sábado, 16 de julho de 2016

NOSSA SENHORA DO CARMO

Compor o estandarte de Nossa Senhora do Carmo era um desejo que vinha adiando por algum tempo. Por ser a santa do meu sobrenome, a elegi padroeira da família, não sem justificativa. Há tempos, quando soube que Carmo significava jardim, fiquei bastante impressionada, pois desconheço família que se dedique com tanto amor às plantas e jardins quanto a minha. 
Além desse, atribui-se à palavra Carmo, o significado de vinha, videira, ou parreira.
Conta a tradição católica, que no século XII, um grupo de eremitas formou-se aos pés do Monte Carmelo, ou Monte do Carmo, na Palestina, mantendo ali um estilo de vida pobre e despojado. Nesse lugar onde teria se refugiado o profeta Elias, construíram uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora, que foi batizada como Capela de Nossa Senhora do Carmo, ou do Monte Carmelo. Posteriormente constituiu-se uma irmandade e os carmelitas espalharam-se por toda a Europa e pelas Américas.
Chamada de Flor do Carmelo, Maria Santíssima era cultuada e venerada por seus seguidores. Reza ainda a tradição, que a Santa teria aparecido, no dia 16 de julho, a São Simão, um dos fundadores da ordem dos Carmelitas, e lhe entregado um escapulário, como símbolo de aliança de paz e amor eterno a Deus.
Ao compor o estandarte tive em mente esse rico simbolismo e tentei entrelaçá-lo a alguns aspectos marcantes da minha família. O primeiro deles, sem dúvida o significado de jardim, atribuído à palavra Carmo e o apego que os meus Carmos  possuem com plantas e flores.
Depois, não deixou de ser referência importante, o fato de que meus avós cultivavam enorme parreira de uvas ao lado da casa onde viveram por muitos anos. Ali nasceu meu pai e a maioria dos tios, e nos reuníamos nos almoços de domingo. Todos os finais de ano, a meninada aguardava ansiosamente o amadurecer dos cachos da uva. Geralmente no dia 01 de janeiro, aniversário da minha avó, ela pessoalmente fazia a colheita e enchia uma cesta com os cachos, distribuindo-os entre os filhos e a netaiada, que fazia a festa. Antes disso, as frutas,  mesmo que aparentassem estar maduras, permaneciam intocáveis na parreira.

Outras marcas fortes que atribuo à minha família paterna são a dedicação ao trabalho, a alegria, a liberdade e a leveza da maioria de seus membros. Retratar tudo isso e todo o amor e carinho que dedico a essa cambada não foi tarefa fácil. Batuquei com esse estandarte por cerca de três meses. Muitas vezes, fiz e desfiz partes dele.
A primeira fase do trabalho consistiu em centralizar a imagem da santa em um tecido adamascado azul, que rebordei com flores em diversos tons de roxo e rosados. No alto e na lateral esquerda apliquei retalhos de renda verde, obtendo um efeito de parreira.
Um aspecto que considero marcante na feitura deste estandarte é que, em sua composição, empreguei recortes de renda branca que foi utilizada no vestido de noiva de uma prima. Contornei a imagem da Santa com recortes dessa renda claríssima e os apliquei também no acabamento da parte inferior da peça. Todavia, em minha percepção, tanta brancura não retratava a alegria, a liberdade e o desprendimento da minha família, então cuidei de “enodar”, a renda com rebordados em cores variadas, o que alegrou visivelmente o conjunto.
Na parte inferior da peça, deixei à vista um pedaço de tecido de juta (nosso velho conhecido saco de linhagem), aplicando-lhe pedras naturais também de cores variadas. Quis simbolizar a terra e as sementes, companheiras inseparáveis dos jardineiros.
No alto da imagem bordei, em ponto cruz, o nome da Santa, contornando-o com pérolas, e, para finalizar o lado direito, utilizei renda nas cores verde e roxa. Fiz ainda pequenas intervenções na imagem da Santa: apliquei pérolas e strass em sua coroa e rebordei a aréola do Menino Jesus, com linha dourada. Nas mãos da Santa e de seu Filho, reapliquei escapulários que trouxe do Convento de Nossa Senhora do Carmo em Montes Claros, Mg.

Com isso, obtive uma peça clássica e tradicional, feita com parcimônia e respeito a tradições e histórias consolidadas  no meu imaginário e no de boa parte da família.

Um comentário:

  1. Que lindo texto prima.
    Que Nossa Senhora do Carmo derrane muitas bençãos em nossa família. Beijo.Eliézia.

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