, fizemos a trilha ao Pico do Boné, que fica no município de Araponga. Embora não seja o mais alto, é o mais famoso do parque e, provavelmente, o mais visitado. Possui 1.870 m de altura e temperatura amena, ficando, em grande parte do tempo, coberto por neblina.
Cachoeiras


Canteiro de musgos
Bromélias

Visão espetacular


Sauá - Foto: Mário Henrique Macedo
Amigos - Foto: Mário Henrique Macedo
A vegetação é típica da Mata Atlântica e, embora na maior parte da área do parque tenha sido degradada, para exploração do carvão, felizmente está se recompondo, a partir da transformação do local em área de preservação. No parque há inúmeras nascentes, diversas cachoeiras e afloramentos rochosos de grande beleza. A área é rica em espécies vegetais de porte variado indo de cedro, quaresmeiras e fedegosos de tamanho considerável a bromélias, orquídeas e trepadeiras, entre diversas outras espécies ornamentais. A fauna é bastante variada, embora algumas espécies tenham entrado em processo de extinção. Felizmente ainda persistem macacos como o sauá, o mono-carvoeiro e o muriqui, e também a onça-pintada e a jaguatirica, entre outros. Aves existem em profusão, desde a Araponga que dá nome ao local, ao papagaio do peito roxo e ao pavó. Percorrendo as estradas de terra cruza-se com seriemas e a trilha toda é pontuada pelo cantar de passarinhos diversos.
Fazer a trajeto com amigos foi uma experiência inesquecível. Cumprir juntos um percurso de mais de três horas de subida e de mais de duas para descer transformou-se em momento precioso de convívio e cuidados recíprocos.  Seis horas é tempo bom para colocar o papo em dia. Escorregões, tombos e outros acidentes sem significância transformaram-se em momentos para dar boas risadas.
Não podia ter havido remédio melhor para quem, como eu, estava precisando de algum recurso para espantar a  tristeza.
O sossego do hotel, o cansaço e a emoção por ter cumprido com galhardia noventa e nove por cento do percurso, inspiraram-me a escrever um poema que compartilho com vocês, juntamente com o convite para conhecer o PESB e suas diversas atrações.

Trilha ao Pico do Boné

Fazenda do Seu Dico,
Cafezais e morros,
Cerca de arame,
Passa Um.

Samambaias,
Samambaiaçus.
Imbaúba
Pequena: roxa;
Grande: prateada.
Mistérios da natureza
Por desvendar.

Muriquis e Bromélias
Canto de passarinhos
Quaresmeiras
Água limpa correndo
Fresca.
Cachoeiras.

Musgo, musgo, musgo,
Tropeços, tombos,  trovão
Chuva de leve
Pedras na trilha
Limo no chão.
Escorregão.

Tronco caído
Travessia, pinguela
Risada de amigos
Exaustão.

Mirante, cordilheira
Entrando nas nuvens
Subida sem fim
Cajado bem firme,
Calos na mão.

Cadeia de fedegosos
Brincos de princesa
Orquídeas, austromélias
Pedras, pedras, pedras.
Comemoração.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

ADMINISTRAÇÃO - Revisitando o tema da Gestão de Pessoas

A DIFÍCIL E DELICADA ARTE DE GERENCIAR PESSOAS

A disciplina Administração de Recursos Humanos, ou Gestão de Pessoas é constituída por um conjunto de teorias, técnicas e métodos  aplicados às organizações e  formam o campo de conhecimentos da área. No entanto, lidar com pessoas é bastante complexo e envolve uma amplidão de aspectos difíceis de serem plenamente alcançados em apenas uma disciplina. Assim, conhecimentos, teoria e técnica, nesse campo, possuem aplicações limitadas.
Ao refletir sobre essa área e, claro, ao atuar nela, é inevitável que apareçam, inseguranças, anseios e dúvidas. Afinal, estamos lidando o que há de mais precioso e complexo na natureza – o homem. Via de regra, essa é a postura daqueles que se aprofundam  nesse universo mais que desafiador: compreender e relacionar com gente, em especial, no âmbito das organizações que, na maior parte das vezes, constroem ambientes competitivos, inseguros e estressantes. Alinhamo-nos entre aqueles que reconhecem as dificuldades da gestão de pessoas e entendem o tamanho do desafio que ela representa -  o que  não significa que   desprezamos  técnicas, conceitos, métodos e teorias. Ao contrário, valorizamos bastante o que está nos bons livros, nas revistas sérias e em alguns sítios da internet.
Existe um recorrente debate em torno da polêmica: administração é uma ciência, um conjunto de técnicas ou uma arte? Deixemos a questão de lado. Partimos do pressuposto de que a administração e, especialmente a gestão de pessoas, sejam tudo isso ao mesmo tempo e que esses campos do conhecimento não podem ser facilmente definidos e rotulados. E que ciência e arte não sejam polos excludentes. 
Lembramos que até mesmo a mais pura arte, que existe sem pretensão de resolver problemas práticos da vida humana, não prescinde de técnicas e conhecimentos. A administração, em todas as suas especialidades, utiliza-se de um vasto conjunto de métodos e processos, desenvolvidos e testados, especialmente ao longo dos últimos 150 anos e que, quando aplicadas em contextos específicos, costumam melhorar significativamente o desempenho das organizações. No entanto, torna-se cada vez mais difícil, alcançar essa melhoria de desempenho, baseando-se apenas em teoria e técnica. Tem sido necessário adicionar intuição, sensibilidade, boa fé, empatia e disposição para comunicar-se permanentemente, visando não somente o desempenho organizacional mas a qualidade de vida, a dignidade e o bem-estar das pessoas.
Cada dia mais, a Gestão de Recursos Humanos tem se tornado o grande desafio das organizações modernas. Sendo a nossa sociedade, uma sociedade de organizações e estas constituídas por pessoas, reconhece-se cada vez mais, a importância da área. Como se sabe, pessoas são todas diferentes e, no geral, apreciam ser tratadas de maneira diferenciada. Já organizações, para funcionarem, necessitam de um mínimo de previsibilidade. As normas, as regras, os disciplinamentos internos, até mesmo a cultura organizacional, existem para conseguir esse intento. 
Dois grandes estudiosos da psicologia social das organizações nos alertam: “... o uso de sistemas de papel como dispositivo racional para lidar com todos os problemas [da atualidade das organizações burocráticas] tem-nos permitido certas eficiências, mas às expensas de algum empobrecimento das relações pessoais e da perda da auto identidade” (KATS; KAHN, 1976, p. 515). Dessa forma, cada vez mais, somos levados a crer que, muito além da técnica, a gestão de pessoas precisa ser vista também em sua dimensão de arte, envolvendo criatividade, inovação e muita diversidade.
Como nos revelou Nietzsche, “ [a arte] ... é a grande possibilitadora da vida, ... o grande estimulante da vida. A arte existe para que a realidade não nos destrua". Portanto, sensibilidade,  talento, criatividade e tantas outras dimensões humanas,  comumente ignoradas e até evitadas no mundo empresarial, são, a nosso ver, aspectos importantes na gestão de pessoas, neste cada vez mais difícil e complexo mundo moderno. A vida em sociedade demanda muito mais do que razão, conhecimento e técnica e, para que sejam respeitadas, as relações humanas necessitam ser orientadas por um modo de agir e pensar pautado pela regra de ouro filosófica: “não fazer aos outros aquilo que não gostaria que lhe fizessem”.
Tal regra, quando praticada constantemente pode  minimizar os conflitos, o stress e a dificuldade de conciliar percepções e interesses, tão próprios da nossa conturbada atualidade.  
Teorias e técnicas, na área de gestão de recursos humanos, são meras tentativas de obter o desempenho e a conduta adequados ao desenvolvimento organizacional. Como conseguir isso, sem tirar das pessoas o direito à individualidade, à liberdade e ao crescimento? 
Ainda não se encontraram respostas definitivas para essa pergunta. A percepção dos que estudam a área, atuam nela e vivenciam permanentemente seus desafios, muitas vezes se orienta para a perspectiva da administração também como arte. Nela, apesar de o gestor não abrir mão de muito estudo e técnicas, nunca perde de vista a criatividade, a intuição e, antes de tudo, a sensibilidade para se colocar no lugar do outro.