sábado, 30 de março de 2019

UM CONVITE E UMA PEÇA MUITO ESPECIAL


Há bastante tempo ensaio uma peça da padroeira da minha terra.
Mãe de nossa Senhora, portanto avó de Jesus, Sant´Ana é cultuada ostensivamente na minha família, que possui tantas desse nome, quer sejam, Donana, Sanita, Ana somente, ou  Ana Maria, Ana Luíza e outras Anas.
A santa  que é patrona das avós, dos professores e dos contadores de histórias, vem sendo representada, na maioria das vezes, com um livro nas mãos e a filha ao colo, ou aos seus pés.
Penso que Sant´Ana deve ter sido uma mulher à frente do seu tempo, pois nos a. C., devia ser bastante incomum que uma mãe ensinasse sua filha a ler.
Sabemos que até bem pouco tempo atrás, havia famílias que privilegiavam a educação dos filhos homens, alegando que as mulheres não precisavam estudar, porque isso as fariam independentes demais.
Não conheço imagem da mãe de Jesus vestindo cor de rosa. Suas representações, quase sempre, a mostram usando túnica e manto da cor do céu, ou na cor crua. Certamente influenciada pela mãe e, ao contrário do que disse certa ministra, Nossa Senhora nos conta que não é de hoje que meninas vestem azul.
Na peça que acabo de compor, especialmente para uma exposição que inauguraremos no dia 10 de abril próximo, na PUC-BH, utilizei uma foto da imagem clássica que adorna o altar principal da igreja matriz da minha terra.
Sant´Ana - Foto de
Luiz Henrique do Carmo
Adotei o cetim azul como pano de fundo e nele dispus, além da estampa, enfeites em crochê, pequenos retalhos bordados e flores, entre outros ornamentos. Assim pretendi homenagear minhas duas avós e minha querida e inesquecível irmã, que era paisagista, e tinha o nome da santa. Dispus também algumas letras e a frase, Era uma vez, lembrando e enaltecendo todos os educadores que atuam nesse nosso país tão displicente, (para não dizer coisa pior) com a educação.

sábado, 23 de março de 2019

A CARTA DE CAZUZA


Há mais de 30 anos, no dia 18 de abril de 1988, durante um show no Canecão, no Rio de Janeiro, Cazuza provocou a ira de muita gente com um gesto seu. O que não era algo muito incomum, já que ele foi um artista bastante polêmico até mesmo ao lidar com a própria doença.
Recentemente, em viagem ao estado do Rio, visitei, em Vassouras, o recém-inaugurado Museu do Cazuza. Instalado em um casarão antigo no centro da cidade, que é a terra natal da mãe do artista, o museu possui um acervo interessante, com peças de vestuário, instrumentos e farta documentação fotográfica da curta, porém profícua carreira do músico.
O que mais me impressionou, no entanto, durante a visita, foi reler a carta escrita por Cazuza, no já distante ano de 1988, e constatar a sua atualidade. Como aliás também continuam bastante atuais as letras de suas canções.
A carta
Eis a íntegra da carta:

"Está havendo uma polêmica, um escândalo, como diz o JB de terça-feira, 18 de outubro, com o fato de eu ter cuspido na bandeira brasileira durante a música Brasil no meu show de domingo no Canecão. Eu realmente cuspi na bandeira, e duas vezes. Não me arrependo. Sabia muito bem o que estava fazendo, depois que um ufanista me jogou a bandeira da plateia.
O senhor Humberto Saad declarou que eu não entendo o que é a bandeira brasileira, que ela não simboliza o poder mas a nossa história. Tudo bem, eu cuspo nessa história triste e patética.
Os jovens americanos queimavam sua bandeira em protesto contra a guerra do Vietnã, queimavam a bandeira de um país onde todos têm as mesmas oportunidades, onde não há impunidade e um presidente é deposto pelo 'simples fato de ter escondido alguma coisa do povo.
Será que as pessoas não têm consciência de que o Vietnã é logo ali, na Amazônia, que as crianças índias são bombardeadas e assassinadas com os mesmos olhos puxados? Que a África do Sul é aqui, nesse apartheid disfarçado em democracia, onde mais de cinquenta milhões de pessoas vivem à margem da Ordem e Progresso, analfabetos e famintos?
Eu sei muito bem o que é a bandeira do Brasil, me enrolei nela no Rock'n'Rio junto com uma multidão que acreditava que esse país podia realmente mudar. A bandeira de um país é o símbolo da nacionalidade para um povo. Vamos amá-la e respeitá-la no dia em que o que está escrito nela for uma realidade. Por enquanto, estamos esperando".
Estátua de Cazuza. Ao fundo o terno branco de
um dos seus últimos xhows