PEPE MUJICA – Simplesmente
humano. De Allan Percy. Editora Sextante
Ainda com a capacidade de escrita
bastante limitada por conta da imobilização do braço esquerdo, me arrisco a
fazer essa resenha, porque acredito que dificilmente haverá momento mais
oportuno do que o atual para se falar dessa personagem. Mais do que um líder sul-americano,
Mujica transformou-se atualmente em uma figura respeitada mundialmente, tornando-se uma
das vozes mais acreditadas dentre os que refletem sobre as condições atuais da
humanidade.
Mesmo ocupando um cargo de
senador e sendo um dos políticos mais conhecidos da atualidade, José Alberto
Mujica Cordano, conhecido como Pepe Mujica, insiste em
ser apenas um agricultor uruguaio, atividade para qual retornou, desde
que concluiu seu mandato de presidente daquele pais, entre 2010 e 2015.
Por ter sido um combatente da ditadura
civil-militar que dominou seu país de 1973 a 1985, Mujica fio preso e passou 14 encarcerado.
Conhecer um pouco mais dessa grande figura,
era o meu desejo ao me lançar ao livro,
cujo título, Pepe Mujica – Simplesmente humano, já oferece indícios de que a
obra não se trata propriamente de uma biografia.
Mesmo diante dessa ressalva, tendo em vista a
grandeza da figura que se pretendeu retratar, confesso que esperava mais de um livro que
trata de uma das lideranças mais conhecidas e admiradas da América Latina. Tendo
optado por renunciar a maior parte dos rendimentos a que faz jus, enquanto
ex-presidente e senador, Mujica escolheu levar uma vida extremamente modesta, vivendo em seu pequeno sítio e trabalhando como agricultor. Ele tem sido um dos maiores críticos à globalização e ao consumismo que enriquecem cada vez mais os países ricos, explorando e devastando os países pobres.
Dono de uma oratória singular, o
ex-presidente uruguaio tem sido um incansável crítico ao estilo moderno de vida
que praticamente se resume em trabalhar e consumir. O livro oferece farta
transcrição de trechos dos memoráveis discursos que Mujica tem feito mundo
afora, em conferências e outros eventos, assim como de entrevistas que tem dado
à imprensa. Somente por essa razão, o livro vale a pena. Todavia, a obra se
torna menor toda vez que o autor, conhecido
por escrever livros de autoajuda, se mete a fazer análises e orientar a conduta do leitor,
tomando como base fatos e ocorrências da vida do político que quis retratar.
A seguir transcrevo dois trechos
de falas de Mujica, que considero memoráveis. O primeiro por nos alertar que a
política é a mãe do acontecer humano e o segundo, muito proposital no momento
em que estamos no Brasil, lembrando-nos que não se pode viver sem esperança.
“A
política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao
mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como
tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada
marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder
negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os
cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães,
passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é
negócio.”
(disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2013/09/leia-a-integra-do-discurso-de-jose-mujica-na-onu-4281650.html)
“Nunca vimos tanta acumulação de riqueza e de
injustiça, numa globalização manipulada por interesses poderosos que necessita
ser enfrentada com unidade pelos trabalhadores. Se o capital financeiro não tem
Pátria, não tem bandeira e nem se senta nas Nações Unidas, precisamos que os
que têm Pátria defendam a vida, defendam o mundo da liberdade e da esperança. A
única luta que se perde é a que se abandona. Não se pode viver sem esperança”.
((Disponível em: https://www.viomundo.com.br/politica/mujica-a-unica-luta-que-se-perde-e-a-que-se-abandona-nao-se-pode-viver-sem-esperanca.html)
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