quarta-feira, 31 de outubro de 2018

RESENHA DE LIVRO: Pepe Mujica - Simplesmente humano



PEPE MUJICA – Simplesmente humano. De Allan Percy. Editora Sextante
Ainda com a capacidade de escrita bastante limitada por conta da imobilização do braço esquerdo, me arrisco a fazer essa resenha, porque acredito que dificilmente haverá momento mais oportuno do que o atual para se falar dessa personagem. Mais do que um líder sul-americano, Mujica transformou-se atualmente em uma figura respeitada mundialmente, tornando-se uma das vozes mais acreditadas dentre os que refletem sobre as condições atuais da humanidade.

Mesmo ocupando um cargo de senador e sendo um dos políticos mais conhecidos da atualidade, José Alberto Mujica Cordano, conhecido como Pepe Mujica,  insiste em  ser apenas um agricultor uruguaio, atividade para qual retornou, desde que concluiu seu mandato de presidente daquele pais, entre 2010 e 2015.
Por ter sido um combatente da ditadura civil-militar que dominou seu país de 1973 a 1985, Mujica fio preso e passou 14 encarcerado.
Conhecer um pouco mais dessa grande figura, era o meu desejo ao me lançar  ao livro, cujo título, Pepe Mujica – Simplesmente humano, já oferece indícios de que a obra não se trata propriamente de uma biografia.
Mesmo diante dessa ressalva, tendo em vista a grandeza da figura que se pretendeu retratar, confesso que esperava mais de um livro que trata de uma das lideranças mais conhecidas e admiradas da América Latina. Tendo optado por renunciar a maior parte dos rendimentos a que faz jus, enquanto ex-presidente e senador, Mujica escolheu levar uma vida extremamente modesta, vivendo em seu pequeno sítio e trabalhando como agricultor. Ele tem sido um dos maiores críticos à globalização e ao consumismo que enriquecem cada vez mais os países ricos, explorando e devastando os países pobres.
Dono de uma oratória singular, o ex-presidente uruguaio tem sido um incansável crítico ao estilo moderno de vida que praticamente se resume em trabalhar e consumir. O livro oferece farta transcrição de trechos dos memoráveis discursos que Mujica tem feito mundo afora, em conferências e outros eventos, assim como de entrevistas que tem dado à imprensa. Somente por essa razão, o livro vale a pena. Todavia, a obra se torna menor toda vez que o autor,  conhecido por escrever livros de autoajuda, se mete a fazer análises e orientar a conduta do leitor, tomando como base fatos e ocorrências da vida do político que quis retratar.
A seguir transcrevo dois trechos de falas de Mujica, que considero memoráveis. O primeiro por nos alertar que a política é a mãe do acontecer humano e o segundo, muito proposital no momento em que estamos no Brasil, lembrando-nos que não se pode viver sem esperança.

“A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.”

“Nunca vimos tanta acumulação de riqueza e de injustiça, numa globalização manipulada por interesses poderosos que necessita ser enfrentada com unidade pelos trabalhadores. Se o capital financeiro não tem Pátria, não tem bandeira e nem se senta nas Nações Unidas, precisamos que os que têm Pátria defendam a vida, defendam o mundo da liberdade e da esperança. A única luta que se perde é a que se abandona. Não se pode viver sem esperança”.
((Disponível em: https://www.viomundo.com.br/politica/mujica-a-unica-luta-que-se-perde-e-a-que-se-abandona-nao-se-pode-viver-sem-esperanca.html)

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

PEQUENA AULA DE ECONOMIA


A HORA DA DECISÃO

                                     Tancredo Almada Cruz
                                        <tancredo@ufv.br>
   O atual processo eleitoral contou com uma dúzia de candidatos à presidência. Em essência, apenas duas propostas estavam em disputa: a economia de mercado e a  economia  do  bem  estar.  Estas duas posições continuam no segundo turno e está chegando a hora de  se decidir por uma delas. Logo, cabe um esclarecimento sobre suas diferenças principais.
    A economia de mercado, também chamada de neoliberal, defende o Estado mínimo e o mercado livre, acreditando  existir  uma  "  mão invisível" capaz de levar  o  conjunto  da  economia  a  atender  o interesse da coletividade pela concorrência entre os atores,  mesmo  que estejam motivados por interesses individuais.
     Os defensores desta tese ignoram que  a  teoria  proposta  por Adams Smith tinha como hipótese  a  existência  de  um  mercado  de concorrência perfeita. Ocorre que o mercado atual  é  dominado  por grandes oligopólios, que distorcem  o  funcionamento  do  mecanismo idealizado por Smith. Neste contexto, não é capaz  de  produzir  os resultados desejados.  Ao  contrário,  geram  crises  periódicas  e desigualdades profundas.
    Isto se deve ao fato do mercado ser excludente,  na  medida  em que só permite a participação de  quem  tem  algo  para  vender  ou dinheiro  para  comprar.  Como  tal,  impede  que  muita  gente  se beneficie do progresso tecnológico e da melhoria  da  qualidade  de vida oferecida. A desigualdade resultante deste processo restringe a demanda produzindo a crise e aprofundando a própria desigualdade.
    Em suma, o modelo neoliberal gera recessão com  falências, desemprego e injustiça social, exigindo a intervenção estatal  para reverter esse processo. Em outras palavras, a proposta neoliberal resulta na necessidade da interferência do Estado, justamente o que propõe evitar,  depois  de  causar  grande  sofrimentos  a  toda  a sociedade.
      A  economia    do    bem    estar,    também    chamada    de desenvolvimentista,  propõe  papel  relevante  para    o    Estado, consistindo em  ser  agente  regulador  do  mercado  e  indutor  do desenvolvimento. Como regulador, o Estado deve atuar no sentido  de limitar a ação de oligopólios, monopólios  e práticas prejudiciais à concorrência como cartéis e outros abusos. Como  indutor,  busca  a redução da desigualdade com  políticas  sociais  e  o  controle  da demanda  para  evitar  inflação  e  recessão,   indispensável    ao desenvolvimento sustentável. Essas ações resultam em estabilidade e justiça social, ou seja, no bem estar da sociedade.
    Todos os países desenvolvidos seguiram essa política  econômica e quando dela se desviaram sofreram graves retrocessos. O  Brasil, como uma economia capitalista, não é diferente. Sempre que  abraçou o  neoliberalismo,  inibindo  o  papel  do  Estado  e  adotando  as privatizações como panaceia, amargou  a  queda  do  crescimento,  o aumento  do  desemprego  e  o  agravamento  da  desigualdade  e  da injustiça social.
     Fatos recentes evidenciam a correção da política do bem  estar no Brasil. Em 2008, a especulação imobiliária nos  Estados  Unidos, levou a uma crise econômica  que  alcançou,  praticamente,  todo  o mundo. O Brasil conseguiu se manter ao largo dessa crise até  2013, ano em que a taxa de  desemprego  atingiu  o  menor  valor  de  sua história(4,5%). A partir desta data, dois elementos  se  somaram  à crise internacional, a grande seca que atingiu o País  de  norte  a sul e a crise política que "emparedou" o governo  federal.  Após  a eleição, em 2014, Dilma tentou superar a crise  política,  adotando medidas neoliberais conduzidas pelo novo ministro da  fazenda.  Não deu certo. Foi derrubada. O  novo  governo  aprofundou  as  medidas neoliberais  e,  em  consequência,  a  crise  econômica  e  social, triplicando o desemprego e a recessão.
    Pelo exposto, fica fácil perceber o caminho correto  a  seguir. Não é racional continuar na linha neoliberal de Temer sob  pena  de amplificar,  ainda  mais,  as   mazelas    vividas    pelo    País, principalmente, depois de se ter vivido tempos felizes. 

Meu professor de muitos anos