sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CRÕNICAS DO DIA A DIA

SÍNDROME DO NINHO VAZIO
Há pouco mais de um ano escrevia aqui uma crônica intitulada Quando Nossos Filhos Saem de Casa. Estava refletindo sobre a experiência de ver minha pequena mais velha, já formada na faculdade,  bater as asas e ir cuidar da própria vida longe da família. No início fui lá muitas vezes, andei dando até palpites demais na montagem de seu apartamentozinho, ficava preocupada se estava comendo direito, como estaria cuidando das próprias roupas, essas bobagens de mãe. Agora estou mais tranquila. Já vou poucas vezes, compreendi que ela está independente que aprendeu a se cuidar e que não vai passar sozinha por apuros, pois mesmo estando longe sabe que pode contar com a família.
Agora minha caçulinha  vai bater as asas, para mais longe, vai  para fora do Brasil. Tudo de novo, pensei, muito pior, logo conclui. Não poderei ir com ela, ajudar a encontrar uma morada, como fiz com a mais velha, ficar lá por uns dias, nada disso. Ela vai sozinha para um país distante, de língua estrangeira e eu, tão provinciana e caipira penso que isso é o fim do mundo, como vai viver sem nossa comidinha caseira,  sem empregada, sem carro, essas facilidades que ainda temos no Brasil, mas que sabemos lá fora não existem mais.
Ando a pensar e muito em como vai ser  ficar nessa casa sem elas; que quando viemos morar aqui tinham sete e nove anos e éramos nós e a Sacha, nossa boxer  brincalhona que fazia bagunça nos canteiros e como eu brigava e as meninas sempre a defendiam.
Chego a cogitar de ir morar noutra cidade, vivenciar uma experiência que penso necessária, já que andei tão pouco de onde nasci até onde vivo,  já disse o Dominguinhos “amigos a gente encontra, o mundo não é só aqui”.
Já escrevi também que essa casa sou eu, que aqui cultivo um jardim tropical que atrai beija-flores marrons que me remetem à minha irmã jardineira que já foi embora e que terei dificuldades em eu mesma bater as asas.
Minha pequena, um metro e setenta, vinte e dois anos, nem dei conta. Mas é uma adulta e, mesmo a mãe pensando que não está pronta, prepara-se para  voar. Vai se dar bem, se Deus quiser. Como também já disse aqui quando falei da saída da irmã: nossos filhos vivem melhor sem nós. Mesmo que doa, é isso, não há parada para o inexorável ciclo da vida.

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