sexta-feira, 30 de maio de 2014

MOTIVOS PARA TOMAR UM VINHO

Nesta semana fui provocada por minha cunhada e comadre com uma mensagem apontando motivos para beber vinho. Beba vinho para o espírito e para a boa digestão, dizia a parte inicial. De fato!  Já sabemos  que o vinho faz bem à saúde e especialmente ao coração. Existem inúmeros outros motivos para beber um vinho. Inclusive se estivermos sozinhos.
Já experimentou tomar uma cerveja sozinho?  E beber uísque, sem ninguém!.. Que coisa mais sem graça! O vinho, ao contrário, até nisso é especial. Pode-se tomá-lo sozinho sem se sentir desamparado, solitário, nada disso. Ao contrário, o ópio dos deuses  faz companhia,  aquece o peito, alegra o espírito, ou melhor, não é bem alegrar, é lhe deixar a alma plena de leveza e de romantismo.
Mas tomamos vinho também:
- Porque amigos vieram, ou porque amigos partiram;
- Porque o frio chegou e a noite cai mais cedo no inverno.
- A lua está cheia e bonita de fazer dó.
- Porque  descobrimos um novo pão escuro, imaginem,  de vinho e passas...
Pão e vinho combinação perfeita.
- Porque estamos com saudades de alguém, mesmo que seja de nós mesmos, ou do que éramos em outro tempo qualquer.
- Ou porque a gastrite anda sossegada e precisamos comemorar, mesmo que seja dando uma cutucada nela.
Tim, tim!

terça-feira, 20 de maio de 2014

SANTA RITA -  A DAS CAUSAS IMPOSSÍVEIS
Em Viçosa, até quem não acredita em Deus é devoto de Santa Rita.
Considerada a santa das causas impossíveis, é reverenciada em diversos lugares do mundo. Aqui, é a padroeira. Muitas pessoas possuem o seu nome, assim como a avenida mais bonita da cidade.  Dia 22 de maio é “Dia Santo”, lojas e outras repartições não funcionam. Amanhece-se com  bela alvorada de fogos e música. À tarde, comumente a partir das quatro, tem início a procissão, que é o clímax da festa.
A imagem da santa é adornada, geralmente com muitas rosas vermelhas, sendo levada em cortejo pelos fiéis durante longo trajeto. Casas se enfeitam, colocando-se nas janelas e sacadas, toalhas e colchas do mais fino bordado e renda. Algumas famílias, especialmente as da Rua Gomes Barbosa e da Avenida Santa Rita chegam a armar altares em frente às suas residências - quando a Santa passa, toca-se o seu hino,  um primor. Muito meigas também são as crianças, algumas de colo,  vestidas de Santa Rita, acompanhando a procissão com os familiares. Pessoas seguem descalças a demonstrar humildade e respeito à padroeira.
Nas tradições católicas, maio é cheio de significados. Comemora-se o mês de Maria, nas pequenas cidades do interior e também em bairros de algumas capitais são comuns as festas de coroação, com as crianças vestidas de anjinhos em procissões. Na frente o estandarte de Nossa Senhora de Fátima, ou Nossa Senhora do Rosário, em azul celeste e branco, fitas voando ao vento no frio fim de tarde, fogos de bengala a espalhar luzes  e a bandinha tocando atrás. Vou ser repetitiva: uma lindeza. Somos muitos os apaixonados pelas tradições mineiras. Vale a pena visitar o estado nessa época do ano. Temos um frio ainda suave, nossa culinária se manifesta no que há  de melhor, caldos quentes, como a canjiquinha mineira que não tem igual, o caldo verde e muitos outros. À tarde tem a canjica doce e os cafés  com deliciosos biscoitos, bolos e pães caseiros. Nossas roscas doces recheadas de goiabada e queijo são de comer rezando. (Para fortalecer o embalo da fé). 
Como ficou o estandarte
Como já falei por aqui, tenho me aventurado a fazer estandartes. São composições em tecido, geralmente elaborados a partir da imagem do santo que se quer homenagear e enfeitados com rendas, fitas, retalhos e mais o que a imaginação escolher. Pulei miúdo para concluir a tempo o de Santa Rita, que agora está exposto em minha porta de entrada. Trabalhei com simbologias em torno da santa, utilizando uma imagem tradicional, rosas vermelhas e figos verdes que remetem à história dela. Utilizei pedras mineiras, quartzos verdes e roxos, entremeados por miçangas vermelhas e alaranjadas. Adicionei galão dourado e sinhaninha, tudo composto em tecido roxo e finalizado por fitas coloridas.
Detalhes: rosas e figos
Se o resultado ficou bom, vocês dirão. Para mim, ficou bacana, embora sempre com aquele sentimento de que poderia ter ficado melhor. Como se expressou Gabriela Mistral:  mostrará sua obra com vergonha, porque sua arte sempre será menor que o seu sonho.

sábado, 17 de maio de 2014

COMPOTA DE LARANJINHA KINKAN

O frio chegou e com ele a safra dos cítricos, que aqui na região é diversificada. Nossa laranja Serra D´Agua é uma delícia;  gostoso demais sentar-se com uma vasilha delas no colo, e apreciar com calma, em  uma noite fria, vendo a lua, programa bem mineiro, bem rural. A laranja campista, a caipira, é talvez a mais apreciada de todas, miudinha e cheia de sementes, mas com um sabor inigualável. Também muito boas são as laranjas Bahia da região, bem avermelhadas, não possuem sementes e praticamente não têm bagaço. As mexericas tanto a candongueira, quanto a poncã e o limão doce, comuns em nossos quintais também são muito saborosas. 
De uns tempos para cá, além das variedades do pomar tem aparecido com frequência, no inverno as laranjinhas kinkan, vendidas em bandejas. Pequenas e amarelinhas, podem ser comidas inteiras, sem retirar as cascas que são macias e adocicadas. No ano passado experimentei fazer quentão com elas e foi um sucesso. Já postei a receita aqui no blog. Agora resolvi fazer compotas. Fui à internet e encontrei umas receitas meio extravagantes. Uma delas propõe colocar álcool nas laranjas e atear fogo antes de ir para o cozimento. Essa é de um site de fabricante de açúcar. A outra de uma chefe bastante conhecida e badalada também não me animou, pois sugere colocar as laranjas a cozinhar juntamente com o açúcar, o que é um equívoco, pois as frutas demoram muito mais no cozimento e acabam ficando “cascudas”. Quando testo uma receita e fica muito bom, gosto de compartilhar. Modéstia à parte, acertei em cheio ao acrescentar suco de laranja Bahia à calda, que adquiriu um  sabor muito bom e uma cor  linda.
Compota de kinkan: sobremesa linda e delicada.
Como sugestão de acompanhamento, pode ser servida com queijo Minas frescal ou requeijão cremoso. Fica muito bom também com doce de leite em pasta.

INGREDIENTES
- Uma bandeja de 400 gr de laranjinha kinkan
- Duas xícaras das de chá de açúcar
- Caldo de duas laranjas Bahia
- Seis cravos da Índia
- Dois favos de anis estrelado
- Água para cozinhar e para a calda

MODO DE PREPARO

Lave as laranjinhas e corte-as ao meio. Leve ao fogo para cozinhar com um litro de água por meia hora. Deixe esfriar e escorra a água, desprezando-a. Retire as eventuais sementes que ainda ficarem nas laranjinhas. Faça uma calda com o suco das laranjas Bahia, uma xícara de água, o açúcar, o cravo e o anis. Assim que levantar fervura coloque as laranjinhas kinkan já cozidas e deixe ferver por vinte minutos, acrescentando mais água, aos pouquinhos,  se necessário.  

quarta-feira, 14 de maio de 2014

ESTRADAS DE OURO PRETO E DE MINAS

Tão bonito quanto visitar Ouro Preto é chegar ou sair de lá. As estradas de acesso à cidade são uma atração à parte. Perigosas não há dúvida, cheias de curvas, subidas e descidas que se repetem, para quem vem pela primeira vez, parece que não vai chegar nunca. As estradas de Minas, em sua maioria, são como os povos de Minas, não vão direto ao ponto. Dão voltas e rodeios, antes de chegar ao lugar desejado.  Por isso, os muito apressados costumam não gostar.  Aliás, é bom que se diga: a maior parte das vias mineiras não é apropriada para se andar em alta velocidade. Não somente pelo perigo, mas porque é um desperdício, passar por elas sem apreciar a beleza. O melhor mesmo é andar por aqui sem estar dirigindo. Sentado no banco do carona, tudo fica muito mais divertido. 
Mesmo que o estado de  Minas venha sendo ecologicamente  maltratado pela ganância sem fim das mineradoras, a natureza persistente teima em se recompor e nos oferece beleza sem limites. Para os que têm olhos aguçados e o coração sensível ao espetáculo da vida, o percurso pelas estradas mineiras acaba também se transformando em um atrativo e tanto. Além da beleza da topografia, a vegetação na maior parte do ano é exuberante. Podem-se apreciar espécies nativas típicas da região da Mata Atlântica em sua morada natural.
Candeia e suas flores rosadas
As candeias, por exemplo, que já foram largamente utilizadas,  para extração do óleo para iluminar candeeiros (dái o seu nome popular),  andaram sumidas da beira da estrada. De uns tempos para cá, felizmente  estão reaparecendo.  As que habitam os barrancos das estradas ficam pequenas, às vezes, com menos de um metro de altura e adquirem uma configuração tortuosa, lembrando os bonsais. Raramente florescem como as maiores que povoam as laterais das estradas. Estas se cobrem de pompons rosados (ou seriam cremes?), oferecendo um lindo espetáculo aos olhos.
Fedegoso ilumina a estrada
Não menos bonitos os fedegosos com sua coloração amarelo vivo iluminam a paisagem, clareando a  estrada. Quando ocorre de sua floração coincidir com a das quaresmeiras roxas, é um espetáculo vê-las umas ao lado das outras, combinação perfeita de cores.
Canudo de Pito em cachos
Nessa época do ano podemos observar também os canudos de pito, que povoam a imaginação de quem teve uma infância rural, com seu doce mel extraído dos cachos que pendem das árvores.

E quando deparamos com uma imbaúba prateada no meio da mata verde, ou com um maciço de farinha seca, geralmente mais alta e mais compacta que os fedegosos, que lindeza! 
Imbaúba prateada

Maciço de Farinha Seca
Ainda assim, muitos passam apressados com o foco obstinado no destino. Arrisco a dizer que a maioria pensa apenas na chegada.  Uma pena, porque andando por Minas, o percurso pode ser uma das melhores partes da viagem.

terça-feira, 6 de maio de 2014

MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS DE BELO HORIZONTE - MAOBH

Visitar o MAOBH  é uma oportunidade para fazer  um magnífico passeio pela evolução do trabalho e das profissões. Trata-se de um espaço cultural inaugurado  em 2006, muito bem organizado  e que abriga,  com zelo,  um acervo representativo do mundo do trabalho e dos ofícios em sua fase pré-revolução industrial. Como está expresso na fachada do prédio: “Um lugar de encontro do trabalhador consigo mesmo, com sua história e seu tempo”.
Na entrada do Museu essa simpática vaquinha
coberta de fuxicos. Cara de Minas
Passear pelo Museu constitui uma experiência rica para todos. Todavia, para os que se interessam pelo tema trabalho e seus significados e, ou  que militam na área de administração e Recursos Humanos, é uma visita praticamente obrigatória.
Constituído por um vasto acervo, com cerca de duas mil peças, o MAOBH mostra objetos, materiais, engenhos,  mobiliário e um amplo repertório de instrumentos e ferramentas utilizados para o trabalho nos séculos XVIII, XIX e XX.  É o único museu da América latina, dedicado integralmente ao trabalho e aos ofícios, permitindo um passeio pela engenhosidade humana ao longo da história.
O Museu situa-se na região Central de BH, no conjunto histórico da antiga Praça da Estação,  local de fácil acesso, sendo inclusive anexo à estação do metrô. O prédio é lindo e foi restaurado mantendo suas características originais.
O atendimento é muito bom, com porteiros educados, guias atenciosos e áreas de apoio como banheiros e bebedouros excelentes e em impecável estado de  limpeza. O acesso nos dias de sábado é gratuito. O espaço é considerado por diversos guias de viagens, como um dos museus mais bem estruturados do Brasil.
Cadeira de dentista

A coleção mostra a produção popular na era pré-industrial: os fazeres, ofícios e artes que deram origem às profissões atuais, onde o visitante pode conhecer a história das relações sociais do trabalho no Brasil em diversos períodos de seu desenvolvimento. O acervo é organizado em seções, como Ofícios do Fogo (mostrando o trabalho de ferreiros, fundidores e funileiros); Ofícios do Couro (com peças, mobiliários e ferramentas utilizadas por chapeleiros, sapateiros, curtidores); Ofícios da Madeira (onde se pode observar o trabalho de carpinteiros, marceneiros e tanoeiros); Ofício do Comércio; Ofícios de Mineração: Ofício dos Fios e Tecelagens, entre outros.
Ofícios do Couro: sapateiros, chapeleiros, curtidores e seleiros
Além dessas seções, no hall interno entre os dois prédios encontra-se o Jardim das Energias, um acervo muito interessante que abrange a exibição de engrenagens e mecanismos destinados à geração de força e a auxiliar nos diversos setores produtivos, principalmente nos engenhos de rapadura e açúcar. Uma preciosidade. No paisagismo dos canteiros que ficam próximos,  foram utilizadas touceiras de cana-de-açúcar  e pés de café que, nessa época do ano, estão carregados de frutos vermelhos. Achei sensacional, pois o museu é bastante visitado pelas escolas e imagino que não deve ser pequeno o número de crianças que jamais viram um pé desses vegetais tão presentes na vida de todos.
Jardim das energias: niveladora de solo
Enfim, uma visita ao MAOBH constitui a oportunidade de fazer uma fascinante viagem no tempo, conhecendo as origens e a evolução do trabalho e das profissões.