sexta-feira, 25 de setembro de 2020

 MADALENA

“É Madalena...

Até a lua

Se arrisca no palpite

Que o nosso amor existe...”

 

Por intermédio de uma grande e querida amiga, recebi o desafio de descobrir um pouquinho sobre quem foi Maria Madalena, para compor uma estandarte em sua homenagem.

Como em outras peças, fiz uma pequena pesquisa para tentar conhecer melhor a  personagem a ser retratada. Não são poucos os registros sobre essa figura misteriosa e polêmica, que foi praticamente escamoteada da história, principalmente nas vertentes mais conservadoras do cristianismo

Uma das seguidoras mais dedicadas de Cristo como descrito no Novo Testamento, a igreja católica a identificava até bem recentemente apenas  como a pecadora,  embora seja considerada santa por outras correntes do cristianismo.

Maria, que era natural de Magdala, vila de pescadores da costa ocidental do mar da Galiléia, (vindo daí o seu nome), pode ter sido uma apóstola de Jesus; era uma liderança e autoridade no cristianismo primitivo, o qual lhe  conferia o status de discípula preferida do Mestre.

Citada diversas vezes na Bíblia, ela aparece, ora como uma prostituta, ora como a grande companheira e ajudante do Mestre, tendo sido a  primeira pessoa a descobrir a ressurreição e narradora do episódio, segundo registros evangélicos. Teria sido ela  a mulher que  lavou, ungiu e secou os pés de Jesus, com seus fartos cabelos vermelhos.

Inserida fortemente no imaginário popular, Madalena serviu de inspiração para romances pinturas filmes e, mais recentemente tem sido objeto de pesquisas e artigos acadêmicos. Ainda assim, provavelmente nunca saberemos ao certo quem foi essa intrigante mulher.

Figura forte desde o início do cristianismo, parece ter sido uma sábia e importante liderança. Entretanto,  como viveu em uma sociedade patriarcal e machista, esta quis despojá-la de sua missão nobre e empreendeu diversas tentativas de sufocar sua incômoda  presença na história.

Tanto as religiões quanto o mundo das artes apresentam várias facetas dessa personagem intrigante. Ela aparece em  mais de 30 filmes e diversas obras de arte, quase sempre como uma mulher linda  e sedutora.

Apóstola e feminista, uma mulher independente e à frente do seu tempo, que desafiou a sociedade patriarcal em que vivia, tornando-se representação de nossa ancestralidade guerreira e cuidadosa. Símbolo de fortaleza e detentora dos enigmas do sagrado feminino, do dom de gerar e cuidar; foi assim que tentei retratar essa figura que está me fazendo reelaborar minha percepção do papel das mulheres nesse nosso intrincado universo ainda por descobrir. Deixei fluir minha intuição e permiti-me extravasar meus gostos  exóticos e primários. Dessa forma tentei retratar a misteriosa mulher de cabelos vermelhos, padroeira do cabelereiros e perfumistas, na expectativa de que até o cheiro de mirra exalasse do meu bordado.

 


 

A Peça

- Um tributo à Mulher: assim, ousada e modestamente compus a  peça sobre um tecido de cambraia de linho na cor rosa pêssego. No centro está uma figura de Madalena, recortada em formato de vulva, inserida no vértice central de uma letra M. Adornada por recortes de renda a mulher tem ao alto uma figura circular. Essa faz referência à iluminação, podendo representar um sol, ou o chamado terceiro olho, simbologia da glândula Pineal, que seria responsável pelo sexto sentido ou pela intuição feminina. Abaixo dos vértices laterais da letra M, encontram-se dois bordados florais, nas cores branco, lilás e rosa, circundados por ramos na cor verde.

Na parte inferior da peça, há um coração feito com delicado bordado à mão, composto por ramos e flores, tendo ao centro um crucifixo dourado composto com strass.  Aqui há uma tentativa de representar essa velha mania da mulher de posicionar seu coração no meio das pernas. Poás vermelhos também adornam a parte de baixo da figura, fazendo referência à fertilidade feminina.

A inserção da cor branca na peça teve a intenção de limpar a imagem da mulher de Magdala e registrar a necessidade de esclarecer o seu real e verdadeiro papel histórico.

A peça contem ainda rendas, pontos russos, passa-fitas  e sinhaninhas, elementos associados à feminilidade e à doçura.

As fitas que formam as franjas  são de cetim em sete cores, número associado à harmonia, resultante do equilíbrio estabelecido por elementos não semelhantes, e que representa a totalidade, a perfeição, a consciência, o sagrado e a espiritualidade, além de conclusão cíclica e renovação. Na numerologia, o sete representa o lado oculto e místico da vida.