segunda-feira, 13 de abril de 2015

Eduardo Galeano

Faleceu hoje, aos 74 anos o escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor do grande “As veias abertas da América Latina”, publicado em 1971, simultaneamente, no Uruguai, no Brasil, em Cuba e no México. Censurado por ditaduras militares em diversos países da América Latina, por sua visão realista e contundente da exploração e dos saques históricos sofridos pela maioria dos países latino-americanos, o livro circulou de forma clandestina, principalmente no meio universitário,
Nessa obra, o autor faz uma releitura da história da América Latina, colocando a nu o saque, a exploração econômica e a crueldade do domínio europeu e, mais tarde, dos Estados Unidos, sobre o continente, à custa de massacre da populações originárias, especialmente grupos indígenas. Revela truques utilizados pelas grandes potências, cujos poderes imperiais expropriam e massacram nações mais frágeis. E ainda, mostra que a sua sorte não é produto do destino, desmistificando a história oficial e afirmando que, como resultados da ação humana, ela pode ser mudada.
Em 2009, durante a Quinta Cúpula das Américas, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou  Barack Obama, com um exemplar de As Veias Abertas... a partir daí, o livro que andava meio esquecido, desde o seu auge nas décadas de 1970 e 1980, revigorou-se e voltou a ser um dos mais vendidos da atualidade.
É uma besteira enorme dizer que o próprio autor rejeitou sua obra prima, em anos recentes. Tratou-se apenas de uma constatação óbvia, geralmente feita pela maioria dos intelectuais, de que, quarenta anos depois, não escreveria o mesmo livro. A respeito do assunto, as palavras do autor, ditas em entrevista concedida no Brasil, foram: “o tempo passou, comecei a tentar outras coisas, a me aproximar mais à realidade humana em geral e em especial à economia política – porque As Veias abertas tentou ser um livro de economia política, só que eu ainda não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas é uma etapa superada”.
Ao ser perguntado por que a esquerda não deu certo na América Latina, Galeano expressou com a clareza e a lucidez
Desenho de Elson Rezende
que lhe eram peculiares: “Algumas vezes deu certo, outras não. A realidade é mutável, a realidade política e todas as outras – por sorte. Senão seríamos estátuas, estaríamos congelados no tempo. Não é verdade que a esquerda não deu certo. Deu certo e muitas vezes foi demolida... foi punida. Punida pelos golpes de Estado, ditaduras militares.... crimes horrorosos, cometidos em nome da paz social e do progresso”.
Amante do futebol, “sou muito futeboleiro, um religioso da bola...”, ironizava a pretensão de alguns em transformar o futebol em pura técnica, tirando-lhe o aspecto de arte. “O melhor que o futebol tem como esporte - a festa que o futebol é, a festa das pernas que jogam, a festa dos olhos – é a capacidade de surpresa, de assombro... ninguém sabe o que vai acontecer... menos ainda os especialistas... doutores do futebol são seres terríveis...”.
Autor de dezenas de livros, além do mais consagrado As veias abertas..., escreveu, entre outros, a trilogia Memória do Fogo, O livro dos abraços e, claro, O futebol de sol a sombra.
É clichê dizer isso, mas, não encontro outra forma de expressar a tristeza pela notícia: hoje o mundo ficou mais pobre.

Fontes:
http://socialistamorena.com.br/galeano-eu-nao-seria-capaz-de-ler-de-novo-as-veias-abertas-cairia-desmaiado/

3 comentários:

  1. “Só nos falta saber porque os pobres são pobres?...Será porque a nudez deles nos vestem e a fome deles nos alimenta?...” (Eduardo Galeano)

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  2. Gostei, obrigado por fomentar a leitura do Veias abertas... Boa viagem para mim!

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