Cecília Meireles, sempre oportuna, mais atual do que nunca.
TRÊS
Eu vi as altas montanhas
Ficarem planas
E o mar não ter movimento
E as cidades irem sendo
Teias de aranha.
Por mais que houvesse, dos homens,
Gritos de amor ou de fome,
Não se escutava
Nem a expressão nem o grito
- Que tudo fica perdido
Quando se passa.
Eu vi meus sonhos antigos
Não terem nenhum sentido,
E recordava
Tantas emoções de cativos
Estendendo em seus jazigos
Duras garras.
Rios de pranto e de sangue
Que pareceram tão grandes,
Onde é que estavam?
A asa que longe se move,
Desprende-se quando sobe,
Da humana larva.
(In: Cecília Meireles. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)
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