quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

LIVROS DA GENTE

Há pouco pediram no facebook que relacionasse meus dez livros preferidos. Não daria conta de fazer isso, mesmo que ficasse um mês pensando. Mais impossível ainda, quando me pedem com pressa, como nas redes sociais, onde, se você deixa para amanhã, já não serve. Tem que haver resposta no dia. Não! Na hora. Ou melhor, nos minutos seguintes. Tempos de modernidade líquida, ou “mundo pautado pelo agora” como batizou Zygmunt Bauman. Voltemos aos livros, e que sejamos rápidos, porque não há muito tempo para divagações.
Os Impossíveis - Por falar em tempo, o livro, ou os livros de que mais gosto são livros que nunca li. Vivo lendo-os aos pedaços, sem, no entanto, nunca ter dado conta de acabar, da primeira à última linha. São os que chamo de (para mim, ainda) impossíveis, como a sequência de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, composta por sete romances em três volumes, que adoro. Leitura densa, lenta e quase impossível de ser completada. Frases longas e memoráveis, magnificas construções de pensamento calcadas na memória do narrador. O tempo conduzindo a narrativa. Ainda sonho conseguir ler todos os volumes. 
Nesse grupo incluo  outro que, em mais de uma tentativa, não consegui passar das primeiras 150, de suas  400 páginas. Refiro-me a O Castelo de Kafka, embora dele, tenha amado ler Metamorfose e Carta ao Pai. Associo essas leituras difíceis, porém imprescindíveis, a travessias à beira do abismo, como vi em Dante, na Divina Comédia, este também um livro quase impossível.
Proust, sete romances em três volumes
Próximo ao grupo dos Impossíveis, há os difíceis (mais uma vez, para mim). Não tenho vergonha de confessar que, somente com muito sacrifício consegui fazer uma primeira leitura de A Montanha Mágica de Thomas Mann, que tanta emoção me despertou em seu Morte em Veneza. E que também foi pesado concluir Os Miseráveis de Victor Hugo.
Os Muito Bons - Deixemos os impossíveis, para uma próxima tentativa de leitura e falemos dos muito bons. Aqueles que  amamos e que, depois de lê-los nunca mais somos os mesmos. Assim foi com Dom Quixote, de Cervantes. Um livro que  achava impossível de existir, porque  perfeito, alguém pensa que não?
Que foi de mim, depois que li Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa?  Virei um trapo. Sou um trapo. O que dizer dos livros de Saramago e dos de Garcia Marques? E dentre os livros de Machado de Assis, qual eu incluiria na lista, como o meu  preferido?  De Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, ou Di Profundis?  Não poderia deixar de fora Assim falou Zaratustra de Nietzsche, e seria pecado não incluir Crime e Castigo de Dostoievski, ou  Demian, de Hermam Hesse. Da mesma forma, Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, ou O Primeiro Homem de Cammus. Onde eu colocaria Clarice e Graciliano, nessa lista, e quais dos seus livros estariam lá? Tem também  As veias abertas da América Latina, um livro seminal de Eduardo Galeano, leitura obrigatória para todo latino americano.
Perdida nas Poesias - Não daria conta de fazer uma lista dos melhores livros, sem me perder nas poesias. Penso até que o início não seria muito difícil, pois nessa seara, há de se começar por Pessoa.
Então, esbarraria na sequência. Drummond, ou Bandeira? Camões, Florbela, Cecília Meirelles, Gabriela Mistral, em que ordem vão aparecer? E  Adélia Prado,  Castro Alves e João Cabral de Melo Neto? Pablo Neruda ficaria de fora? Difícil decisão.
Livros Gostosos – Dizia  Fernando Sabino, ele próprio merecedor de constar na lista dos bons, assim como Veríssimo, que nunca viveremos o suficiente para ler tudo o que gostaríamos. Mesmo que ficássemos apenas lendo. Na categoria romance, o último livro do Chico Buarque, Leite derramado, foi muito bom de ler. E também nesse grupo,  incluo o autor afro português Mia Couto que tem publicado coisas muito bacanas. Atualmente leio três livros gostosos ao mesmo tempo. Na minha sala, para a espreguiçada de depois do almoço, está o Árvores Brasileiras, uma delícia, para identificar espécies que povoaram minha infância de meio do mato; junto dele o Tesouros, Fantasmas e Lendas de Ouro Preto, um achado sensacional de minha última viagem àquela cidade. E na cabeceira, ao lado do Proust (que nunca sai de lá), A Trégua, de Mário Benedetti. Este, juntamente com o argentino Júlio Cortazar, precisaria ser cogitado como autor a constar na minha lista dos melhores e mais queridos livros que li.
Ler é sempre muito bom e, ultimamente tenho adotado a ideia de Rubem Alves (outro que compensa ler), de que vale a pena dar uma enxugando na estante e gastar nosso tempo apenas com as leituras especiais. Bons autores e leituras seminais, no entanto, são um jato de água fria em nossas tentativas de escrever. Embora, goste muitíssimo  e, de alguma forma, até precise de escrever,  tenho ficado cada vez menos propensa a fazê-lo. Depois que li Guimarães Rosa, e, apenas algumas páginas de Proust, tudo o que eu escrevo parece  bobagem.
Lembro-me, tentando interromper esse assunto sem fim,  quando estava prestes a deixar um trabalho de tempo integral e um amigo aconselhou-me que não,  dizendo: o que você vai fazer com o seu tempo?  Sem pensar, respondi: - Vou ler poesias.  Desde então, tenho lido bastante, mas ainda muito pouco, diante da imensidão de possibilidades de boas leituras que temos.
Quanta à relação dos dez, deixemos. Uma vida de leitura não cabe numa lista.








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