terça-feira, 28 de abril de 2015

Conversas de Jardineiros - Epífitas

Muitos pensam que o grupo das plantas epífitas, aquelas que vivem fixadas em tronco de árvores, é constituído apenas por orquídeas e bromélias. Outros imaginam que elas sejam parasitas. Ambas as impressões não são verdadeiras.
Tronco repleto de orquídeas
Epífitas, no geral, não sugam a seiva das árvores onde se hospedam, utilizando-as apenas para fixação e manutenção de suas raízes. No máximo, compartilham da umidade presente nos troncos, por isso podem ser fixadas também em troncos e galhos caídos, o que, por sinal provoca um efeito muito bonito no jardim.
Tronco "caído" no jardim hospeda
bromélias e orquídeas



Orquídeas em Caquizeiro 
Utilizar árvores para fixar epífitas é um recurso interessante. Primeiramente porque é uma forma de enfeitar os troncos e de se obter cor e beleza, mesmo fora da época da floração das árvores. Depois, para quem conta com espaços reduzidos, é também uma opção adequada, já que  um mesmo tronco pode abrigar plantas diferentes, inclusive de espécies variadas. As epífitas geralmente se adaptam bem em praticamente todas as árvores, exceto aquelas que soltam as cascas periodicamente. Elas se dão bem em troncos de aspectos rugosos como os da Escovinha de Garrafa e os das Dracenas, por exemplo.  
Em plena Caatinga, juazeiro repleto
de orquídeas

Ripsalis fixadas em limoeiro

Espetacular: chifre de veado em Escova de Garrafa
Esse recurso de fixar plantas em árvores, é bacana também porque confere ao jardim um aspecto bem natural, aproximando-o da forma como as epífitas ocorrem na natureza, especialmente na Mata Atlântica e no Cerrado.  Até mesmo na Caatinga já vi orquídeas ocorrendo naturalmente presas em árvores. Um fenômeno encantador.

Além dessas e das bromélias, comumente mais utilizadas em troncos e árvores nos jardins, também é possível cultivar cactáceas, suculentas e samambaias, entre outras. O chifre de veado é um tipo de samambaia que fica especialmente bonito fixado em árvores, mas, ao contrário dos cactos, prefere espaços mais sombreados.
Todas elas conferem um aspecto exótico e inusitado, saindo um pouco do lugar-comum e da armadilha de ter um jardim igual ao da grande maioria. E, além de tudo trazem para bem pertinho um pouco do que se pode encontrar na magnífica paisagem nativa do Brasil.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Parque Nacional da Serra do Cipó

Em post anterior, disse que voltaria a falar do passeio à Serra do Cipó e mostraria a minha percepção sobre  que  vi de melhor e de pior. Embora já tenha dito, não custa lembrar, que minha apreciação se restringe à área que visitei, que envolve o município de Santana do Riacho. Além desse, o Parque abrange os municípios de Jaboticatubas, Morro do Pilar e Conceição do Mato Dentro.
Prefiro começar pelo que achei mais bacana, pois isso pode ser útil para quem está pensando em fazer uma visita ao local.
O que tem de melhor:
Floração azul, raridade
Flores alaranjadas
- Sem dúvida alguma e, em primeiríssimo lugar, menciono a exuberância da natureza, a vegetação maravilhosa e uma topografia também interessante. Conta-se que em visita à Serra do Cipó, o paisagista Burle Marx teria conferido à região o título de “Jardim do Brasil”. Além da flora magnífica, seu maior destaque, o local possui grandes atrativos como a quantidade de nascentes e cachoeiras, cânions e cavernas, além de picos com altitude de até 1.670 m.

Brancas
Amarelas...


Imbaúba dourada: "Jardim do Brasil"
  

Artesanato bacana - Foto Luis Henrique
do Carmo

Boa infraestrutura hoteleira
- Outra grande vantagem é a proximidade de Belo Horizonte e a facilidade de acesso,  pouca distância e  boas estradas, apesar de bastante cheias, principalmente na saída da capital.
- Merece realce também a boa infraestrutura de hospedagem e de alimentação; uma rede de hotéis e pousadas para atender diversos gostos e bolsos. O mesmo se pode dizer de restaurantes. Nesse aspecto, destaco uma deliciosa surpresa. Chegamos à noite, cansadas de uma “maratona” em BH, o tempo friozinho de serra, pedimos no hotel que nos indicassem um restaurante onde servissem caldos. O “Ainda Sem Nome” foi um achado, com a proprietária Lila servindo pessoalmente os clientes, com um magnífico angu à baiana. Diferente e mineiríssimo, feito com suã de porco, um maná delicioso. Voltamos ao local, na última noite e a canjiquinha com costelinha também estava sensacional.
- Há um “centrinho”, que, na verdade, é um pedaço da Br, mas que possui pista para bicicletas e para pedestres,  sendo possível transitar  com alguma segurança. Esse local fica bem animado à noite, com vários restaurantes com música ao vivo, lojinhas de artesanato com produtos interessantes e preços razoáveis.
O que não é tão bom:
- O pior, em minha opinião, o mais decepcionante ao visitar o parque foi perceber que, na parte em que estivemos, a área delimitada é justamente a menos rica em termos de beleza e diversidade da vegetação. O alto da Serra, que é um verdadeiro jardim a céu aberto, não pertence ao parque, estando mais sujeito a depredações e queimadas, como aconteceu recentemente; da mesma forma, a trilha dos escravos que dá acesso à parte alta da cachoeira Véu de Noiva, não faz parte da região delimitada pelo parque, sendo considerada apenas como APA (Área de preservação ambiental).
- Como consequência, nascentes e cachoeiras são cercadas pelos proprietários das terras, que passam a cobrar pelo acesso. No caso da cachoeira antes mencionada, tal exploração é feita por um clube que utiliza-se de denominação cristã, por mais absurdo que isso possa parecer.
- Outra grande decepção foi a precária infraestrutura do parque; apenas uma funcionária na portaria  que dá acesso à Cachoeira da Farofa, uma das mais lindas e  visitadas do local. Não havia um mapa sequer do Parque, muito menos maquete, ou outros recursos para identificar e posicionar trilhas, nascentes, picos, cachoeiras, ou áreas de ocorrências de espécies da fauna e da flora, e indicar atrativos da região. Durante a trilha de mais de oito quilômetros, não encontramos um funcionário sequer. De todos os parques que já visitei, o da Serra do Cipó era, de longe, o que possuía a estrutura mais rudimentar.



segunda-feira, 13 de abril de 2015

Eduardo Galeano

Faleceu hoje, aos 74 anos o escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor do grande “As veias abertas da América Latina”, publicado em 1971, simultaneamente, no Uruguai, no Brasil, em Cuba e no México. Censurado por ditaduras militares em diversos países da América Latina, por sua visão realista e contundente da exploração e dos saques históricos sofridos pela maioria dos países latino-americanos, o livro circulou de forma clandestina, principalmente no meio universitário,
Nessa obra, o autor faz uma releitura da história da América Latina, colocando a nu o saque, a exploração econômica e a crueldade do domínio europeu e, mais tarde, dos Estados Unidos, sobre o continente, à custa de massacre da populações originárias, especialmente grupos indígenas. Revela truques utilizados pelas grandes potências, cujos poderes imperiais expropriam e massacram nações mais frágeis. E ainda, mostra que a sua sorte não é produto do destino, desmistificando a história oficial e afirmando que, como resultados da ação humana, ela pode ser mudada.
Em 2009, durante a Quinta Cúpula das Américas, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou  Barack Obama, com um exemplar de As Veias Abertas... a partir daí, o livro que andava meio esquecido, desde o seu auge nas décadas de 1970 e 1980, revigorou-se e voltou a ser um dos mais vendidos da atualidade.
É uma besteira enorme dizer que o próprio autor rejeitou sua obra prima, em anos recentes. Tratou-se apenas de uma constatação óbvia, geralmente feita pela maioria dos intelectuais, de que, quarenta anos depois, não escreveria o mesmo livro. A respeito do assunto, as palavras do autor, ditas em entrevista concedida no Brasil, foram: “o tempo passou, comecei a tentar outras coisas, a me aproximar mais à realidade humana em geral e em especial à economia política – porque As Veias abertas tentou ser um livro de economia política, só que eu ainda não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas é uma etapa superada”.
Ao ser perguntado por que a esquerda não deu certo na América Latina, Galeano expressou com a clareza e a lucidez
Desenho de Elson Rezende
que lhe eram peculiares: “Algumas vezes deu certo, outras não. A realidade é mutável, a realidade política e todas as outras – por sorte. Senão seríamos estátuas, estaríamos congelados no tempo. Não é verdade que a esquerda não deu certo. Deu certo e muitas vezes foi demolida... foi punida. Punida pelos golpes de Estado, ditaduras militares.... crimes horrorosos, cometidos em nome da paz social e do progresso”.
Amante do futebol, “sou muito futeboleiro, um religioso da bola...”, ironizava a pretensão de alguns em transformar o futebol em pura técnica, tirando-lhe o aspecto de arte. “O melhor que o futebol tem como esporte - a festa que o futebol é, a festa das pernas que jogam, a festa dos olhos – é a capacidade de surpresa, de assombro... ninguém sabe o que vai acontecer... menos ainda os especialistas... doutores do futebol são seres terríveis...”.
Autor de dezenas de livros, além do mais consagrado As veias abertas..., escreveu, entre outros, a trilogia Memória do Fogo, O livro dos abraços e, claro, O futebol de sol a sombra.
É clichê dizer isso, mas, não encontro outra forma de expressar a tristeza pela notícia: hoje o mundo ficou mais pobre.

Fontes:
http://socialistamorena.com.br/galeano-eu-nao-seria-capaz-de-ler-de-novo-as-veias-abertas-cairia-desmaiado/

terça-feira, 7 de abril de 2015

Parque Nacional da Serra do Cipó

Nesses feriados da Páscoa, mais que nunca, andava necessitando de descanso e sossego. Depois de planejar diversas vezes, finalmente, fui ao Parque Nacional da Serra do Cipó. Mais precisamente, fomos ao município de Santana do Riacho, já que Parque e Serra abrangem outras localidades.
O parque e a cidade ficam bem pertinho de Belo Horizonte, onde me encontrava acompanhando pessoa da família com problemas de saúde. A escolha foi, portanto, uma questão de praticidade. Tenho tentado conhecer todos os parques e áreas de preservação ambiental do Estado de Minas Gerais e, na medida do possível, a maior parte dos parques nacionais.
           Como nossa viagem se restringiu a três dias, não pudemos conhecer o parque Nacional em sua totalidade. Limitamo-nos ao município de Santana do Riacho, justamente o mais próximo de BH e, ainda assim, conhecemos apenas parte do que há por lá.
Escolhemos, para o primeiro dia, fazer a trilha que dá acesso à Cachoeira da Farofa, uma das mais bonitas da região. O acesso é fácil, embora, em seus 17 km de percurso, de ida e volta, seja longo para os meus padrões. A trilha é praticamente toda plana, com poucos trechos acidentados e, somente na chegada à cachoeira, precisa-se atravessar um caminho de pedras, com certo grau de dificuldade. Há também no percurso, dois pequenos rios a serem atravessados.
          A trilha em si, é pobre em atrativos. Exceto pelo razoável número de árvores típicas do cerrado, especialmente o pequizeiro. Paredões de pedras vistos durante o percurso não possuem beleza extraordinária, não há mirantes e outros pontos de contemplação. A vegetação de menor porte é insignificante. Não são vistos animais, nem mesmo passarinhos, apenas algumas borboletas bem bonitas. No entanto, a chegada à cachoeira oferece uma visão espetacular. Uma das mais bonitas que já visitei. Além de tudo, como o percurso é bem longo, poucas pessoas e pouco barulho, o que pra mim é uma benção.

Cachoeira da Farofa: um espetáculo

Sempre viva planta típica da região, na trilha dos escravos

"No meio do caminho",
tinha uma orquídea


Platôs de pedras e corredeiras na parte alta da
cachoeira Véu de Noiva

 No dia seguinte, fizemos a trilha dos escravos, que dá acesso à cachoeira Véu de Noiva em sua parte alta. Essa região não está inserida na área do parque, embora seja considerada uma APA – Área de Preservação Ambiental. Diferentemente da trilha que fizemos no dia anterior, essa não é plana. A subida é pesada, para quem tem pouco preparo físico. Praticamente todo pavimentado, o caminho foi feito por escravos, séculos atrás e, segundo o que se diz na região, dava acesso à cidade de Diamantina. O percurso é lindo, possui mirantes que possibilitam uma visão bonita da serra e a vegetação é rica e variada. Logo no início já é possível visualizar com fartura, a sempre viva, planta de grande beleza, símbolo da região. As canelas de Ema, também típicas do local, estavam fora de período de floração, mas suas formas esculturais, por si só,  são dignas de registro pela beleza e excentricidade. Pelo caminho encontram-se flores variadas, inclusive orquídeas típicas de solos pedregosos. O fluxo de água que forma a Cachoeira Véu de Noiva  vai despencando gradativamente, num magnífico percurso, pontuado de pequenas piscinas e corredeiras, entre pedras e árvores de porte médio. Em diversos pontos pode-se tomar banho e se deliciar com as duchas naturais formadas no meio das pedras. É possível usufruir de massagens nas costas - um verdadeiro alívio para quem anda tenso e cansado. Sem contar que, para quem acredita, como eu, aquilo funciona como um verdadeiro banho de descarrego.
Deitar num platô de pedra, debaixo da sombra de uma árvore com as raízes entrelaçadas nas rochas é uma possibilidade única de contemplação e relaxamento, que essa aventura possibilita.  

Trilha dos Escravos
             Embora tenha voltado desapontada com alguns aspectos do passeio, vale a pena uma visita ao local. Para não me alongar muito por hoje, deixo para uma próxima postagem, um resumo dos pontos positivos e negativos dessa parte que visitei do Parque Nacional da Serra do Cipó.