sábado, 30 de julho de 2016

VIAGENS – Os encantos de Tiradentes e seu Entorno

Igreja Matriz
Aos pés da Serra de São José, Tiradentes contempla a passagem do tempo como guardião de um patrimônio de rara beleza e importância. A antiga vila de São José del Rei recebeu o nome de seu filho herói em 1889. Ao longo do século XVIII, a saga do ouro deixou em suas terras a semente da civilização mineradora, que constitui um dos pilares da identidade brasileira. Minas e o Brasil e suas tradições mais profundas estão ricamente representados e preservados na região, que faz parte de um dos trechos da estrada real. No casario colonial, nas igrejas e capelas ornadas de um barroco exuberante, nas ruas estreitas e cheias de mistério, na forte tradição cultural e religiosa, em tudo se respira a alma mineira, silenciosa e acolhedora, corajosa e altiva. Em Minas onde tudo é história, Tiradentes se projeta como território de memoria, cultura e fé.
casarios de Tiradentes

Essas palavras, adaptadas de uma placa na entrada do Museu de Santana, uma nova e majestosa atração da cidade, retratam muito bem o que é Tiradentes, uma das  cidades históricas mais charmosas do estado. Tiradentes tornou-se de uns tempo para cá,  um polo cultural acolhendo festivais importantes como o de Cinema e o de Gastronomia.
Em seus casarios e sobrados  abrigam-se hotéis e pousadas charmosos, antiquários, galerias de arte e lojas de artesanato, além de restaurantes e bares,  que oferecem o melhor da comida mineira.
Dentre as clássicas iguarias, que consolidam nossa fama de boa cozinha, as variações do frango caipira que costumam deixar os visitantes encantados: frango com quiabo,  com Ora-pro-nobis (lobrobô), ou ao molho pardo, difícil escolher o melhor. Além de outros, há também o tradicional mineirinho, deliciosa carne suína, acompanhada de tutu de feijão, feijão tropeiro, arroz e couve. Doce de leite caseiro e suas variações com amendoim ou com coco, diversas compotas, doces de frutas em barras, ou  cristalizadas, são possibilidades de sobremesa a considerar. Destaco o figo cristalizado recheado com doce de leite ou com nozes, verdadeiro manjar dos deuses.
Mineirinho, de comer rezando
Nesta época do ano costuma fazer bastante frio, o que torna a cidade ainda mais charmosa. Nos bares e restaurantes este é atenuado por aquecedores e lanternas a gás que se espalham por entre as mesas ao ar livre, tornando os ambientes alegres e românticos.
Durante o dia, muitos escolhem conhecer a cidade passeando de charretes que circulam e fazem paradas nas principais atrações, como o chafariz de São José, o Museu de Santana e as igrejas de Santo Antônio e de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Bailarina em papel marchê- Arte de Fábio Francino, preciosidades  em Bichinho
Foto: reprodução da página do facebook do artista
Fachadas das lojas repletas de artesanato
Cidades e Locais do Entorno - Estando em Tiradentes, vale a pena, dar uma esticada por locais que ficam no entorno e que oferecem boas atrações. A mais próxima é o distrito de Bichinho, localizado a apenas oito km de Tiradentes. Além de abrigar um dos restaurantes mais típicos da redondeza, o distrito respira arte por todos os lados; mantém uma profusão de lojas, ateliês e oficinas de arte e artesanato de deixar extasiados os visitantes. 
Passar um dia inteiro em Bichinho, descobrindo seus encantos e apreciando a beleza da produção local, é um programa mais que bacana.
Vale a pena também visitar os municípios de Prados e  Rezende Costa, localizados a poucos quilômetros. Este último é um centro produtor de  artesanato, especialmente de tecidos feitos em teares, que são oferecidos preços convidativos. Encontram-se opções variadas de produtos em arte têxtil, como colchas, redes, toalhas de mesa, tapetes,  jogos americanos almofadas e mantas. Há também artigos feitos em ferro, madeira e cerâmica.
A cidade de Prados, também tem origem no ciclo do ouro e faz parte do circuito trilha dos Inconfidentes, com trechos  preservados da Estrada Real. Possui um artesanato variado, tradição musical e  igrejas e casarões setecentistas, bem conservados, inclusive um que pertenceu à mulher mais atuante na Inconfidência Mineira, Hipólita Teixeira de Melo.
Cidade dos moveis em madeira de demolição
Ainda bem próximo a Tiradentes está o município de Santa Cruz de Minas, famoso pela produção de móveis artesanais em madeira de demolição. 

Paisagem bem mineira
Lindinha a Maria Fumaça fazendo manobra
 na estaçãozinha de Tiradentes
Finalmente, acredito que,  estando em Tiradentes, vale dar uma esticada até São João del Rey. O passeio vale a pena, principalmente se for feito na antiga maria fumaça que faz diariamente, em horários variados, o trajeto de ida e volta, num passeio romântico e encantador pelas paisagens de Minas. 




sábado, 16 de julho de 2016

NOSSA SENHORA DO CARMO

Compor o estandarte de Nossa Senhora do Carmo era um desejo que vinha adiando por algum tempo. Por ser a santa do meu sobrenome, a elegi padroeira da família, não sem justificativa. Há tempos, quando soube que Carmo significava jardim, fiquei bastante impressionada, pois desconheço família que se dedique com tanto amor às plantas e jardins quanto a minha. 
Além desse, atribui-se à palavra Carmo, o significado de vinha, videira, ou parreira.
Conta a tradição católica, que no século XII, um grupo de eremitas formou-se aos pés do Monte Carmelo, ou Monte do Carmo, na Palestina, mantendo ali um estilo de vida pobre e despojado. Nesse lugar onde teria se refugiado o profeta Elias, construíram uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora, que foi batizada como Capela de Nossa Senhora do Carmo, ou do Monte Carmelo. Posteriormente constituiu-se uma irmandade e os carmelitas espalharam-se por toda a Europa e pelas Américas.
Chamada de Flor do Carmelo, Maria Santíssima era cultuada e venerada por seus seguidores. Reza ainda a tradição, que a Santa teria aparecido, no dia 16 de julho, a São Simão, um dos fundadores da ordem dos Carmelitas, e lhe entregado um escapulário, como símbolo de aliança de paz e amor eterno a Deus.
Ao compor o estandarte tive em mente esse rico simbolismo e tentei entrelaçá-lo a alguns aspectos marcantes da minha família. O primeiro deles, sem dúvida o significado de jardim, atribuído à palavra Carmo e o apego que os meus Carmos  possuem com plantas e flores.
Depois, não deixou de ser referência importante, o fato de que meus avós cultivavam enorme parreira de uvas ao lado da casa onde viveram por muitos anos. Ali nasceu meu pai e a maioria dos tios, e nos reuníamos nos almoços de domingo. Todos os finais de ano, a meninada aguardava ansiosamente o amadurecer dos cachos da uva. Geralmente no dia 01 de janeiro, aniversário da minha avó, ela pessoalmente fazia a colheita e enchia uma cesta com os cachos, distribuindo-os entre os filhos e a netaiada, que fazia a festa. Antes disso, as frutas,  mesmo que aparentassem estar maduras, permaneciam intocáveis na parreira.

Outras marcas fortes que atribuo à minha família paterna são a dedicação ao trabalho, a alegria, a liberdade e a leveza da maioria de seus membros. Retratar tudo isso e todo o amor e carinho que dedico a essa cambada não foi tarefa fácil. Batuquei com esse estandarte por cerca de três meses. Muitas vezes, fiz e desfiz partes dele.
A primeira fase do trabalho consistiu em centralizar a imagem da santa em um tecido adamascado azul, que rebordei com flores em diversos tons de roxo e rosados. No alto e na lateral esquerda apliquei retalhos de renda verde, obtendo um efeito de parreira.
Um aspecto que considero marcante na feitura deste estandarte é que, em sua composição, empreguei recortes de renda branca que foi utilizada no vestido de noiva de uma prima. Contornei a imagem da Santa com recortes dessa renda claríssima e os apliquei também no acabamento da parte inferior da peça. Todavia, em minha percepção, tanta brancura não retratava a alegria, a liberdade e o desprendimento da minha família, então cuidei de “enodar”, a renda com rebordados em cores variadas, o que alegrou visivelmente o conjunto.
Na parte inferior da peça, deixei à vista um pedaço de tecido de juta (nosso velho conhecido saco de linhagem), aplicando-lhe pedras naturais também de cores variadas. Quis simbolizar a terra e as sementes, companheiras inseparáveis dos jardineiros.
No alto da imagem bordei, em ponto cruz, o nome da Santa, contornando-o com pérolas, e, para finalizar o lado direito, utilizei renda nas cores verde e roxa. Fiz ainda pequenas intervenções na imagem da Santa: apliquei pérolas e strass em sua coroa e rebordei a aréola do Menino Jesus, com linha dourada. Nas mãos da Santa e de seu Filho, reapliquei escapulários que trouxe do Convento de Nossa Senhora do Carmo em Montes Claros, Mg.

Com isso, obtive uma peça clássica e tradicional, feita com parcimônia e respeito a tradições e histórias consolidadas  no meu imaginário e no de boa parte da família.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

SÃO BENTO

O dia 11 de julho é consagrado a São Bento.
Segundo relatos da tradição cristã, São Bento teria vivido entre os anos 480 e 547, d. C., sendo originário da Itália e descendente de nobres.
Tendo sido enviado a Roma para estudar filosofia, logo se decepcionou com a superficialidade que predominava naquele ambiente e decidiu adotar um estilo de vida simples e monástico, optando por se dedicar ao estudo da bíblia e do cristianismo. Passou a habitar uma gruta, vivendo em oração e penitência.  Mais tarde juntou-se a monges em um convento, tendo sido eleito seu líder. Sua disciplina e rigor despertaram  inveja entre seus pares que tentaram envenená-lo.  Então, Bento se desligou dessa congregação e construiu seu próprio mosteiro, escolhendo como lema a frase “orar e trabalhar” e como símbolos, a cruz e o arado. Em oração e penitência, defendia a busca pelo equilíbrio do corpo, alma e espírito.
No ano de 1964, São Bento foi proclamado padroeiro da Europa, pelo papa Paulo VI, em face da grande contribuição dos monges beneditinos à preservação da cultura romana.
Nas tradições mineiras São Bento é visto como o protetor contra os animais peçonhentos e também em favor da segurança das casas e moradias no geral. Minha avó materna, que residiu a vida inteira no meio rural, mantinha uma imagem de São Bento em sua casa e creditava à fé que mantinha pelo santo o fato de que em sua família nenhum membro jamais havia sido “ofendido” por cobras, aranhas, escorpiões e outros bichos venenosos. Na roça, onde fui criada, era bastante comum que as pessoas ao adentrarem no mato, fizessem uma cruz no chão com os pés e invocassem: São Bento, livre-me dos animais peçonhentos.
São Bento, protege contra
animais peçonhentos

Assim sendo, ao compor o estandarte de São Bento, criei uma base com muito verde e  elementos que pudessem representar essa tradição. Apliquei cobras de metal dourado, bordei uma aranha e compus, na lateral esquerda da peça, uma aplicação,  que, embora possa lembrar o rabo de um bicho grande, como uma onça, um tigre ou um leão, por exemplo, não se enquadra como tal, por ter olhos vermelhos. Trata-se de algo construído pelo meu  imaginário, cujo significado atribuí ao “medo da gente”, pois cada um de nós por mais valente que seja, provavelmente jamais será totalmente destemido. Cuidei também de inserir uma cruz feita de ráfia e utilizei esse mesmo material para bordar a auréola do santo e dar destaques ao seu cajado. Para o acabamento, utilizei franjas feitas com cordas naturais, contas  e sementes coloridas. O estandarte foi totalmente composto em tecido de estampa camuflada, para fazer referência aos matos e florestas e seus perigos presentes no imaginário popular. No entanto esse tecido é visível apenas no verso da peça.

Ao final obtive uma composição harmoniosa que tem sido objeto de elogios daqueles que a  veem.