Profeta de Aleijadinho na escadaria da Igreja de Bom Jesus do Matosinhos |
Rever o conjunto arquitetônico formado pela
Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, seu pátio e escadarias adornados pelos
profetas de Aleijadinho e as capelas do entorno é sempre emocionante.
A casa destruída de Paracatu de Baixo, agora no Museu de Congonhas |
Além do acervo permanente, o Museu possui espaço
para exposições. Em um deles encontra-se uma instalação muito surpreendente. Trata-se
da obra intitulada Agridoce, realizada pelo artista sul africano Haroon Gunn-Salie. A proposta une arte e realidade e tem como objetivo resgatar a tragédia ocorrida em
Mariana em novembro de 2015. Como se sabe, mais de uma dezena de pessoas foram
mortas e povoados inteiros destruídos, em consequência do vazamento de
barreira de uma grande mineradora que explora a região. O artista, em cooperação com uma das famílias
atingidas pelo desastre que devastou o Rio Doce, atingindo o litoral do
Espírito Santo, retirou, no distrito de Paracatu de Baixo, os restos de uma casa, no estado em que ela se
encontrava, parcialmente soterrada pela lama e instalou-a no museu. A obra compõe-se
também de um vídeo que mostra todo o processo da retirada dos escombros da
casa. A ideia
foi a de levar o público a repensar a tragédia, discutir suas consequências, sob
a ótica da arte, e refletir sobre as
respostas que esta pode trazer à vida real. Especialmente para o Museu de
Congonhas, o artista acrescentou à obra, outro conjunto, constituído por
réplicas destruídas das estátuas dos profetas que ficam no pátio da igreja do
Bom Jesus do Matosinhos. A ideia foi simular as consequências de um possível
desastre ambiental em um dos mais importantes patrimônios culturais do pais. Pretendeu-se alertar para os riscos
existentes, já que a mineração é praticada intensamente no município de
Congonhas, que abriga barragens até no
centro da cidade.
O conjunto da obra é chocante e o impacto que me causou
foi indescritível. Desde o cheiro de lama e de poeira que comecei a sentir logo
na entrada da galeria, ainda assistindo ao vídeo, até que, com as pernas bambas
me postei de joelhos diante dos “profetas destruídos”, fui tomada por emoções
profundas e bastante choro, que ainda me alcançam fortemente ao fazer esse
relato.
Lágrimas inevitáveis |
A instalação que originalmente foi mostrada em São Paulo, segue
daqui a um mês para o Rio de Janeiro e depois para outras cidades do Brasil. É
muito confortador ver a arte cumprindo seu papel de despertar emoções e
reflexões. Não é pouca coisa ter a oportunidade de visitar uma obra com
significado tão relevante.
Para quem está em Minas, vale a pena aproveitar a
oportunidade para conhecer ou rever Congonhas e seu novo Museu com essa obra
extraordinária, que merece ser visitada por todos, contribuindo para que o desastre de
Mariana não seja esquecido, nem suas consequências minimizadas.
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