terça-feira, 29 de dezembro de 2020

CONVERSAS DE JARDINEIROS: banho de ervas, conexão com a terra e com o sagrado das plantas

 

Além de encantar porque são lindas e cheirosas, algumas plantas possuem outros poderes. Viver no meio delas e praticar o seu cuidado costuma proporcionar paz e relaxamento. Seus benefícios vão além do prazer em apreciá-las. Há os que lhes atribuem poderes mágicos. Quem pode provar que não?

Plantas fazem parte de rituais e crenças, principalmente em datas carregadas de simbolismo, como é a virada do ano.  Acredita-se que algumas delas sejam revigorantes e curativas, carregando uma aura de misticismo, alimentada por virtudes a elas  atribuídas desde nossos ancestrais. Seriam capazes de potencializar forças da natureza em benefício dos que sabem lidar com elas. Supõe-se que atuam como um filtro, diminuindo a negatividade em ambientes, melhorando a energia e espalhando a paz.

O uso de ervas, em forma de banho, escalda-pés, chás e emplastros ou cataplasmas é prática entre diversos povos. Várias plantas se prestam a esses usos. Não se trata apenas de crenças e tradições populares. Há estudos e pesquisas concluídos ou em andamento,  sobre as propriedades medicinais de um sem número de plantas, sendo que algumas já fazem parte da composição de diversos medicamentos e, ou nutrientes, ou complementos alimentares.

O ano de 2020 não foi dos melhores, para  se dizer o mínimo. Por isso, agora nesse momento de virada, vamos usar de todos os recursos e artifícios de que temos notícia, para atenuar essa maré de má sorte.

Há uma lista enorme de plantas que podem ser usadas em forma de banhos de limpeza e reenergização. Para o preparo dos banhos que menciono aqui usam-se poções generosas das plantas, (meia dúzia de galhos ou hastes florais),  que devem ser colocadas em dois litros de água fervente. Tampa-se a vasilha e espera-se que  a água fique em temperatura própria para o banho. Essa deve ser jogada no corpo, depois do banho normal. Sugere-se uma secagem rápida e superficial.

 Selecionei sete plantas bastante comuns e fáceis de serem encontradas em jardins, quintais, hortas e feiras, com seus benefícios mais alardeados.

1.    Alecrim  -  acredita-se que o Alecrim possa trazer força e coragem a uma pessoa desanimada. Conhecida como a planta da felicidade e da prosperidade, o alecrim combate a depressão e eleva os ânimos. Tanto o banho quanto o escalda pés feitos com os galhos e as folhas da planta têm poderes revigorantes, além de possuir um cheiro cítrico muito agradável.













2.    Artemísia – além de proteção espiritual, a Artemísia desenvolve a intuição, e atua na conexão com o sagrado feminino. Suas folhas e pequenas flores brancas são utilizadas há milênios em forma de banho para tratar de problemas do aparelho urogenital e  também para acalmar e relaxar dores musculares.

Arruda: banho poderoso

3.    Arruda  -  o banho com essa erva poderosa é um aliado para afastar energias ruins e promove a limpeza espiritual e a proteção do corpo. Embora muitos pensem tratar de uma planta típica de religiões e ritos de matrizes africanas, a Arruda era usada desde a Grécia antiga e faz parte também de rituais cristãos.

4.    Guiné – nativa do Brasil, essa plantinha de cheiro acentuado é considerada mensageira de sorte. Um banho feito com suas folhas e flores pode aliviar dores pelo corpo sensação de cansaço e desânimo, renovando as energias. Recomenda-se evitar contato com as partes intimas, pois é uma planta com certo grau de toxidade.

Guiné 


Manjericão, cheiroso e curativo

5.    Manjericão – Largamente utilizado como tempero, o Manjericão possui propriedades incríveis, quando usado em forma de banho de limpeza. Seu cheiro é muito agradável e acredita-se que o seu uso serve para afastar a negatividade e o esgotamento físico, minimizando a angustia e o desânimo.


6.    Rosa branca – Muito empregadas na indústria cosmética, as pétalas de rosa branca quando utilizadas em banho promovem a limpeza física e espiritual. Além de atenuar a sensação de cansaço, esse banho atrai paz e tranquilidade, exalando fluidos benéficos e proporcionando sensação de relaxamento e bem estar.

7.    Sabugueiro  - essa planta linda e pouco conhecida de arbusto frágil e cachos brancos pode proporcionar um banho poderoso. Tem propriedades de reduzir a fraqueza diante de grandes desafios e atenua o  medo de perder o controle da situação; atua contra o desânimo e na reconstrução da auto confiança e da autoestima.

Sabugueiro

Para finalizar desejo um bom 2021 a todos e  replico  a mensagem  do meu sindicato: estamos aqui para semear esperança, ano novo é semente em nossa caminhada.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

TEMPOS DE NATAL SINGELO. TEMPO DE CAETANO

  

“E vejo e peço

Dias de Outras cores...” (Caetano Veloso em Noite de Crital)

 

Árvore brasileira, inspiração cerrado

Este ano pede um Natal com  celebrações singelas. Vamos substituir nossas reuniões maiores, festivas e animadas por encontro mais íntimo apenas entre os residentes na mesma casa. Creio que, entre nós, os cristãos, nem mesmo uma pandemia como a que estamos vivendo, justificaria deixar a data passar completamente em branco.

Aqui, além da celebração religiosa, compõem esse ritual de fim de ano, as tradições, os costumes e as crenças de família. Eles retornam para nos lembrar quem somos, para que não esqueçamos onde estão fincadas nossas raízes, por mais que distanciemos  delas.

Mesmo que a indústria e o comércio, com suas artimanhas intensivas vivam a nos massacrar dizendo que o Natal é um tempo de comprar e consumir cada vez mais, teimamos em manter as tradições e os costumes e as nossas crenças que nos direcionam. Valorizamos um paninho bordado a mão, um santinho de barro,  um arranjo de flores colhidas do nosso jardim, uma comida caseira, entre tantas outras delicadezas.

Cerrado inspira presépio

Reafirmamos nossa crença de que celebrar o Natal é armar o presépio e enfeitar a árvore, pensar no cardápio, preparar aqueles doces que demoram dias sendo elaborados. E, mesmo sendo somente para o pessoal de casa, animar-se a  escolher a melhor toalha, buscar aquela louça reservada, porque a época de Natal é, antes de tudo um tempo de dedicação e amor. E de expressar gratidão.

O que pode ser melhor e mais reconfortante, que os afetos nesses tempos de espanto, nesse turbilhão de incertezas e indefinições como são os dias atuais?

Dias no preparo dos figos de Natal

Tudo pode ser mais delicado ainda, se houver uma apresentação de Caetano Veloso, como a que acabamos de assistir pelas redes sociais. Ele esteve sereno e com o olhar quase triste, mas com sua poesia e sua música maravilhosas e uma presença marcante nesse espetáculo intimista, sem o excesso de sons e cores, habituais em apresentações de grandes artistas em fins de ano.

Um cenário minimalista, o palco só seu.  Caetano foi-se reafirmando grande na simplicidade, exaltou e recebeu em participação cada um de seus filhos; babou para os netos, relembrou e enalteceu amigos. Recordou com afeto suas origens, sua brasilidade. Falou de presépio, de infância e de cheiro de pitanga. Lembrou e cantou Assis Valente, denunciando, mais uma vez, nossa enorme desigualdade social: “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”.

Em celebrações de fim de ano, costumamos pensar sobre essa entidade vaga, “tempo, tempo, tempo, tambor de todos os ritmos”. Caetano o tempo todo, destilou poesia e nos fez refletir: “Existirmos, a que será que se destina... ?” e não nos permitiu esquecer que “Gente quer ser feliz... Gente é para brilhar, não para morrer de fome”.

Generoso e modesto, o artista  sabe que é um dos maiores dos tempos modernos. Todavia, foi incapaz de deixar escapulir uma faísca sequer de arrogância, de altivez exagerada. Fez, merecidamente uma declaração de amor a “Sua branquinha, seu irmão” a mulher que  lhe assegura a  sustentação necessária para se manter ativo e moderníssimo, com quase oitenta anos de idade.  

Ele disse ao iniciar o relato de suas memórias de Natal que via “em torno da manjedoura, o mundo”. Nessa apresentação transmitida pela internet, vimos em torno de Caetano, o mundo. Gratidão.