segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O POVO BRASIEIRO – Darcy Ribeiro

 

Inspirador, necessário e definitivo. Assim é O Povo Brasileiro – a formação e o sentido do Brasil, esse livro magistral. É um daqueles que deveria ser leitura obrigatória em todos os cursos de graduação, nesse nosso país que sabe tão pouco de si mesmo.

Objeto de extensa pesquisa documental, não foi por acaso que este livro demorou trinta anos, sendo escrito e reescrito, antes de ser publicado, próximo à morte de seu autor, o antropólogo, professor e político brasileiro, Darcy Ribeiro.

Ao mesmo tempo que coloca o dedo nas feridas de nossas mazelas, descreve com maestria as dores do sofrido parto que nos originou, registando nossas origens muitas vezes nada edificantes.

Objeto de extensa pesquisa documental, na obra encontramos um relato singular sobre nós, sobre quem somos e como nos formamos enquanto povo e nação. Indispensável porque, como disse o autor "nenhum povo pode viver sem uma teoria de si mesmo".

O livro custou a Darcy Ribeiro uma vida inteira de pesquisas documentais e etnográficas e constitui uma  reflexão sobre os desdobramentos do confronto de culturas radicalmente distintas – a lusitana e a indígena.

A obra ajuda-nos a compreender muito de nosso complexo de vira-latas. Sendo, nossos ancestrais, fruto do cruzamento de portugueses, com mulheres indígenas nativas, fomos, segundo Ribeiro, vítimas de duas rejeições drásticas. Os brasilíndios não puderam identificar-se com os pais portugueses que os rejeitavam e “os viam como impuros filhos da terra”. As populações nativas indígenas, por sua vez, os desprezavam, porque segundo suas crenças e tradições, "... quem nasce é filho do pai e não da mãe...” Dessa forma, não podiam identificar-se com uns, nem com outros.

Ao nos apontar quem somos, como nos formamos enquanto povo e nação, o autor evidencia a violência direta, sexual e estrutural do processo de miscigenação conduzido por meio da subjugação da massa de indivíduos constrangidos, depreciados e desumanizados. E de como os africanos feito escravos que aqui forçosamente aportaram, se integraram à  etnia brasileira, encontrando já constituída  um início de civilização luso tupi, à qual foram obrigados a se incorporar e na qual tiveram que aprender a viver.

Evidenciando as qualidades singulares de nosso povo híbrido,  o livro desnuda a desigualdade e a brutalidade que se impõem no Brasil desde sua origem, e ajuda-nos a conviver com as cicatrizes de uma sociedade marcada pelo escravagismo e pelo latifúndio extrativista. Leva-nos a reconhecer as qualidades singulares desse povo mestiço, formado e enriquecido pela confluência de matrizes diversas, que se converteram em uma identidade brasileira, ajudando-nos a valorizar o potencial de nossa brasilianidade.

Essa obra prima é, antes de tudo, uma declaração de amor ao Brasil, uma reafirmação da admiração do autor por nossa gente e um manifesto de esperança em nosso futuro. Faz parte do sonho do antropólogo em ajudar a construir aqui, uma sociedade solidária e soberana.

Para finalizar deixo claro que essas poucas linhas que escrevo não são uma resenha, ou algo que possa dar uma ideia do conteúdo deste livro. Nada do que foi escrito sobre O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, será capaz de expressar a grandiosidade dessa obra. O que faço aqui é apenas um convite aos que ainda não o leram para que não deixem de fazê-lo o quanto antes.