Inspirador, necessário e definitivo.
Assim é O Povo Brasileiro – a formação e o sentido do Brasil, esse livro
magistral. É um daqueles que deveria ser leitura obrigatória em todos os cursos
de graduação, nesse nosso país que sabe tão pouco de si mesmo.
Objeto de extensa pesquisa
documental, não foi por acaso que este livro demorou trinta anos, sendo escrito
e reescrito, antes de ser publicado, próximo à morte de seu autor, o
antropólogo, professor e político brasileiro, Darcy Ribeiro.
Ao mesmo tempo que coloca o dedo
nas feridas de nossas mazelas, descreve com maestria as dores do sofrido parto que
nos originou, registando nossas origens muitas vezes nada edificantes.
Objeto de extensa pesquisa documental, na obra encontramos um relato singular sobre nós, sobre quem somos e como nos formamos enquanto povo e nação. Indispensável porque, como disse o autor "nenhum povo pode viver sem uma teoria de si mesmo".
O
livro custou a Darcy Ribeiro uma vida inteira de pesquisas documentais e
etnográficas e constitui uma reflexão sobre os desdobramentos do confronto de culturas
radicalmente distintas – a lusitana e a indígena.
A obra ajuda-nos a compreender
muito de nosso complexo de vira-latas. Sendo, nossos ancestrais, fruto do
cruzamento de portugueses, com mulheres indígenas nativas, fomos, segundo Ribeiro, vítimas de duas rejeições drásticas. Os brasilíndios não puderam
identificar-se com os pais portugueses que os rejeitavam e “os viam como
impuros filhos da terra”. As populações nativas indígenas, por sua vez, os
desprezavam, porque segundo suas crenças e tradições, "... quem nasce é
filho do pai e não da mãe...” Dessa forma, não podiam identificar-se com uns, nem
com outros.
Ao nos apontar quem somos, como
nos formamos enquanto povo e nação,
o autor evidencia a violência direta, sexual
e estrutural do processo de miscigenação conduzido por meio da subjugação da
massa de indivíduos constrangidos, depreciados e desumanizados. E de
como os africanos feito escravos que aqui forçosamente aportaram, se integraram
à etnia brasileira, encontrando já constituída um início de civilização luso tupi, à qual
foram obrigados a se incorporar e na qual tiveram que aprender a viver.
Evidenciando as qualidades singulares de nosso povo híbrido, o livro desnuda a desigualdade e a brutalidade
que se impõem no Brasil desde sua origem, e ajuda-nos a conviver com as
cicatrizes de uma sociedade marcada pelo escravagismo e pelo latifúndio
extrativista. Leva-nos a reconhecer as qualidades singulares desse povo mestiço,
formado e enriquecido pela confluência de matrizes diversas, que se converteram
em uma identidade brasileira, ajudando-nos a valorizar o potencial de nossa
brasilianidade.
Essa obra prima é, antes de tudo, uma
declaração de amor ao Brasil, uma reafirmação da admiração do autor por nossa
gente e um manifesto de esperança em nosso futuro. Faz parte do sonho do
antropólogo em ajudar a construir aqui, uma sociedade solidária e soberana.
Para finalizar deixo claro que
essas poucas linhas que escrevo não são uma resenha, ou algo que possa dar uma
ideia do conteúdo deste livro. Nada do que foi escrito sobre O Povo Brasileiro,
de Darcy Ribeiro, será capaz de expressar a grandiosidade dessa obra. O que
faço aqui é apenas um convite aos que ainda não o leram para que não deixem de
fazê-lo o quanto antes.
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