segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Tão Rico, Tão Pobre

Estou expondo meus estandartes na Casa de Cultura de Paula Cândido, como parte da programação da festa de Nossa Senhora do Rosário, evento que se repete há mais de um século. Já participei de exposições em outros locais e cidades, todas muito bacanas, que me encheram de alegria pela oportunidade de mostrar minhas artes e interagir com os visitantes. Todavia nenhuma delas esteve em um contexto tão apropriado como essa que vem ocorrendo agora.
Estandarte que compus especialmente para a Exposição
Estandartes são bandeiras ou flâmulas que abrem desfiles militares, religiosos, ou de festividades pagãs, como o carnaval, por exemplo. Representam tropas, grupos, nações, tribos, embarcações, ou blocos e geralmente são compostos em tecidos com as cores das respectivas agremiações. Na sua composição, na maior parte das vezes, utilizam-se rendas, fitas, bordados, sianinhas, galões, pedrarias e outros adereços que contribuam para dar cor, harmonia e beleza às peças que possuem um papel importante nos desfiles e cortejos. Estandartes, no Brasil, ganharam status de obras de arte, com Arthur Bispo do Rosário, artista brasileiro, cujas obras já estiveram presentes em bienais e exposições em diversos países.


Congada em frente à igreja do Rosário-Foto: Thaynã Paes


Todo o vigor da festa. Foto Thaynã Paes

As Congadas são tradicionais manifestações da cultura popular e têm forte influência de danças, músicas e costumes africanos, que, num processo de sincretismo religioso, incorporaram-se às comemorações católicas. Atualmente, assim como ocorre em Paula Cândido, em várias outras localidades, as festas do Rosário praticamente não existem sem as Congadas. Estas, por sua vez, não existem sem os estandartes.
Mestre Zezinho: elegância, vigor, alegria
Quando assisto manifestações populares importantes como essa, não consigo deixar de pensar em como a cultura africana é forte, pois, apesar de historicamente vir sofrendo contínuas tentativas de massacre, tem sobrevivido com todo o vigor. E isso não se dá apenas com as Congadas. Quando vamos a Salvador (BA), Ouro Preto (MG), ou Olinda (PE), por exemplo, deparamos permanentemente, com manifestações da cultura afro, seja por intermédio da música, dança, folclore, culinária e outras expressões.
Toda prosa no meio dos mestres-Foto Thaynã Paes
No meio a toda essa riqueza cultural, não posso também deixar de observar o quanto grande parte de nosso povo continua pobre no sentido literal da palavra, não usufruindo de condições mínimas para ter uma vida digna. Penso muito nisso quando vejo pessoas sem dentes, ou com prótese dentária total, ou caminhando pelas ruas em dias chuvosos com os pés desprotegidos (calçando chinelos de dedos), por exemplo. Essas são manifestações evidentes de falta de acesso a condições mínimas de uma vida decente.
Tudo isso me comove muito e me espanto de perceber o quanto são insensíveis os políticos e demais pessoas detentoras de poder, nesse nosso país tão lindo, tão rico de recursos materiais e de tradições culturais e, ao mesmo tempo, tão pobre de oportunidades ao povo. Grande parte dele não usufrui sequer da possibilidade de ter uma vida com um mínimo de dignidade e conforto material. Ainda assim, continua alegre, festeiro e animado e nos brinda constantemente com manifestações encantadoras como  a festa do Rosário e o Congado de Paula Cândido, dos quais, este ano, estou tendo a honra de fazer parte.
Com a equipe da Secretaria de Cultura
Recebendo visitantes na exposição-Foto Thaynã Paes

2 comentários:

  1. Que lindo Maria Inês, uma grande alegria poder fazer parte de tudo isso, as pessoas estão saindo encantadas da Casa da Cultura, Viva a Senhora do Rosário!

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  2. Que lindo,Maria Inês!! tô feliz demais por vocē estar conhecendo de perto a cidade da minha família querida, e que.a cidade também possa conhecer você!! um beijão! Gis

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