domingo, 13 de dezembro de 2015

Adélia Prado: 80 anos

Por que gostamos tanto de poesia? Acho que é porque ela adoça a vida.
A poeta mineira, Adélia Prado, que, assim como os bons de sua estirpe, tira poesia de pedras, celebra, neste domingo, 80 anos de vida. Morando em Divinópolis, no interior do estado, vive sem estrelismos. “Em silêncio, como pede o atual momento”, disse a poeta. Em comemoração, a Editora Record publica Poesia Reunida, que, como o próprio nome sugere, congrega todos os seus livros em um só.
Adélia é capaz de descrever, com singular beleza, ações simples  do cotidiano, como o poema da mulher que confessa gostar de limpar os peixes que o marido pesca; ou quando conta que o pai pintou a casa de alaranjado e ficou sempre como se estivesse amanhecendo. 
A poeta lançou seu primeiro livro, Bagagem, em 1976. Depois publicou:  O coração disparado (1978), Terra de Santa Cruz (1981), O pelicano (1987), A faca no peito (1988), Oráculos de maio (1999) e A duração do dia (2010).
Mas, o que mais me encanta em Adélia é a sua verve  apaixonada, primorosa. Fiquei sem fala a primeira vez que li o poema Bilhete em papel  rosa, que dedicou ao seu amado secreto, Castro Alves.
Quantas  loucuras fiz por teu amor, Antônio.
Vê estas olheiras dramáticas,
Este poema roubado:
‘o cinamomo floresce
em frente ao teu postigo.
Cada flor murcha que desce,
Morro de sonhar contigo’.
Ó bardo, eu estou tão fraca
E teu cabelo é tão negro.
Eu vivo tão perturbada
Pensando com tanta força
Meu pensamento de amor,
Que já nem sinto mais fome,
O sono fugiu de mim.
Me dão mingaus, caldos quentes,
Me dão prudentes conselhos,
Eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido,
A tua boca de brasa, Antônio, as nossa vidas ligadas.
Antônio lindo, meu bem,
Ó meu amor adorado,
Antônio, Antônio.
Para sempre tua.”

Ou no também arrebatador, Pranto para comover Jonathan:

“Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.”

A paixão em Adélia é sofrida, mas é um sentimento lindo demais! Obrigada poeta, por tornar nossos dias mais doces. Vida longa e muito produtiva a você, para o nosso bem.

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