quarta-feira, 31 de julho de 2013

Espécie do Mês

O bacana de ter um jardim com diversas variedades de orquídeas é que praticamente todo o tempo temos uma espécie florida. Neste mês de julho as Celogines estão  lindas. Elas gostam especialmente quando o frio é bastante intenso como neste ano.
A orquídea Celogine, da espécie cristata, embora seja originária do sudeste asiático, adapta-se bem aqui no Brasil. Especialmente nas regiões mais altas e frias e, se mantidas sob a sombra de árvores ao ar livre, costumam oferecer farta florada.

Orquídea Celogine da espécie Cristata

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sant´Ana e São Cristóvão

Minha terra está em festa. O mês de julho é, sem dúvida, o período de maior afluxo de pessoas a Guaraciaba-MG. Tanto os filhos da terra residentes em outras regiões do país, como pessoas das redondezas se dirigem à pequena cidade próxima a Ouro Preto, para comemorarem a sua padroeira Sant´Ana e, também para matarem a saudade da terrinha. Cidade erguida à beira do rio, num vale em meio à cadeia de montanhas de Minas, em Julho, em Guaraciaba, faz frio “pra daná”. A boa comida mineira, a cachacinha tradicional, os casos contados ainda à beira do fogão à lenha, a dança agarradinha nos bailes - tudo isso e a alegria das pessoas aquecem corpo e alma.
A Padroeira - Sant´Ana era esposa de São Joaquim. Foram os pais de Maria de Nazaré, Nossa Senhora, mãe de Jesus. Ana foi considerada estéril durante muitos anos e, pelo poder da oração e da penitência de seu marido, finalmente engravidou-se dando a luz, à mãe do Salvador. A paciência e resignação com que enfrentaram a esterilidade foram premiadas com a graça de serem os pais de Maria, portanto avós de Jesus.   O nome Ana tem origem no hebraico Hanna e significa graça. Dia 26 de julho é o dia de Sant´Ana.
Sant´Ána - a padroeira
Mas em Guaraciaba a festa começa antes. No mês de Julho, são vários dias de festas, que se iniciam com a expectativa da chegada dos visitantes. As reuniões em família, os encontros com os amigos e parentes, as barraquinhas, o forró, tudo é festa.
São Cristóvão – Conta a tradição que São Cristóvão teria ajudado na travessia de um menino em um rio. Durante o percurso, a criança ficava cada vez mais pesada, como se o santo carregasse o mundo nos ombros. Ao final o menino teria revelado àquele que o carregava, que ele vinha transportando o próprio criador de todas as coisas. Por esta razão, São Cristóvao é considerado o protetor dos motoristas e dos taxistas. Em Guaraciaba, no dia dia 25 de julho, dia em que é comemorado o dia de São Cristóvão, há uma linda procissão motorizada. Primeiro seguem os automóveis e depois as motocicletas, que, como se sabe tem se tornado cada dia mais, um transporte comum nas cidades e também no meio rural.
Aproveitando o ensejo das festas de Guaraciaba, confeccionei dois estandartes: o de Sant´Ana e do de São Cristóvão.
Para o de Sant´Ana utilizei elementos e referências femininas, sob fundo azul celeste, cor do manto de Maria. Inseri ponto russo cor de rosa e trabalhei com sinhaninhas, galões dourados, contas e rosas de seda na cor nude. Tentei expressar suavidade e, acima de tudo leveza e feminilidade. Acabei com fitas coloridas e cordão de São Francisco lilás.

Para o estandarte de São Cristóvão, utilizei o fundo azul escuro para compor com o rio da imagem e trabalhei com as três cores da sinalização do trânsito: verde, amarelo e vermelho. Contornei com viés dourado para clarear um pouco o azul. Finalizei com fitas em três tons de verde e cordão na cor verde escura. 
São Cristóvão-protetor dos motoristas
 

sábado, 20 de julho de 2013

Geleia de laranja

A laranja Bahia é uma das frutas que mais aprecio. Tem a acidez ideal, quase não tem sementes e sua polpa alaranjada é um convite à degustação.  Além de ser deliciosa naturalmente, propicia a feitura de uma geleia sensacional.
Geleias, no geral não me provocam  tanto entusiasmo. Quase todas são muito doces e perfeitamente dispensáveis tanto no café da manhã, como no lanche da tarde. Além do mais, são altamente calóricas  e, para quem  vive atenta ao peso, como é o meu caso, dispensá-las não representa tanto  sacrifício.
Mas essa afirmação não se aplica à geleia de laranja Bahia, uma preciosidade culinária de minha família e que faço questão de rememorar todos os invernos. Por aqui a fruta é farta nesse período. Desde maio até julho, os pomares das casas ficam carregados e costumamos encontrá-las com bons preços nos mercados e feiras.
Fazer a geleia dá um pouquinho de trabalho, mas o resultado compensa.
Para quem se aventura a experimentar segue a receita:
Geleia de Laranja  
Linda e deliciosa
                           
Ingredientes
4 laranjas Bahia bem maduras (tamanho médio)
250 gr de açúcar cristal
Água para cozinhar

Modo de Preparo
Primeiro retire superficialmente o sumo das laranjas, com o auxílio de um ralo, ou com uma faca bem afiada. O segredo é retirar o sumo, sem danificar a casca que deve permanecer bem amarelinha.
A laranja sem o sumo  
Depois disso, lave as laranjas inteiras, parta-as ao meio e esprema levemente  o caldo, reservando-o.
Metades espremidas 
Coloque as metades espremidas das laranjas em um litro de água e leve a cozinhar em uma panela de pressão. Deixe por 5 minutos, após a fervura, escorra a água e troque-a por outra também fervente, voltando à pressão, por mais 5 minutos. Repita o processo por três vezes, pelo menos.  Quando trocar a última água, verifique a laranja ficou bem macia, quase desmanchando. Esse é o ponto. Escorra então a última água, retire e despreze os umbigos e o pavio branco do meio das laranjas. Amasse a polpa ligeiramente com um garfo e leve ao fogo novamente, juntando o açúcar e o caldo que ficou reservado. Deixe cozinhar por mais 10 minutos, mexendo de vez em quando. Está pronta a geleia. Deixe esfriar e guarde nos potes.
A geleia fica maravilhosa, com um sabor acentuado de laranja Bahia e pouco doce. É ideal para ser consumida no café ou lanche, com torradas e, ou biscoito água e sal, também com uma camada de requeijão cremoso, ou queijo Minas. Ainda acompanha bem bolos e roscas caseiras.
Se guardada em potes esterilizados dura até um mês na geladeira.


sábado, 13 de julho de 2013

ANARQUISMO E UTOPIA

Pode parecer contraditório. Pode parecer não, certamente é. E não seríamos mais pobres se andássemos sempre em linha reta? Nossas contradições não nos fazem mais interessantes? Para mim é assim e tenho perdido, cada vez mais, o pudor de confessar.
Como posso, sendo professora na área de administração, que prega  organização e normas, como formas de disciplinar e institucionalizar procedimentos, ter uma simpatia tão grande, uma tendência mesmo, ao anarquismo?
Confesso isso, assim, “cheia de dedos”. Nem é pra tanto, pois o anarquismo não é contrário à organização, nem às instituições, mas defende organizações libertárias. Sonha com a ausência de coerção, não de ordem.
Acredito que todos poderíamos viver melhor com menos governo, menos leis e maior liberdade. E se fôssemos  tão desenvolvidos e educados que não precisássemos de governo ou de instituições repressoras que nos ditassem as ordens? Ah, doces utopias que nos alimentam, por que não?
A ideia equivocada de que anarquismo é sinônimo de desordem popularizou-se, depois do século XIX, por intermédio de comunicação patrocinada por entidades patronais e religiosas. Isso aconteceu em uma época em que os trabalhadores começaram a se organizar e fortaleceram-se os sindicatos. Outro erro comum é  pensar o anarquismo como a ausência de laços de solidariedade entre os homens. Ao contrário: anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade, solidariedade, coexistência harmoniosa, propriedade coletiva, autodisciplina, responsabilidade e instituições de autogestão.
Sendo um movimento político que defende uma organização social baseada em consensos e na cooperação de indivíduos, propõe que sejam abolidas  todas as formas de poder - uma sociedade sem dominação. A proposta de instituições autogestionárias prevê que os indivíduos se auto organizem, assegurando que todos tenham a mesma capacidade de decisão. Esta sociedade apresenta-se como uma "Utopia", um sonho, um estado idealizado. No geral, anarquistas defendem os seguintes ideais:
- Direitos Fundamentais dos Indivíduos -  primazia do indivíduo em relação à sociedade, reconhecimento que toda pessoa é única, sendo detentora de direitos naturais que não podem ser negados por nenhum tipo de sociedade.
- Ação Direta -  anarquistas defendem o valor da ação direta do indivíduo na realidade social, descredenciando o sistema de representação.
- Crítica de Preconceitos Ideológicos - Abominando veementemente os preconceitos sociais, os anarquistas propõem destruir todas os condicionantes mentais que impedem o indivíduo de ser livre e de se assumir como tal.
- Educação Libertária - A educação é vista pelos anarquistas como meio de emancipação dos indivíduos; pela educação podem-se construir as liberdades individuais, sem comprometer a vida em sociedade.  
- Auto-organização - Organizações são válidas, desde que sejam  resultado de ação consciente e voluntária de pessoas, com os membros mantendo igualdade entre si.
- Sociedade Global - Um dos  grandes ideais do anarquismo é a constituição de uma sociedade planetária com livre circulação de pessoas.
Assim, utopicamente, o anarquismo idealiza a ruptura com a autoridade, seja política ou religiosa, abomina a propriedade privada e outros tipos de instituições que diferenciam pessoas e cerceiam a liberdade individual.
Anarquistas são antes de tudo idealistas e, no mundo inteiro, tem estado ligados à criação de sociedades mutualistas, cooperativas, associações de trabalhadores  e experiências de empresas auto- gestionárias.
Você pode saber mais sobre anarquismo em:



sábado, 6 de julho de 2013

Filhos da Época

Minha mais recente descoberta literária é Wislawa Szymborska. Nome quase impronunciável em nossa língua, a escritora polonesa, embora tenha uma obra curta, ganhou o  prêmio Nobel de literatura , em 1996. Morta no ano passado, a poeta empregava uma linguagem simples e moderna, utilizando um tom irônico e realista. O poema a seguir, parece ter sido  escrito para o momento que estamos vivenciando no Brasil.

Filhos da época

Somos filhos da época
E a época é política

Todas as tuas, nossas, vossas coisas
Diurnas e noturnas
São coisas políticas.

Querendo ou não querendo,
teus genes  têm um passado político,
tua pele, um matiz político, teus olhos, um aspecto político.

Até caminhando e cantando a canção
Você dá passos políticos
Sobre um solo político

Versos apolíticos também são políticos, e no alto a lua ilumina
Com um brilho já pouco lunar.
Ser ou não ser, eis a questão.
Qual questão, me dirão.
Uma questão política.

Não preciso nem mesmo ser gente
Para ter significado político.
Basta ser petróleo bruto,
Ração concentrada ou matéria reciclável.
Ou mesa de conferência cuja forma
Se discutia por meses a fio:
Deve-se arbitrar sobre a vida e a morte
Numa mesa redonda ou quadrada.

Enquanto isso matavam-se os homens,
Morriam os animais,
Ardiam as casas,
Ficavam ermos os campos,
Como em épocas passadas
E menos políticas.

(In: WISLAWA SZYMBORSKA [poemas]. Tradução Regina Przybycien. São Paulo: Cia das Letras, 2011).