quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

"ARTE" MERCENÁRIA

Há artistas cuja importância perpetua-se por séculos e que em vida jamais venderam uma obra. É o caso de Van Gogh, por exemplo.
A relação entre arte e comércio dá o que falar. Referindo-se ao tema, no decálogo do artista, Gabriela Mistral  diz: “não  buscarás nas feiras nem levarás tua obra a elas, porque a beleza é virgem, e a que está nas feiras não é Ela”.  É de observar que, ao referir-se à arte,  a escritora tenha grafado o Ela com maiúscula.
Aqui no Brasil, é interessante reparar como os artistas se vendem. E não apenas cobrando cachês milionários, mas também fazendo propaganda dos mais variados tipos de produtos e serviços. Mais parecem comerciantes do que propriamente pessoas que escolheram ter a arte como profissão.
Recentemente, um cantor intitulado rei,  deixou de ser vegetariano, ou tem dito que o fez, para virar garoto propaganda de um frigorífico. 
Também a maior dama do teatro brasileiro, uma senhora de mais de oitenta anos, detentora de prêmios internacionais de cinema e teatro, recentemente colocou sua imagem a serviço da propaganda do governo de um estado que ela mal visita.
Quanto a cantoras populares, jogadores de futebol e apresentadores de televisão, nem sabemos para quantas marcas ou produtos vendem a sua imagem.
Pelo que divulga a própria imprensa os cachês são milionários. Em troca disso,  esses “artistas” expõem ostensivamente sua figura nas mais diversas  mídias, onde tentam vender todo tipo de  quinquilharia.
Quem sustenta isso tudo é a ingenuidade de boa parte da população que se deixa influenciar por famosos que divulgam produtos que, em grande parte das vezes, não consomem.




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

CASSAÇÃO DO PREFEITO E FALTA DE EDUCAÇÃO DO POVO

Neste momento em que, em Viçosa,  se comemora a sentença da justiça que determina a cassação do prefeito e do seu vice, há um convite no ar. Ainda que o motivo da decisão não tenha sido o desmando e a falta de competência da administração municipal, mas sim questões eleitorais, a hora é boa para reflexão.
Não há dúvida. Precisamos de uma gestão pública comprometida com o bem estar da cidade e empenhada em zelar pela difícil tarefa de promover melhores condições de vida à população. Desculpem se esse é um discurso batido, mas também a população precisa fazer a sua parte.
Numa rápida caminhada por ruas próximas ao centro, na manhã de hoje, não precisei ir longe para constatar a falta de educação e de cidadania de boa parte da população. 
Lixo jogado na calçada
Meio fio obstruindo o passeio

Carros estacionados nas calçadas, sobressaltos nos passeios das casas, lixo atirado fora da lixeira.  De um lado, a administração publica que além de não fazer a sua parte nos cuidados com o espaço  público, também não cuida da fiscalização. Do outro,  os “sem noção”, com os quais temos que conviver no nosso dia-a-dia.  É incompreensível, mais que isso, é lamentável. Boa parte da população parece pensar que a rua é o quintal de sua casa e age como se respeitar o espaço público fosse obrigação para o outro, não para si.
Carro obstruindo a passagem de pedestre
Mais uma vez...
Assim fica difícil. De um lado, administração ineficiente, do outro, povo mal educado.  Ou não é bem assim? Embora estejamos acostumados a perceber como dimensões opostas, esses são aspectos complementares e fazem parte de um círculo vicioso difícil de ser quebrado. Má administração e povo mal educado são dimensões intrinsecamente relacionadas. 
Romper esse círculo vicioso demanda muito empenho dos dois lados. O mais esperado é que a iniciativa seja da administração pública e que esta não somente faça a sua parte, mas oriente a mudança  de conduta da população.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

LIVROS DA GENTE

Há pouco pediram no facebook que relacionasse meus dez livros preferidos. Não daria conta de fazer isso, mesmo que ficasse um mês pensando. Mais impossível ainda, quando me pedem com pressa, como nas redes sociais, onde, se você deixa para amanhã, já não serve. Tem que haver resposta no dia. Não! Na hora. Ou melhor, nos minutos seguintes. Tempos de modernidade líquida, ou “mundo pautado pelo agora” como batizou Zygmunt Bauman. Voltemos aos livros, e que sejamos rápidos, porque não há muito tempo para divagações.
Os Impossíveis - Por falar em tempo, o livro, ou os livros de que mais gosto são livros que nunca li. Vivo lendo-os aos pedaços, sem, no entanto, nunca ter dado conta de acabar, da primeira à última linha. São os que chamo de (para mim, ainda) impossíveis, como a sequência de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, composta por sete romances em três volumes, que adoro. Leitura densa, lenta e quase impossível de ser completada. Frases longas e memoráveis, magnificas construções de pensamento calcadas na memória do narrador. O tempo conduzindo a narrativa. Ainda sonho conseguir ler todos os volumes. 
Nesse grupo incluo  outro que, em mais de uma tentativa, não consegui passar das primeiras 150, de suas  400 páginas. Refiro-me a O Castelo de Kafka, embora dele, tenha amado ler Metamorfose e Carta ao Pai. Associo essas leituras difíceis, porém imprescindíveis, a travessias à beira do abismo, como vi em Dante, na Divina Comédia, este também um livro quase impossível.
Proust, sete romances em três volumes
Próximo ao grupo dos Impossíveis, há os difíceis (mais uma vez, para mim). Não tenho vergonha de confessar que, somente com muito sacrifício consegui fazer uma primeira leitura de A Montanha Mágica de Thomas Mann, que tanta emoção me despertou em seu Morte em Veneza. E que também foi pesado concluir Os Miseráveis de Victor Hugo.
Os Muito Bons - Deixemos os impossíveis, para uma próxima tentativa de leitura e falemos dos muito bons. Aqueles que  amamos e que, depois de lê-los nunca mais somos os mesmos. Assim foi com Dom Quixote, de Cervantes. Um livro que  achava impossível de existir, porque  perfeito, alguém pensa que não?
Que foi de mim, depois que li Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa?  Virei um trapo. Sou um trapo. O que dizer dos livros de Saramago e dos de Garcia Marques? E dentre os livros de Machado de Assis, qual eu incluiria na lista, como o meu  preferido?  De Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, ou Di Profundis?  Não poderia deixar de fora Assim falou Zaratustra de Nietzsche, e seria pecado não incluir Crime e Castigo de Dostoievski, ou  Demian, de Hermam Hesse. Da mesma forma, Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, ou O Primeiro Homem de Cammus. Onde eu colocaria Clarice e Graciliano, nessa lista, e quais dos seus livros estariam lá? Tem também  As veias abertas da América Latina, um livro seminal de Eduardo Galeano, leitura obrigatória para todo latino americano.
Perdida nas Poesias - Não daria conta de fazer uma lista dos melhores livros, sem me perder nas poesias. Penso até que o início não seria muito difícil, pois nessa seara, há de se começar por Pessoa.
Então, esbarraria na sequência. Drummond, ou Bandeira? Camões, Florbela, Cecília Meirelles, Gabriela Mistral, em que ordem vão aparecer? E  Adélia Prado,  Castro Alves e João Cabral de Melo Neto? Pablo Neruda ficaria de fora? Difícil decisão.
Livros Gostosos – Dizia  Fernando Sabino, ele próprio merecedor de constar na lista dos bons, assim como Veríssimo, que nunca viveremos o suficiente para ler tudo o que gostaríamos. Mesmo que ficássemos apenas lendo. Na categoria romance, o último livro do Chico Buarque, Leite derramado, foi muito bom de ler. E também nesse grupo,  incluo o autor afro português Mia Couto que tem publicado coisas muito bacanas. Atualmente leio três livros gostosos ao mesmo tempo. Na minha sala, para a espreguiçada de depois do almoço, está o Árvores Brasileiras, uma delícia, para identificar espécies que povoaram minha infância de meio do mato; junto dele o Tesouros, Fantasmas e Lendas de Ouro Preto, um achado sensacional de minha última viagem àquela cidade. E na cabeceira, ao lado do Proust (que nunca sai de lá), A Trégua, de Mário Benedetti. Este, juntamente com o argentino Júlio Cortazar, precisaria ser cogitado como autor a constar na minha lista dos melhores e mais queridos livros que li.
Ler é sempre muito bom e, ultimamente tenho adotado a ideia de Rubem Alves (outro que compensa ler), de que vale a pena dar uma enxugando na estante e gastar nosso tempo apenas com as leituras especiais. Bons autores e leituras seminais, no entanto, são um jato de água fria em nossas tentativas de escrever. Embora, goste muitíssimo  e, de alguma forma, até precise de escrever,  tenho ficado cada vez menos propensa a fazê-lo. Depois que li Guimarães Rosa, e, apenas algumas páginas de Proust, tudo o que eu escrevo parece  bobagem.
Lembro-me, tentando interromper esse assunto sem fim,  quando estava prestes a deixar um trabalho de tempo integral e um amigo aconselhou-me que não,  dizendo: o que você vai fazer com o seu tempo?  Sem pensar, respondi: - Vou ler poesias.  Desde então, tenho lido bastante, mas ainda muito pouco, diante da imensidão de possibilidades de boas leituras que temos.
Quanta à relação dos dez, deixemos. Uma vida de leitura não cabe numa lista.








sábado, 8 de fevereiro de 2014

TIRE SEU SORRISO DO CAMINHO QUE EU QUERO PASSAR...

Uma coisa chata que anda virando mantra no mundo moderno, principalmente na  internet, é esse discurso de que temos que sorrir e ser felizes a qualquer custo. Ainda mais com esse calor todo que anda fazendo e que já deixa quase todo mundo assim meio irritado, esse lenga-lenga torra a paciência. Literalmente. Tem dias que a gente anda que é uma tristeza só.
Inútil tentar nos transformar em máquinas que obedecem a comandos com um toque de botão. Nessas horas de banzo o que a gente mais quer é ficar quieto, talvez ouvindo uma música bem triste, como aquela, por exemplo, que diz: “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”¹.
Tenho uma irmã que perdeu abruptamente seu caçula de apenas vinte anos em um episódio inaceitável de violência gratuita. Há poucos dias, uma amiga também perdeu uma filha igualmente na faixa dos vinte, e de maneira irresponsável e leviana. O que dizer a essas mulheres, ou a milhares de outras pessoas que estão profundamente tristes pela perda de um grande amor, por uma saudade profunda, ou pelo acúmulo de pequenas tristezas do dia a dia? Por favor, sem essa conversa de que devem sorrir e levar a vida saltitante, que a alegria só faz bem à saúde.
Diante de uma grande tristeza, talvez o melhor seja não dizer nada, ou falar o mínimo. Deixar que cada um viva a sua dor como acha melhor. Pouca coisa pode ajudar. Talvez uma visita rápida, se a pessoa quiser, um abraço bem apertado. Mandar flores bem bonitas, uma caixa de bombons dos mais gostosos, um livro de poesias, ou um filme de Charles Chaplin.
Flores bonitas atenuam a tristeza
Tudo isso é mesmo pouco, quase nada, diante de uma dor profunda, que somente quem a está vivenciando é capaz de dimensionar. Mas pode servir para lembrar ao seu amigo ou amiga que a beleza pode ser um pequeno contraponto em momentos de inevitável tristeza.

¹ Nelson Cavaquinho, Guilherme De Brito, Alcides Caminha
em A flor e o espinho)