sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Administração Pública e Árvores de Cuecas

Toda administração está sujeita a equívocos. Até porque o que pode ser visto como um grande equívoco  por uns,  pode não passar de  deslize insignificante para outros. É o filtro de cada um, a percepção pessoal, a classificar os fatos de acordo com a própria perspectiva. 
Costumo dizer para os meus alunos que a gestão das organizações é marcada pela imperfeição, pois, sendo constituídas de pessoas, intrinsecamente imperfeitas, as organizações mantém consequentemente essa inevitável possibilidade.
Assim, quase sempre estamos a vislumbrar pequenos e grandes equívocos nas ações das organizações, especialmente nas do poder público, cuja gestão afeta-nos muito diretamente.
A nomeação de  assessores desqualificados, ou  mesmo indignos de ser considerados agentes públicos, por questões morais e éticas;  a contratação de consultorias picaretas; a aprovação de processos licitatórios manipulados, enfim, uma série de possibilidades de incorrer em má gestão, continua presente em todos os âmbitos da gestão pública, conforme vem pipocando frequentemente no noticiando nacional.
Recentemente aqui em Viçosa, ocorreu um fato que, embora possa parecer pequeno,  considero imperdoável. Incomodados pela ausência de uma faixa de delimitação para ciclistas na Av. Marechal Castelo Branco e, cansados de esperar uma ação da prefeitura,  voluntários, no sábado último, resolveram pintar a referida faixa. Agora está lá. Torta em alguns pontos, meio apagada em outros, mas cumprindo seu papel de tentar proteger os usuários do transporte de duas rodas.
Faixa precariamente pintada por voluntários
Árvores de "cueca" em plena avenida
Surpreendentemente, nesta mesma semana, as árvores do canteiro central da avenida apareceram com as hastes pintadas de branco. Minha professora de paisagismo dizia que isso é como  “vestir cueca” nas árvores. Embora patético, não deixa de ser engraçado. Está lá, na mesma avenida, a faixa de ciclista precariamente pintada, enquanto as hastes das árvores estão reluzindo de brancas.
É um pequeno equivoco?  Para mim é um erro grosseiro. Além do desperdício de tempo e de tinta (recursos públicos, oriundos dos impostos pagos por nós), há o risco da tinta danificar as árvores, fora a questão estética, que não é desprezível.
Pode parecer implicância menor, afinal existem questões tão mais relevantes: o ensino fundamental continua sendo mal avaliado no município, a segurança prevalece  preocupando os cidadãos, a saúde pública continua precária... São grandes e fundamentais questões que, no entanto, rodeadas pelos pequenos equívocos do dia a dia continuam a comprometer a eficiência e a eficácia da gestão municipal.
Afinal, trata-se da alocação de recursos públicos. A mesma tinta que foi gasta para colocar “cueca nas árvores”  e as mesmas pessoas que foram alocadas para fazê-lo, não poderiam ter sido utilizadas para a feitura da faixa de ciclistas?



terça-feira, 27 de agosto de 2013

CONVERSA DE JARDINEIROS- Podas de Agosto

Segundo a sabedoria popular,  desde que chegam os meses sem r,  maio, junho e julho, já se pode começar a fazer as podas.. Mas é  em agosto, especialmente  em sua semana de lua nova, (ainda segundo os antigos), que as podas são mais indicadas. É nesse período que as plantas, no geral,  melhor respondem a uma boa limpeza.
Acho as podas tão relevantes para a correta manutenção dos jardins, que acabo protagonizando  situações engraçadas. Tenho um irmão que possui um sítio lindo e repleto de plantas.  Costumo visita-lo bastante e, nessas ocasiões acabo dando uma mãozinha, pois, por mais que eles cuidem, são tão amplos os jardins e gramados que sempre  tem algo em que intervir. Só que ele e sua mulher, são mais naturalistas, apreciando as plantas mais folhadas e eu gosto mais de ver cada espécie ou touceira, completamente livre de cachos secos, folhas velhas, enfim ...
A falta de poda e limpeza  acaba comprometendo a beleza das plantas. Além disso, folhas velhas, galhos  e flores, secos, ou quase,  tornam-se depósito de poeira, pragas, cochonilhas principalmente e sugam parte da energia da planta que poderia ser direcionada para alimentar novos brotos e flores. Então quando chego ao sítio, sabendo-me enxerida, meu irmão brinca: tenho que esconder as facas, tesouras  e quaisquer outras ferramentas de poda, porque elas são um perigo na mão de minha irmã, que acaba deixando as plantas peladas e surucas.
Pândano com folhas amareladas:
pedindo uma poda
Além de mais bonito, com
muito mais vigor
Por que o mês de agosto é o mais propício às podas? -  Nos meses de maio, junho, julho, período em que quase não chove,  as plantas, no geral, entram em repouso, param de crescer e, praticamente não emitem novas brotações.  Assim, quando o inverno começa a dar sinais de que está indo embora, o sol passa a brilhar com mais vigor, dias começam a ficar mais longos, e espera-se o setembro com alguma chuvinha, então, esse é o momento.

Strelitzia antes da poda
Não ficou muito mais bonita?
Efetuar limpezas e podas exige alguma técnica, mas especialmente bom senso. Diante de uma touceira repleta de cachos secos, folhas amareladas, manchadas, ressecadas, é fácil perceber o que precisa ser retirado, para devolver à planta a oportunidade de revigorar e voltar a ser muito mais bonita. Em minha opinião, não se pode ter dó. Mas há controvérsias. Em minha família mesmo, quase toda de jardineiros, como já disse, há os que não são favoráveis a podas tão rigorosas e frequentes. Penso que, com  as plantas, alguma dose de desapego faz bem, pois necessária ao renascimento e a renovação, inevitáveis ao ciclo da vida.

sábado, 24 de agosto de 2013

Viçosa?

Nesta semana fomos informados que agora, na cidade do Rio, tem lei que determina que, quem jogar lixo na rua será multado. A medida está sendo implementada gradativamente. Começou pelo centro da cidade e depois se estenderá para Copacabana, Leblon e Ipanema. Até alcançar todo o perímetro urbano.
Em um país onde o hábito de jogar lixo na rua é arraigado entre a maior parte da população, a notícia cai como um facho de luz na escuridão da porqueira e da falta de higiene.
Um costume, ou pior, mau costume que agora vai ter que mudar. Quem não deixar a preguiça de lado, ou o mau hábito de não utilizar a lixeira, poderá ser surpreendido com uma multa que, se não for paga, incluirá o inadimplente nos registros do SERASA.
A famosa desculpa de que age assim,  porque  “todo mundo faz”, não vai mais funcionar como pretexto para os sujismundos. Espera-se que a operação, que recebeu o adequado nome de Lixo Zero, seja rigorosa com quem desobedecer.
Lixo no entorno de supermercado na Av. Castelo Branco
Aqui em Viçosa estamos necessitando de lei similar. É preciso punir sem compaixão os mal educados  que vivem a emporcalhar as ruas. Não somente as pessoas, mas principalmente as empresas: comércio, lojas, supermercados, vendedores ambulantes, enfim todos aqueles que ganham dinheiro nas ruas e contribuem para mantê-las no estado deplorável de sujeira, em que se encontram. Nesses lugares produzem-se grandes quantidades de lixo e, no geral, tais entidades, não “estão nem aí”.

A esses, em minha opinião, deve ser exigido mais: além de ficarem proibidos de lançar lixos ou entulhos na rua, deveriam ser obrigados a instalar lixeiras e placas educativas no seu entorno, contribuindo para a formação de novos hábitos em relação ao lixo.
Parte de carcaça de automóvel jogada
ao lado de lixeira
Caminhando pela Av. Marechal Castelo Branco, por exemplo, onde há comércio intenso, vemos supermercado, posto de gasolina e lojas de autopeças que sujam sem dó a via pública. Em ambos os lados dessa via há áreas verdes: de um, o campus da UFV (vila Gianetti), do outro, a área de preservação ambiental que margeia o bairro Belvedere. Nos dois, há constantemente lixo e sujeira jogados. 
Já passa da hora: lei ante sujeira já. Campanhas educativas para orientar os “esquecidos” e, imediata punição para quem desobedecer. E quem o fizer terá que pagar a multa ou o nome vai para o SERASA, ou seja, ficam  “sujos na praça”.  Sem trocadilhos.
Nem parece ser área de preservação ambiental
Jogar lixo fora dos locais adequados é uma questão de hábito, ou pior, de mau-hábito. Essa prática perversa pode ser mudada se o poder público realmente quiser tomar decisões e estabelecer ações para que tenhamos uma cidade mais limpa. Como consequência, certamente teremos menos doenças, redução de enchentes e de entupimentos de bueiros e, por último, porém não menos importante: uma cidade mais limpa e agradável de morar.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Lua Quase Cheia, Haicai e outros Encantos

Saio da aula de ioga e faço meu pequeno trajeto a pé, no início da noite gelada, sob a lua quase cheia. Venho murmurando baixinho o mantra repetido ao final do encontro: ”Jaya Jaya shiva shambo... Máha Deva Shambo...”.*
Já em casa, a noite linda me domina e, desafiando o clima, fico do jardim, sem acender as luzes,  o brilho da imensa bola dourada quase a me tirar o fôlego. O cenário pede uma taça de vinho e, logo as divagações correm soltas. Me pego pensando em como é bacana  ter tempo e disposição para contemplar e, despretensiosamente, sou tomada de pena por aqueles que não podem fazê-lo.
Lembro-me do livro do poeta J. Levy, que ganhei esta semana e vou a ele. Está lá: “Quando o monge  Matsuo Bashô (1644-1694) quis resgatar  os poemas curtos japoneses de sua emaranhada sofisticação formal, destacou a estrutura de três versos, o hokku, dando-lhe autonomia e sentido completo; reforçou sua característica contemplativa ‘zen’; estabeleceu sua temática necessariamente  relacionada com as estações do ano e com as pequeninas coisas, como as flores, a relva, os animaizinhos, os insetos, os eventos incontroláveis pelo homem, coerente com sua visão budista, uma poética condizente com a celebração da natureza, o homem como expectador, apenas constando, pouco ou nada interferindo:
ERA LUA NOVA
DESDE ENTÃO ESPEREI
E, OH, HOJE!” (OLIVEIRA, 2005, p. 14,15)**.
     Magnífico! Versos antigos atravessando o tempo, assim como o fascínio que sentimos pela lua. E também como o canto milenar repetido por gerações nos mais distantes lugares, louvando a possibilidade da celebração do bem e da vida em todas as suas manifestações.

* O mantra completo está em: (http://www.youtube.com/watch?v=1XvWi-vVVyw

** OLIVEIRA, José Levy. Pan Óplon. Viçosa: Tipográfica-Coluna, 2005. 





segunda-feira, 12 de agosto de 2013

CONVERSA DE JARDINEIROS - DENDRÓBIO OLHO DE BONECA

Dendróbio olho de boneca
Foto: Rosi Almeida Carmo
          
ORQUÍDEA DO MÊS

        A orquídea dendróbio, do tipo olho de boneca é tão popular em nossa região que é considerada uma verdadeira "vira-latas" em se tratando de orquídeas. Embora seja originária da Ásia, é, por aqui, das mais populares e de fácil cultivo. Epífita, é cultivada frequentemente em canteiros e quintais, agarradas aos mais diversos tipos de troncos de árvores, ou em palmeiras onde costuma ter um efeito bacana. 
        É pouco exigente em termos de adubação e regas. Sua floração é, geralmente farta, se cultivada à meia sombra. Forma touceiras com diversas hastes florais, com um efeito altamente decorativo. A florada aparece no mês de agosto e, embora ela exista em enorme variedade de cores, é essa da foto, a lilás com o miolo vinho escuro, a mais comum aqui na região. Pessoalmente, acho uma crueldade chamarem-na de "a vira-lata" das orquídeas, pois ela é linda e pode valorizar qualquer jardim.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ipês nos Jardins

Ipê no jardim é uma tentação que acaba pegando muita gente. Difícil não ser fisgada por essa árvore que é um dos símbolos do Brasil. No mês de agosto eles ficam deslumbrantes.  A vontade de ter um pra chamar de seu e admirar de sua janela é  grande e muitos tomam a decisão por plantá-lo no calor da florada. Deslumbrados pela exuberância dos cachos amarelos,  roxos, ou cor de rosa,  vão  correndo adquirir sua muda. No entanto, antes de plantá-lo,  é recomendável  pensar um pouco.
Aliás, em minha opinião, antes de introduzir qualquer espécie  no jardim, é preciso refletir e planejar. Porque depois se for preciso tirá-la é sofrido e trabalhoso.  Então, é recomendável avaliar bem as condições do terreno e a natureza da planta antes de decidir por ela.
Sem dúvida, Ipês são um espetáculo
Ipês são maravilhosos, praticamente não dão trabalho, e, nativos  adaptam-se bem praticamente em todo o Brasil. Além de tudo, atraem passarinhos, borboletas e abelhas.
Mas não é planta para espaços pequenos.  Ipês crescem bastante, podendo atingir mais de 30 metros de altura e suas raízes são vigorosas. Não devem ser plantados perto de casa, muro ou outras edificações, porque podem danificá-los. O recomendado seria observar uma distância de, no mínimo 15 metros.
João de Barro no Ipê
Se o jardim não for bastante grande é melhor admirar o Ipê no parque ou na praça, ou até mesmo na beira das estradas, onde ele costuma florescer lindamente.  E tem mais: mesmo que se possua uma área maior,  outras restrições devem ser consideradas. Por exemplo, próximo à piscina, ou em gramados que se quer conservar limpos, é preferível não tê-los. A partir do mês de junho as folhas dos ipês começam a cair, até que os galhos ficam completamente nus. É quando a árvore prepara sua florada. Nas pontas surgem os botões em cachos que nos meses de agosto e setembro explodem em flores. 
Geralmente a floração dura apenas poucos dias. Então as flores caem e, mais uma vez, promovem um belo espetáculo colorindo o chão debaixo da árvore. Mas, secas também se transformam em sujeira e, a não ser que se tenha paciência para esperá-las decompor no gramado, é preciso retirá-las. E isso é trabalhoso, até porque, obviamente, as flores não caem em um só dia, então para manter o local limpo, é preciso varrer sempre.
Ter um jardim é um privilégio. Difícil descrever as variadas e ricas sensações que ele nos proporciona. Todavia, não se engane, mantê-lo cuidado para que esteja sempre bonito,  dá bastante trabalho.