terça-feira, 30 de agosto de 2016

CONVERSAS DE JARDINEIROS, AMENIDADES PARA DIAS NEGROS

Há muito tempo não tenho falado sobre plantas e flores. Nesse final de agosto, repleto de ipês coloridos e com a primavera já dando seus sinais na explosão das flores dos dendróbios, falemos de flores. 
Ainda que os últimos dias, na política, estejam sendo enegrecidos por esse golpe camuflado de  impeachment e pela desfaçatez e descaramento dos algozes da presidente.
Somos, os Carmos, uma família de jardineiros e plantadores, acho que já falei disso por aqui. Aficionados pelas plantas e não somente as ornamentais. Ficamos bobos perante a beleza de matas nativas, da funcionalidade e da riqueza das hortas e pomares, das folhas de chá, enfim, de todas que pertencem ao vasto e encantador mundo vegetal.
Em Bh, os ipês estão floridos
Temos histórias marcantes relacionadas a essa nossa paixão. Uma delas é que todos nos sentimos ofendidos se, diante da beleza e exuberância de nossos canteiros e vasos, algum incauto nos pergunta se são artificiais as nossas flores. Não perdoamos tamanha desatenção e insensibilidade.
Temos um irmão que, há muitos anos, mora na Bahia. Mais precisamente, neste relato, me refiro à época em que  residia em uma vila de engenheiros, cujas casas não eram numeradas. Certa vez uma de minhas irmãos foi visitá-lo. Depois desse longo percurso que nos separa de lá, adentrou a localidade e, ao visualizar as primeiras casas, imediatamente identificou a que procurava. Os demais ocupantes do carro estranharam a sua certeza, mas ela não teve dúvida ao afirmar categoricamente: é aqui que mora o meu irmão.  O que lhe dava tanta segurança? O fato que, diante de todas as moradias e ruas desertas de plantas, deparou-se com uma casa com belo gramado e canteiros floridos. A rua em frente, arborizada com coqueiros da Bahia e outras frutíferas. Nenhum de nós duvidaria que, em não havendo outra moradia com tais características, um Carmo morava ali, 
Nestes dias, essa mesma irmã que foi visitá-lo, está mudando de casa. Enquanto ela viaja para um congresso eu cuido para que quando ela chegar seu canto já esteja com a nossa cara. Como disse no início, em tempos de orquídeas florindo em profusão não foi difícil. Além de lhe preparar alguns vasos com folhagens tradicionais, fiz-lhe um diferente. Trouxe do interior um tronco repleto de flores e adaptei-o a um recipiente simples de cerâmica. Está lá na sala nova à sua espera. 
Vaso com tronco de orquídeas
Foto de Valdiane Martins Macedo
Andei fazendo outras composições, mas a que me encantou mesmo foi a que arranjei na parede oposta à janela do quarto de empregada. Um delicado conjunto de vasinhos de cerâmica apostos à parede, também com as orquídeas dendróbios olho de boneca. Modéstia à parte, não ficou uma belezinha! Simples, fácil e barato. Pra que pensar em flores de plástico?
Beleza de composição na parede

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Falando de Política pela Voz de Leonardo Boff

Política não é dos assuntos que mais domino. Todavia, como cidadã, sou afetada a todo instante por decisões do âmbito político. Especialmente neste momento, torna-se difícil permanecer indiferente ao que ocorre no país. 
Transcrevo a seguir trechos de um texto do Professor e escritor Leonardo Boff, uma voz lúcida e ativa que vem se somar às tantas outras que lutam contra o golpe arquitetado contra a presidenta legitimamente eleita em nosso país. 

"Importa deixar claro que atrás desse golpe parlamentar se aninham os interesses mesquinhos e anti-sociais dos donos do poder, mancomunados com a imprensa que distorce os fatos e sempre se fez sócia de todos os golpes, juntamente com os partidos conservadores, com parte do Ministério Público e da Polícia Militar (que substitui os tanques) e uma parcela da Corte Suprema que, indignamente, não guarda imparcialidade. O golpe não é só contra a governanta, mas contra a democracia com viés participativo e social.
Intenta-se voltar ao neoliberalismo mais descarado, atribuindo quase tudo ao mercado que é sempre competitivo e nada cooperativo (por isso conflitivo e anti-social). Para isso decidiu-se demolir as políticas sociais, privatizar a saúde e educação e o petróleo e atacar as conquistas sociais dos trabalhadores.
Contra a Presidenta não se identificou nenhum crime. De erros administrativos toleráveis, também feitos pelos governos anteriores, derivou-se a irresponsabilidade governamental contra a qual aplicou-se um impeachment. Por um pequeno acidente de bicicleta, se condena a Presidenta à morte, castigo totalmente desproporcional. Dos 81 senadores que vão julgá-la mais de 40 são réus ou investigados por outros crimes. Obrigam-na a sentar-se no banco dos réus, onde seus algozes deveriam estar. Entre eles se encontram 5 ex-ministros.
A corrupção não é só monetária. A pior é a corrupção das mentes e dos corações, cheios de ódio. Os senadores pro impeachment têm a mente corrompida, pois sabem que estão justificiando uma inocente. Mas a cegueira e os interesses corporativos prevalecem sobre os interesses de todo um povo."
Leonardo Boff é ex-professor de Ética da UERJ e escritor.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

CRÔNICAS DO DIA A DIA - A DECISÃO DE ME TORNAR UMA MULHER À TOA

Não sou mais a Maria Inês do Ginásio,  a Maria Inês da DRH/UFV, nem a do AGROS; e também não, como nos últimos anos, a da Faculdade de Viçosa. Libertei-me dos sobrenomes corporativos. Agora, simplesmente Maria, ou Maria da Saudade.
Há mais de um mês entreguei minha carta de demissão,  não pretendo novamente manter vínculo funcional com instituição alguma. Dá um frio na barriga, é verdade. E sou tomada ainda por dúvidas acerca da decisão. Vou sentir falta dos proveitosos e divertidos encontros semanais com meus queridos estudantes; das descobertas enriquecedoras advindas dos trabalhos de orientação, do convívio com os colegas e do crescimento permanente que a atividade docente propicia.  
Ao mesmo tempo sou tomada por uma agradável sensação de liberdade, uma autonomia prazerosa, impossível, quando se mantem vínculo empregatício, mesmo na atividade de professor, uma das mais autônomas que já experimentei.
Foram muitos anos de trabalho, melhor nem contá-los. Agora vou ser uma mulher à toa, como um amigo  já me intitulava, desde que fiz a opção por trabalhar apenas dois dias por semana.
As férias de julho foram atribuladas. Fiz três viagens e apenas uma delas a lazer. Praticamente não parei em casa. Meu cantinho sente a minha falta. O escritório ainda não foi organizado, como fazia em todos os períodos de férias e o jardim anda descuidado.  Os bordados estão finalmente sendo retomados, mas ainda não sobrou tempo para voltar à ioga. Há um livro com todos os contos da Clarice sendo começado e um show  em Belo Horizonte, programado para o final do mês. Já fiz uma lista de filmes a assistir e a promessa de me dedicar mais ao blog.
Começar a vida de a toa lendo Clarice...
Agora não poderei mais alegar falta de tempo, essa velha desculpa esfarrapada que utilizei tantas vezes. Para justificar omissões ou desinteresses, terei que confessar minha preguiça, que pretendo usufruir fartamente. Enfim, estou prontinha para assumir a libertadora condição de mulher à toa. À vida, Maria da Saudade!