Geralmente andar a pé faz parte do repertório de pessoas que, como eu,
nasceram e viveram boa parte de sua infância no meio rural.
Particularmente, cultivo certo fascínio por andanças, tenho,
não apenas curiosidade, mas admiração por andarilhos e caminhantes de maneira
geral. Em minha infância andava a pé alguns quilômetros para ir à escola, à
casa de avós e outros parentes. Desde cedo, fazia desse modo, deslocamentos em distâncias consideráveis, para ir à cidade e quando saí da roça, vim caminhando com parte
da família, já que não cabíamos todos na boleia do caminhão que trouxe a
mudança. Depois, comecei minha carreira como professora no meio rural e percorria,
diariamente, os doze km que compreendia o deslocamento de ida e volta para o
trabalho. Esse meu primeiro emprego
durou pouco e seria até natural se, em seguida, eu não gostasse de caminhar, já
que tive de fazê-lo por obrigação, durante boa parte da vida. Ainda o faço,
hoje, por recomendação médica.
Desenvolvi, no entanto, como disse, um gosto acentuado por caminhadas
e trilhas, sentindo certa necessidade de sair andando em momentos em
que me encontro muito aflita e, ou desesperada. Coisa de doido mesmo, eu sei. A
maior parte deles adora andar.
Assim, sempre que posso vou fazer uma trilha. Em praias nunca perco a
oportunidade de caminhar bastante e costumo dar preferência àquelas que favorecem essa prática. Desde pequenas
minhas filhas faziam-me companhia nessas andanças. Depois a mais velha perdeu um
pouco o gosto. A caçula, ao contrário, apaixonou-se por caminhadas a pé. Acredito
que, um pouco também, por ter escolhido o curso de Biologia, tornou-se minha companheira de muitas trilhas. Em outras tive a companhia de meus
irmãos, cunhadas e sobrinhos. Sempre considero essas oportunidades momentos
preciosos de contemplação da natureza e de integração.
Trepadeiras diversas |
Mini orquídeas |
Agora, neste carnaval, combinei uma trilha com amigos. Fomos ao Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB), que fica bem próximo e que eu
praticamente não conhecia. Por sugestão deles, fizemos a trilha ao Pico do
Boné, que fica no município de Araponga. Embora não seja o mais alto, é o mais
famoso do parque e, provavelmente, o mais visitado. Possui 1.870 m de altura e
temperatura amena, ficando, em grande parte do tempo, coberto por neblina.
Cachoeiras |
Canteiro de musgos |
Bromélias |
Visão espetacular |
Sauá - Foto: Mário Henrique Macedo |
Amigos - Foto: Mário Henrique Macedo |
A vegetação é típica da Mata Atlântica e, embora na maior parte da área
do parque tenha sido degradada, para exploração do carvão, felizmente está se
recompondo, a partir da transformação do local em área de preservação. No
parque há inúmeras nascentes, diversas cachoeiras e afloramentos rochosos de
grande beleza. A área é rica em espécies vegetais de porte variado indo de
cedro, quaresmeiras e fedegosos de tamanho considerável a bromélias, orquídeas e trepadeiras, entre diversas outras espécies ornamentais. A fauna é bastante
variada, embora algumas espécies tenham entrado em processo de extinção.
Felizmente ainda persistem macacos como o sauá, o mono-carvoeiro e o muriqui, e também a onça-pintada e a jaguatirica, entre outros. Aves existem em profusão,
desde a Araponga que dá nome ao local, ao papagaio do peito roxo e ao pavó. Percorrendo
as estradas de terra cruza-se com seriemas e a trilha toda é pontuada pelo
cantar de passarinhos diversos.
Fazer a trajeto com amigos foi uma experiência inesquecível. Cumprir
juntos um percurso de mais de três horas de subida e de mais de duas para
descer transformou-se em momento precioso de convívio e cuidados recíprocos. Seis horas é tempo bom para colocar o papo em
dia. Escorregões, tombos e outros acidentes sem significância transformaram-se
em momentos para dar boas risadas.
Não podia ter havido remédio melhor para quem, como eu,
estava precisando de algum recurso para espantar a tristeza.
O sossego do hotel, o cansaço e a emoção por ter cumprido com galhardia
noventa e nove por cento do percurso, inspiraram-me a escrever um poema que
compartilho com vocês, juntamente com o convite para conhecer o PESB e suas
diversas atrações.
Trilha ao Pico do Boné
Fazenda do Seu Dico,
Cafezais e morros,
Cerca de arame,
Passa Um.
Samambaias,
Samambaiaçus.
Imbaúba
Pequena: roxa;
Grande: prateada.
Mistérios da natureza
Por desvendar.
Muriquis e Bromélias
Canto de passarinhos
Quaresmeiras
Água limpa correndo
Fresca.
Cachoeiras.
Musgo, musgo, musgo,
Tropeços, tombos, trovão
Chuva de leve
Pedras na trilha
Limo no chão.
Escorregão.
Tronco caído
Travessia, pinguela
Risada de amigos
Exaustão.
Mirante, cordilheira
Entrando nas nuvens
Subida sem fim
Cajado bem firme,
Calos na mão.
Cadeia de fedegosos
Brincos de princesa
Orquídeas, austromélias
Pedras, pedras, pedras.
Comemoração.
Maria Inês, uma amiga inesquecível ..... me ensinou a gostar de Guimarães Rosa, me apresentou Florbela Espanca, Fernando Pessoa e me presentou com um livro de Memórias de Adriano.......saudades, saudades ......abraços Milton
ResponderExcluirNem acredito que é o Milton Roberto, meu querido amigo de patos de Minas. Também tenho muitas saudades e um enorme desejo de revê-lo. Obrigada por dar sinal de vida. Meu e-mail é micarmo@ufv.br. Abração.
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