Costumo dizer que seu não fosse mineira, queria
ter nascido em Minas Gerais. Ainda bem que dizem por aí que somos tímidos e
modestos (o que penso não ser o meu caso, em particular). Não fora isso,
viveríamos de exaltar as coisas boas que temos no estado.
Relacionar lugares para visitar em Minas é uma
moleza. Podemos fazer listas que não acabam mais, começando pela capital e seu
entorno, destacando o Inhotim, indo depois para Ouro Preto, Mariana e
redondezas. Não é difícil alcançar Congonhas, Tiradentes, Sabará, Diamantina e os
incontáveis distritos históricos mineiros, cheios de beleza e charme. Em nosso
clima ameno e topografia predominantemente montanhosa, encontramos paisagens encantadoras,
trilhas incríveis, com rios, cachoeira e grutas espetaculares. Além da comida,
é claro, um dos atrativos consideráveis do estado.
Passaria facilmente longas horas a contar dos encantos
do nosso estado, se não quisesse também falar de nossa gente. Quem tem
Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado, Fernando Sabino,
Ziraldo, Fernando Morais, Milton Nascimento e Sebastião Salgado, entre tantos
outros, tem prosa da boa por muito tempo.
Estaçãozinha de trem em Cordisburgo |
A proposta de hoje é falar de um passeio à
terra do nosso escritor maior. Refiro-me a Cordisburgo, cidade de Guimarães Rosa,
que fica bem próximo a Belo Horizonte. Um dia é suficiente para adentrar no
ambiente onde foi gestada e inspirada a
obra desse autor admirável. Em sua terra natal, está o Museu Casa de
Guimarães Rosa, organizado na residência da família onde viveu o escritor
grande parte de sua infância. O museu reúne um ótimo acervo com mobiliário original, fotos, manuscritos, matrizes de impressão de algumas obras e edições históricas dos livros do autor, entre outras preciosidades. Dentre os cômodos preservados da casa, o quarto da avó e a venda do pai (seu Fulô), onde o menino João cresceu ouvindo histórias contadas por sertanejos da região, que inspiraram toda a sua obra, especialmente o espetacular Grande Sertão - Veredas. Emociona ver os livros com dedicatórias e as cartas do autor aos pais e, encanto dos encantos, a coleção de gravatas borboletas do autor de Sagarana.
No museu estão também a sua máquina de escrever, objetos referentes à sua atuação como médico e diplomata e o diploma da Academia Brasileira de Letras, recebido apenas três dias antes de sua morte.
No museu estão também a sua máquina de escrever, objetos referentes à sua atuação como médico e diplomata e o diploma da Academia Brasileira de Letras, recebido apenas três dias antes de sua morte.
Capa bordada com cenas do livro Grande Sertão - Veredas |
Importante atrativo da cidade, incentivando o
turismo cultural e de pesquisadores, o museu conta com intensa participação da
comunidade local que, por intermédio da Associação dos Amigos do Museu Casa
Guimarães Rosa (AAMCGR), desenvolve atividades, eventos e projetos voltados à
divulgação da obra do autor e à preservação de sua memória.
No Portal Grande Sertão |
A cidade de Cordisburgo, que é pequena e acolhedora, preseva traços da época em que viveu o autor. Bordadeiras compõem peças com reproduções de cenas da obra de Rosa, bem em frente à estaçãozinha de trem. Tudo na cidade respira literatura.
Entrada da gruta de Mquiné |
Estando em Cordisburgo não se pode deixar de
visitar a sua outra grande atração turística: a gruta de Maquiné. Com boa
estrutura para atendimento ao visitante, o local abriga um museu moderno e
interativo que guarda acervo relativo ao período da descoberta da gruta, em
1825 e homenageia o naturalista dinamarquês Peter Lund, um importante estudioso
das grutas de Minas Gerais, responsável
pelos registros de vida pré-histórica na região.
Primeiro salão da Gruta |
Já relatei por aqui que não sou muito amiga de
grutas. Confesso que dessa vez quase rompi meu medo, encantada que fiquei com a
vista ao primeiro salão, majestoso e claro, um cenário de sonhos, esculpido
pela natureza. Não me encorajei a atravessar o estreito corredor de acesso aos
outros ambientes de Maquiné. Obviamente, minha visita foi incompleta. Ainda
assim, sinto-me animada a incentivar os mais ousados a adentrar aquele universo
misterioso e encantador, que levou milhões e milhões de anos para se formar e
que somente há menos de dois séculos foi descoberto pela humanidade.
Bem próximo dali e ainda mais perto de Belo
Horizonte, está a gruta Rei do Mato, outro conjunto natural importante
principalmente por descobertas arqueológicas recentes.
Minas é assim: anda-se apenas mais um pouquinho,
que logo ali se descobre outra beleza, outra gostosura, mais conversa boa. Atrações
interessantes “dão sopa” por aqui. Agora imagina só, compadre meu Quelémem, se a gente fosse de contar vantagens...
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