A gente vive anos
sem pensar em um assunto. De repente, por um desses encontros que a casualidade
nos reserva, somos tomados por algo novo e que passa a fazer parte de nossas
reflexões. Foi o que me aconteceu em relação aos ciganos, depois de conhecer uma
pessoa encantadora e determinada em sua luta pela causa cigana. Falo da
professora Bernadete Lage Rocha, que vive aqui em Viçosa e faz parte do Conselho
Estadual de Promoção da Igualdade Racial – MG e do movimento Mulheres Pela Paz,
a quem tive o privilégio de conhecer por intermédio de meu grande mestre
Professor Tancredo Almada Cruz. A paixão que move a professora na defesa do
povo cigano é algo arrebatador. Vejam partes de um texto publicado por ela e que
vale a pena ser replicado: “ Estamos tratando do histórico preconceito que se
perpetua há quase 1.000 anos e que é matriz dos efeitos devastadores sobre um
povo, a Etnia Cigana, condenando a maioria de suas crianças, jovens e
adultos a uma existência inteira de completa exclusão pelo mundo”.
Relatando as
origens do enorme preconceito que cerca essa etnia, continua a Professora
Bernadete: “Para sobreviverem, viajavam como mágicos, videntes e músicos. Por
falta de lastro social, passaram a despertar o desprezo e a ira da
minoria dominante, o que culminou em irracional discriminação....”. Lembrando
que esses povos sofrem “as mais contundentes formas de segregação e violência”,
a professora menciona que “Na Itália, em 2008, Berlusconi mandou queimar 400
tendas, deixando ao relento centenas de famílias.”. Relata ainda que o mesmo tem
ocorrido em tempos recentes em outros países
ditos desenvolvidos como a França, onde recentemente houve ataques a
acampamentos de ciganos.
No Brasil a
situação não é diferente. Estando por aqui, desde o século XVI, eles têm sido
discriminados ao longo dos tempos. Dos cerca de 800.000 ciganos hoje existentes, 90%
são analfabetos e “ excluídos de políticas públicas básicas de
saúde, bolsa-escola, bolsa-família, vacinação, pré-natal, atendimento médico”. E
mais: “O surpreendente é que todo esse sofrimento sem fim, está fundamentado
apenas no imaginário coletivo, atávico, de que ciganos são perigosos,
desonestos, denominações, inclusive, encontradas até em dicionários”.
Felizmente, alguma
luz começa a surgir no fim desse túnel escuro de preconceito e ignorância. Por
iniciativa do Deputado Federal Tiririca, alguns projetos de lei em defesa dos
ciganos, circenses e outros “mambembes” têm sido apresentados. Bom que esteja
vindo dele, que conhece de perto o que é sofrer preconceito e que, mesmo antes
de iniciar seu mandato, foi massacrado pela grande imprensa por ser “ignorante”,
como se boas ideias, dedicação e trabalho fossem prerrogativas de gente
estudada.
Trago
ao meu blog, ainda tão incipiente, esse assunto do qual conheço pouco, na
tentativa de compartilhá-lo, mesmo que com número reduzido de pessoas. E,
principalmente, em solidariedade ao povo
cigano e como homenagem à Professora
Bernadete, corajosa e decidida em sua busca por fazer esse mundo um pouco
melhor.
O texto completo da professora
Bernadete está disponível em:
Veja também vídeo da professora
Bernadete divulgado na conferência Rio + 20, em: http://www.youtube.com/watch?v=P9JwaMBUSl8
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