sábado, 30 de setembro de 2017

Nossa Viçosinha

Hoje é dia da cidade. Para o momento, seria mais adequado exaltar as coisas boas de Viçosa, que, felizmente, são muitas. Carregando esse nome lindo, nossa  Viçosinha, como a chama minha filha, deveria e poderia ser um lugar melhor. Não que não seja bom. É, segundo alguns rankings que tem sido divulgados por ai, um dos melhores lugares para se morar em Minas Gerais.
Em minha opinião, só não é melhor por conta desse grupo de mandatários que encontra-se aboletado no poder, há tanto tempo. Os últimos chefes do executivo viçosense fizeram da casa rosada, um lugar encardido, onde os legítimos anseios do povo raramente foram levados em conta. 
Como se sabe, o aspecto visual das instituições diz bastante sobre o que elas são, ou, pelo menos como estão sendo conduzidas. Como parte da cultura, a sede das organizações expressa muito sobre as intenções dos seus dirigentes; sobre a disposição para manter ou não um diálogo aberto com seus  interlocutores e comunica, de maneira velada, uma série de intentos não claramente expressos em seus documentos formais.
Há pouco tempo, transferiram os gabinetes do executivo municipal para um antigo prédio que fez história como escola e que já abrigava algumas secretarias do governo municipal, porém encontrava-se em um precário estado de conservação. Por incrível que pareça, ao mudar todo o aparato municipal para esse imóvel, fez-se uma reforma apenas na fachada do prédio e nos gabinetes mais importantes, ficando as demais partes da edificação em estado lamentável. O descaso com que tratam as questões municipais fica bem evidente em condutas como essa.
Viçosa é um lugar aprazível, de bom clima, de gente amável, é sede de uma instituição federal de ensino conhecida e respeitada nacionalmente, não merecia ser castigada por gestão municipal tão despreparada. Ou seria mal-intencionada? Ou as  duas coisas ao mesmo tempo?
Aqui, a educação, a saúde, o transporte, a limpeza pública e a maior parte das outras questões que fazem parte do rol de atribuições municipais são tratadas com descaso, ou adotando-se condutas incompreensíveis para a maior parte do povo.
Apesar de haver entre a população, tanta gente preparada e bem-intencionada disposta a contribuir para a melhoria de Viçosa, pouca coisa ou quase nada se faz para que tenhamos um lugar melhor para morar, uma cidade mais humana, mais limpa e com mais oportunidades para todos. Geralmente essas pessoas que não fazem parte da administração pública atuam e lutam, individualmente, ou em grupos por intermédio de ONGs – Organizações Não Governamentais em prol de melhorias para a cidade. No entanto, raramente suas sugestões e projetos são aproveitados.
A mais bonita pista de caminhada
O poder público parece preferir a improvisação, o amadorismo e o compadrio. Isso para dizer o mínimo, pois sabe-se que há interesses econômicos e políticos que orientam ações e decisões que geralmente privilegiam os poderosos de sempre, em detrimento da população que mais necessita de serviços municipais de qualidade.
Apesar disso, amamos Viçosa e seu ambiente alegre. Gostamos de viver nesse reboliço que é feito de gente que chega a toda hora, mas também e principalmente por aqueles que aqui nasceram ou que, como é o meu caso, escolheram viver nessa cidade acolhedora. Aqui não temos um dos maiores PIBs (Produto Interno Bruto) do Brasil, mas temos uma distribuição de renda menos desigual que na maior parte do país; não convivemos apenas com pessoas sem preconceitos, mas vemos menos discriminação e menos crueldade com os que ousam ser diferentes; raramente nos deparamos com um morador de rua, ou um pedinte e nunca presenciei, felizmente, ações de desrespeito e, ou crueldade com essas pessoas, como a que observamos com frequência em muitas cidades tidas como boas. 
A casa branca sempre impecável
 Enfim, aqui a sede da prefeitura é encardida, mas temos a casa branca sempre impecável, muitas ruas são esburacadas e mal sinalizadas, mas desfrutamos das mais bonitas e bem cuidadas pistas de caminhadas que poderíamos desejar; a elite política é "de lascar", mas o povo, no geral, é amável, acolhedor, culto e bem intencionado. E as festas de Viçosa são sempre as melhores, quanto a isso creio não restar dúvidas. Nossa Viçosinha tem muita coisa coisa boa das quais podemos nos orgulhar.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Primavera

Ipê com ninho de João Peneném
Temos tido motivos de sobra para andar tristes e preocupados com acontecimentos atuais. Catástrofes com grande quantidade de mortos e feridos em vários países da América, intolerância e perseguição a refugiados pela Europa. E aqui no Brasil, ai meu Deus, governo ilegítimo propondo e aprovando reformas que retiram direitos dos trabalhadores, bancadas inteiras de deputados e senadores atolados até o pescoço em processo de corrupção, órgãos do judiciário tomando decisões preconceituosas e retrógradas, arte sendo censurada, além de muitos outros motivos para andarmos aborrecidos. 
Em nossa região, as coisas não andam melhores: políticos descomprometidos com o bem estar do povo, serviços públicos de péssima qualidade, descaso com a natureza. Estamos atravessando um período de seca intensa com racionamento de água,  o que já virou rotina nos últimos anos. 
É duro ver as plantas pedindo água e não termos como regá-las a vontade. Aproveita-se a água da máquina de lavar, reduz-se o consumo em tudo que é possível para ver se podemos, pelo menos de vez em quando, borrifar um pouquinho de água na hortinha minúscula, nas frutíferas em vasos e nos canteiros nos geral.
Tucanos vistos da minha janela. Foto: Fernanda Pônzio
Talvez até por isso, pelo cuidado que tenho com o jardim, meu quintal virou um oásis de passarinhos. Mais do que nunca eles estão habitando intensamente o nosso espaço. Beija-flores e bem-ti-vis, sabiás, canarinhos, tico-ticos, o raro sahí e muitos outros andam mais presentes do que nunca. Agora apareceram também lindos tucanos do bico alaranjado, uma coisa rara por aqui. 
Só mesmo a nossa mãe natureza, mesmo tão judiada, para nos retirar do estado de desânimo e desconsolo que tem prevalecido entre nós, por conta de tanta barbaridade que os homens andam fazendo pelo mundo afora.