terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Museu de Congonhas

Profeta de Aleijadinho na escadaria da
Igreja de Bom Jesus do Matosinhos
Foi muito interessante retornar a Congonhas e, diferentemente do que imaginava, por ser uma cidade histórica, não encontrar apenas “as mesmas atrações de antes”. Via de regra, viajamos em busca de emoções e ser surpreendida positivamente é o que mais queremos.
Rever o conjunto arquitetônico formado pela Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, seu pátio e escadarias adornados pelos profetas de Aleijadinho e as capelas do entorno é sempre emocionante.   
A casa destruída de Paracatu de Baixo, agora
no Museu de Congonhas
Há cerca de um ano, a cidade inaugurou o Museu de Congonhas. Instalado em um prédio moderníssimo, juntamente com o casario colonial do centro histórico, a arquitetura surpreende chegando até mesmo a chocar. Sinceramente não sei qual foi o propósito e por qual motivo o Museu não foi instalado em uma das edificações antigas já existentes no local. Mas isso não vem ao caso. Assim como não é a minha intenção discutir sobre o acervo, quase todo adquirido de particulares por um preço considerável.
Além do acervo permanente, o Museu possui espaço para exposições. Em um deles encontra-se uma instalação muito surpreendente. Trata-se da obra intitulada Agridoce, realizada pelo artista  sul africano Haroon Gunn-Salie. A proposta une arte e realidade e tem como objetivo resgatar a tragédia ocorrida em Mariana em novembro de 2015. Como se sabe, mais de uma dezena de pessoas foram mortas e povoados inteiros destruídos, em consequência do vazamento de barreira de uma grande mineradora que explora a região.  O artista, em cooperação com uma das famílias atingidas pelo desastre que devastou o Rio Doce, atingindo o litoral do Espírito Santo, retirou, no distrito de Paracatu de Baixo, os restos de uma casa, no estado em que ela se encontrava, parcialmente soterrada pela lama e instalou-a no museu. A obra compõe-se também de um vídeo que mostra todo o processo da retirada dos escombros da casa.   A ideia foi a de levar o público a repensar a tragédia, discutir suas consequências, sob a ótica da arte,  e refletir sobre as respostas que esta pode trazer à vida real. Especialmente para o Museu de Congonhas, o artista acrescentou à obra, outro conjunto, constituído por réplicas destruídas das estátuas dos profetas que ficam no pátio da igreja do Bom Jesus do Matosinhos. A ideia foi simular as consequências de um possível desastre ambiental em um dos mais importantes patrimônios culturais do  pais. Pretendeu-se alertar para os riscos existentes, já que a mineração é praticada intensamente no município de Congonhas, que abriga barragens  até no centro da cidade.
O conjunto da obra é chocante e o impacto que me causou foi indescritível. Desde o cheiro de lama e de poeira que comecei a sentir logo na entrada da galeria, ainda assistindo ao vídeo, até que, com as pernas bambas me postei de joelhos diante dos “profetas destruídos”, fui tomada por emoções profundas e bastante choro, que ainda me alcançam fortemente ao fazer esse relato.
Lágrimas inevitáveis
A instalação que  originalmente foi mostrada em São Paulo, segue daqui a um mês para o Rio de Janeiro e depois para outras cidades do Brasil. É muito confortador ver a arte cumprindo seu papel de despertar emoções e reflexões. Não é pouca coisa ter a oportunidade de visitar uma obra com significado tão relevante.
Para quem está em Minas, vale a pena aproveitar a oportunidade para conhecer ou rever Congonhas e seu novo Museu com essa obra extraordinária, que merece ser visitada por todos, contribuindo para que o desastre de Mariana não seja esquecido, nem suas consequências minimizadas.

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