Saio da aula de ioga e faço meu pequeno trajeto a
pé, no início da noite gelada, sob a lua quase cheia. Venho murmurando baixinho
o mantra repetido ao final do encontro: ”Jaya
Jaya shiva shambo... Máha Deva Shambo...”.*
Já em casa, a noite linda
me domina e, desafiando o clima, fico do jardim, sem acender as luzes, o brilho da imensa bola dourada quase a me
tirar o fôlego. O cenário pede uma taça de vinho e, logo as divagações correm
soltas. Me pego pensando em como é bacana
ter tempo e disposição para contemplar e, despretensiosamente, sou
tomada de pena por aqueles que não podem fazê-lo.
Lembro-me do livro
do poeta J. Levy, que ganhei esta semana e vou a ele. Está lá: “Quando o
monge Matsuo Bashô (1644-1694) quis
resgatar os poemas curtos japoneses de
sua emaranhada sofisticação formal, destacou a estrutura de três versos, o hokku, dando-lhe autonomia e sentido
completo; reforçou sua característica contemplativa ‘zen’; estabeleceu sua
temática necessariamente relacionada com
as estações do ano e com as pequeninas coisas, como as flores, a relva, os animaizinhos,
os insetos, os eventos incontroláveis pelo homem, coerente com sua visão
budista, uma poética condizente com a celebração da natureza, o homem como
expectador, apenas constando, pouco ou nada interferindo:
ERA LUA NOVA
DESDE ENTÃO ESPEREI
E, OH, HOJE!” (OLIVEIRA,
2005, p. 14,15)**.
Magnífico! Versos antigos atravessando o
tempo, assim como o fascínio que sentimos pela lua. E também como o canto milenar
repetido por gerações nos mais distantes lugares, louvando a possibilidade da
celebração do bem e da vida em todas as suas manifestações.
* O mantra completo
está em: (http://www.youtube.com/watch?v=1XvWi-vVVyw
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