Nas redes sociais
não são poucas as pessoas que estão dizendo, diante da tragédia ocorrida em
Brumadinho, que não é o momento próprio para falar de política. Só com muita
paciência e com uma enorme crença na força do diálogo, para não virar as costas
e desistir dessa gente. O momento é trágico. A irresponsabilidade e a ganancia de
uma empresa acabaram com centenas de vidas humanas e colocam em risco
mananciais de água e outros biomas importantes para a preservação do planeta.
Não há momento
mais oportuno para reflexão, especialmente para aqueles que vivem defendendo o
estado mínimo, sob o argumento, jamais comprovado, de que a gestão privada é
mais efetiva do que a gestão pública. A mineradora responsável pelo crime de
Brumadinho e também pelo de Mariana, já foi uma empresa estatal lucrativa e benéfica
para o Brasil. Por ter como atividade principal a exploração de
recursos minerais, questão estratégica para qualquer país que se preze, seria
natural que continuasse sendo gerida pelo poder público, mesmo como uma
instituição de economia mista, com participação da iniciativa privada; mas
preservando-se o controle do capital e o poder de decisão nas mãos do estado.
Ao que se sabe,
enquanto foi gerida pelo governo, a mineradora originalmente chamada Vale do
Rio Doce, jamais provocou mortes e desastres ambientais comparáveis ao de
Mariana e Brumadinho. Ou melhor dizendo, jamais praticou crimes dessa dimensão!
Assim sendo, este
é sim o momento exato para falar de política. É ocasião mais que oportuna para
refletir, por exemplo, sobre as propostas de flexibilização de leis ambientais!
Ainda mais
necessário, é incluir nas discussões o tema das privatizações de áreas e
setores fundamentais para a vida do povo, como saúde, previdência, educação e
segurança.
Seria razoável
entregar a gestão de nossa aposentadoria, por exemplo, a empresas que visam
somente o lucro? Até que ponto o tão propalado déficit dos sistemas de
previdência pública (incluindo-se o sistema geral, INSS, e os regimes próprios,
tanto o federal quanto os estaduais e municipais), não são frutos de pressões e
interesses de bancos que querem abocanhar esse filão de negócios, para engordar
ainda mais seus já exorbitantes lucros?
Não poderíamos
dizer o mesmo de empresas privadas e lucrativistas, almejando abocanhar cada
vez maior quinhão da saúde, acabando com o SUS?
É preciso questionar
também a quem importa que a educação e a segurança sejam entregues ao capital
privado. Quem sai ganhando quando temos um país com tão baixos índices de
desempenho na área da educação? Ou dito em outras palavras: a quem interessa
que o povo seja cada vez mais ignorante e consequentemente mais fácil de ser explorado
e manipulado?
Nesse momento tão
triste em que nos sentimos impotentes e deprimidos, podemos por exemplo,
pensar também sobre o papel de outras instituições, como as igrejas e
organizações do terceiro setor. Muitas dessas, ao invés de engajarem-se em uma
atuação política firme em favor dos pobres e do meio ambiente, preferem encabeçar campanhas
assistencialistas que apenas amenizam e momentaneamente a dor e o desamparo das
famílias alcançadas pela tragédia.
Mariana chora: Bordado sobre lenço |
Para além das
perdas imediatas de tantas vidas humanas, há consequências difíceis de serem
medidas com precisão, como o alcance dos danos provocados à saúde das pessoas
que vivem no entorno dos locais onde as ocorrências se deram. O desastre de
Mariana atingiu e prejudicou a vida e o equilíbrio ecológico de regiões
distantes, estendendo suas funestas consequências às praias do Espírito Santo e
provavelmente de outros estados.
Agora o
rompimento da barragem em Brumadinho já provoca danos de consequências ainda
mais drásticas. Além da dolorosa perda de centenas de vidas, os rejeitos do
rompimento da barragem já alcançam o rio Paraopebas e a previsão é que, em cerca de quinze dias,
chegarão ao Rio São Francisco, que corta diversos estados, além de Minas
Gerais.
O Greenpeace uma
das maiores organizações mundiais em defesa do meio ambiente afirma: "Este novo desastre com barragem de rejeitos de
minérios, desta vez em Brumadinho (MG), é uma triste consequência da lição não
aprendida pelo Estado brasileiro e pelas mineradoras com a tragédia da barragem
de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), também controlada pela Vale. Minérios
são um recurso finito que devem ser explorados de forma estratégica e com regime
de licenciamento e fiscalização rígidos. A reciclagem e reaproveitamento devem
ser priorizados. Infelizmente, grupos econômicos com forte lobby entre os
parlamentares insistem em querer afrouxar as regras do licenciamento ambiental,
o que, temos alertado, significaria criar uma 'fábrica de Marianas'. Casos como
esse, portanto, não são acidentes, mas crimes ambientais que devem ser
investigados, punidos e reparados."
Por favor, vamos ter um mínimo de bom senso e descartar esse
discurso de que não é momento para falar de política.
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