domingo, 31 de julho de 2022

CONVERSAS DE JARDINEIROS - Quando um Canteiro Vira uma Confusão

Na postagem anterior contei que apareceu um intruso no meu jardim e que, apesar de bonito, ele não estava acrescentando beleza ao espaço. E por que? A principal razão era a falta de harmonia e equilíbrio em relação às espécies que já existiam no canteiro. Alguns leitores disseram: espero que dê uma chance ao cipó de São João,  essa planta linda que vai embelezar ainda mais o seu jardim. Ou ainda: não corte, não cometa essa heresia, não seja escrava das regras de paisagismo. Deixa a boniteza ficar. Acatei apenas em respeito ao momento da florada, agora não mais.

Jardins são espaços concebidos para promover boas sensações. Não se busca  somente a beleza, mas o equilíbrio; quando bem planejado e com uma manutenção correta, um jardim pode também oferecer  tranquilidade, relaxamento, harmonia e bem estar.

Para atender tais requisitos não basta ir colocando plantas atraentes. Engano bastante comum consiste em pensar que mais flores juntas, com maior variedade e diversidade de cores e espécies  podem resultar em um jardim exuberante. Diferentemente disso, um jardim que exala beleza, no geral, contem também outros atributos como a simplicidade, a ordem e a leveza.

Optar pelo singelo, escolhendo, poucas espécies de plantas, que combinem entre si, em cores, alturas e texturas costuma  quase sempre dar bons resultados na composição de canteiros.

Vejam um exemplo de um jardim confuso e desajeitado. Não se trata obviamente de rotular como errado, o que seria bastante pretensioso. Em um espaço circular de cerca de cinco metros de diâmetro, seis espécies diferentes de plantas foram dispostas, conflitando entre si, o que  provocou uma desordem visual, causando um efeito de desiquilíbrio e confusão.

Lirios, moreias, vincas brancas e agapantos,
nada harmonizados

Parece que a intenção era fazer um jardim por setores, enquadrando as espécies diferentes em partes delimitadas por  raios, formando conjuntos com gerânios de cores variadas, vincas da branca e da rosa, lírios amarelos, moreias, agapantos e, mais curioso ainda, uma agave em meio a tudo isso. Embora, algumas espécies estejam em plena floração, o espaço transformou-se em um emaranhado confuso e feio, praticamente sem atrativo algum. Talvez ali pudessem estar lindamente colocados apenas os gerânios, ou uma composição desses com as vincas. Ambos possuem alturas um pouco diferenciadas, texturas semelhantes e cores diversas, gerando um bom efeito. Outra escolha, por exemplo,  seria explorar a combinação das floradas roxas e amarelas de agapantos e lírios que, além disso,  possuem folhagens alongadas que harmonizam bastante entre si.

Além do mais, observando o conjunto vê-se que todo o canteiro possui falhas nas plantas, matos e irregularidades no solo, indicando que a manutenção não está boa, condição essencial para que um jardim esteja bonito, equilibrado e atraente.

 

Agave perdida no canteiro

terça-feira, 12 de julho de 2022

CONVERSAS DE JARDINEIROS - Um Intruso no Jardim

 

Desde que implantei meu jardim, tomei a decisão de ter um espaço planejado, sem muitas misturas, privilegiando espécies tropicais. Optar por  um espaço assim, onde cada planta introduzida fique em harmonia com as demais e buscando facilidade com a manutenção tem sido uma escolha nem sempre muito fácil. Eventualmente ganho vasos com flores, como lírios, crisântemos, e begônias, por exemplo. É com certa pena que não os incorporo ao jardim, sendo coerente com a vontade de não embolar nem misturar muito as plantas, o que descaracterizaria a proposta que optei por adotar. Outra escolha que venho mantendo a duras penas é a de não introduzir trepadeiras no jardim. Embora muitas sejam lindíssimas, elas costumam ser invasivas, galgar alturas difíceis de alcançar para podas e limpezas e quase sempre espalham folhas e flores secas em profusão, dificultando meu trabalho de jardineira.

Assim, cada espécie que compõe meus canteiros foi cuidadosamente escolhida respeitando não somente as minhas preferências, mas também atentando para algumas técnicas paisagísticas que ajudam a preservar a identidade e a beleza do espaço.

Há três anos em consequência de uma reforma na casa, as plantas sofreram alguns impactos. Recentemente tenho observado com alegria que, novamente,  o jardim readquiriu sua plenitude, exigindo apenas os cuidados de rotina.

E então surgiu um intruso no jardim. Não foi um cupinzeiro, felizmente nada de ataque de formigas, nem apareceu erva daninha.


O intruso é bonito, muito bonito. Sua coloração vibrante  como o fogo não o deixa passar despercebido. Ele atrai beija flores e borboletas. Ele é sedutor
  e, para mim, tem muitas histórias. Faz parte da minha infância e remete a  memórias agradáveis. Ele é uma trepadeira e surgiu do outro lado do muro, em um lote vazio, que não me pertence. Galgou silenciosamente a altura considerável da divisória. Agora está lá, lindamente instalado no meio das dracenas do meu canteiro rente ao muro. Bonito, mas em  desarmonia com as demais espécies. É um cipó de São João. Como o jardim é um espaço de permanente aprendizado, não pude evitar a pergunta: terá surgido para me ensinar algo?

Por agora decidi deixá-lo. Pelo menos enquanto durar essa florada vou permitir que ele me lembre todos os dias que, por mais que eu tente,  tenho pouco ou quase nenhum controle sobre o que acontece ao meu redor. E que, algumas vezes, eventos  inesperados podem acrescentar beija flores e bonitezas onde não havíamos planejado.