segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Lua Quase Cheia, Haicai e outros Encantos

Saio da aula de ioga e faço meu pequeno trajeto a pé, no início da noite gelada, sob a lua quase cheia. Venho murmurando baixinho o mantra repetido ao final do encontro: ”Jaya Jaya shiva shambo... Máha Deva Shambo...”.*
Já em casa, a noite linda me domina e, desafiando o clima, fico do jardim, sem acender as luzes,  o brilho da imensa bola dourada quase a me tirar o fôlego. O cenário pede uma taça de vinho e, logo as divagações correm soltas. Me pego pensando em como é bacana  ter tempo e disposição para contemplar e, despretensiosamente, sou tomada de pena por aqueles que não podem fazê-lo.
Lembro-me do livro do poeta J. Levy, que ganhei esta semana e vou a ele. Está lá: “Quando o monge  Matsuo Bashô (1644-1694) quis resgatar  os poemas curtos japoneses de sua emaranhada sofisticação formal, destacou a estrutura de três versos, o hokku, dando-lhe autonomia e sentido completo; reforçou sua característica contemplativa ‘zen’; estabeleceu sua temática necessariamente  relacionada com as estações do ano e com as pequeninas coisas, como as flores, a relva, os animaizinhos, os insetos, os eventos incontroláveis pelo homem, coerente com sua visão budista, uma poética condizente com a celebração da natureza, o homem como expectador, apenas constando, pouco ou nada interferindo:
ERA LUA NOVA
DESDE ENTÃO ESPEREI
E, OH, HOJE!” (OLIVEIRA, 2005, p. 14,15)**.
     Magnífico! Versos antigos atravessando o tempo, assim como o fascínio que sentimos pela lua. E também como o canto milenar repetido por gerações nos mais distantes lugares, louvando a possibilidade da celebração do bem e da vida em todas as suas manifestações.

* O mantra completo está em: (http://www.youtube.com/watch?v=1XvWi-vVVyw

** OLIVEIRA, José Levy. Pan Óplon. Viçosa: Tipográfica-Coluna, 2005. 





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