Toda administração
está sujeita a equívocos. Até porque o que pode ser visto como um grande
equívoco por uns, pode não passar de deslize insignificante para outros. É o filtro
de cada um, a percepção pessoal, a classificar os fatos de acordo com a própria perspectiva.
Costumo dizer para os
meus alunos que a gestão das organizações é marcada pela imperfeição, pois,
sendo constituídas de pessoas, intrinsecamente imperfeitas, as organizações mantém
consequentemente essa inevitável possibilidade.
Assim, quase sempre estamos a vislumbrar pequenos e grandes equívocos nas ações das organizações, especialmente nas do poder
público, cuja gestão afeta-nos muito diretamente.
A nomeação de assessores desqualificados, ou mesmo indignos de ser considerados agentes
públicos, por questões morais e éticas; a
contratação de consultorias picaretas; a aprovação de processos licitatórios
manipulados, enfim, uma série de possibilidades de incorrer em má gestão,
continua presente em todos os âmbitos da gestão pública, conforme vem pipocando
frequentemente no noticiando nacional.
Recentemente aqui em
Viçosa, ocorreu um fato que, embora possa parecer pequeno, considero imperdoável. Incomodados pela ausência de uma
faixa de delimitação para ciclistas na Av. Marechal Castelo Branco e, cansados
de esperar uma ação da prefeitura, voluntários, no sábado último, resolveram
pintar a referida faixa. Agora está lá. Torta em alguns pontos, meio apagada em
outros, mas cumprindo seu papel de tentar proteger os usuários do transporte de
duas rodas.
Faixa precariamente pintada por voluntários |
Árvores de "cueca" em plena avenida |
Surpreendentemente,
nesta mesma semana, as árvores do canteiro central da avenida apareceram com as
hastes pintadas de branco. Minha professora de paisagismo dizia que isso é como
“vestir cueca” nas árvores. Embora
patético, não deixa de ser engraçado. Está lá, na mesma avenida, a faixa de
ciclista precariamente pintada, enquanto as hastes das árvores estão reluzindo
de brancas.
É um pequeno equivoco?
Para mim é um erro grosseiro. Além do
desperdício de tempo e de tinta (recursos públicos, oriundos dos impostos pagos
por nós), há o risco da tinta danificar as árvores, fora a questão estética,
que não é desprezível.
Pode parecer
implicância menor, afinal existem questões tão mais relevantes: o ensino
fundamental continua sendo mal avaliado no município, a segurança prevalece preocupando os cidadãos, a saúde pública
continua precária... São grandes e fundamentais questões que, no entanto,
rodeadas pelos pequenos equívocos do dia a dia continuam a comprometer a eficiência
e a eficácia da gestão municipal.
Afinal, trata-se da alocação
de recursos públicos. A mesma tinta que foi gasta para colocar “cueca nas
árvores” e as mesmas pessoas que foram
alocadas para fazê-lo, não poderiam ter sido utilizadas para a feitura da faixa
de ciclistas?
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