quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Vestir a Camisa da Empresa


Quantas vezes já ouvimos essa expressão! Ela é uma das campeãs do papo furado que predomina na maior parte das organizações. Às vezes somos obrigados a deixar claro que aquela camisa que vivem insistindo para que a gente vista, não nos serve. Nem sempre é fácil, mas nossa saúde mental depende dessa coragem.
Por falar em saúde mental, já fiz aqui no blog comentários sobre o livro Imagens da Organização de Gareth Morgan e dentre as metáforas que ele propõe para perceber as organizações, uma das que mais gosto é a que visualiza essas entidades como “prisões psíquicas”. Costumo dizer aos meus alunos que empresas são máquinas de fazer loucos. E gosto de sugerir que eles leiam A loucura do trabalho, livro de Christophe Dejours, publicado na década de 1980.
Voltando às expressões de uso comum em empresas, outra que costumamos ouvir bastante é: aqui somos como uma família. Só de escutar isso, já me arrepio. Pura conversa fiada. Na maior parte das organizações onde esse mantra é muito repetido, prevalece o total descaso com as relações humanas no trabalho, com a qualidade de vida e até mesmo com a saúde dos funcionários. Deus me livre desse tipo de família.
Por falar em  funcionários, logo me lembro  de outra balela muito comum no mundo empresarial. Falo do modismo de referir-se aos empregados como colaboradores.  Essa é parecida com o uso indiscriminado do gerúndio. Quem tenta contestar e combater, como é o meu caso, vira quase um ET. Não é fácil nadar contra a maré, mas não me importo de ser vista como a enjoada.  Penso que um dos papeis dos professores é justamente esse: sugerir e incentivar os alunos a refletirem sobre o que leem e o que ouvem.
Preparar pessoas para trabalhar no mundo empresarial é também um negócio de louco. Ainda mais com os jovens, tão cheios de sonhos, parece até cruel alertá-los sobre o tanto de conversa fiada que tem por aí. Nessa categoria incluo as palestras e os livros de autoajuda tão difundidos entre eles. Não é fácil dizer a eles para não caírem nessa conversa, que não existe receita milagrosa para o sucesso. (− ah, como os meninos gostam dessa palavra!).

Gosto também de dizer o seguinte: − Não é porque você teve um gerente babaca, que deve se transformar em um deles. Nem tudo que é feito, dito ou escrito por aí, merece ser repetido. E lembro  com frequência que os modelos de gestão que prevalecem na maior parte das organizações não servem de referência para quem tem uma boa formação e um mínimo de caráter.

Nenhum comentário:

Postar um comentário