HOMEM
COMUM – Philip Roth (Trad. Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007).
Sempre
comemoro quando encontro bons livros que sejam ao mesmo tempo curtos, o que
costuma ser raro. Homem Comum tem esse mérito, além de não ser pretensioso. Trata
de temas angustiantes como doenças e morte, de forma leve e até com certa dose
de humor.
É
impagável e hilário o relato da gafe do psicanalista que insistia em diagnosticar como inveja, uma crise de
apendicite.
O
protagonista, como o próprio nome indica, é um sujeito qualquer, um publicitário de quem nem ficamos
sabendo o nome. Muito mais do que detalhes de suas relações familiares, de suas
peripécias amorosas ou mesmo de suas venturas e desventuras profissionais, ele
nos conta de suas doenças e fala de morte. A começar por uma internação hospitalar, ainda
criança, quando teve que ser submetido a uma cirurgia, e acabou presenciando a
morte de seu companheiro de quarto.
Perpassando toda a narrativa, os episódios relacionados a doenças e seus tratamentos
constituem o fio condutor da história. No entanto, é de vida que o livro fala o
tempo todo, como diz o personagem: “Eu tenho uma preferência arraigada pela
sobrevivência” (p. 52).
Demostrando
possuir certa fixação com essas questões, o sujeito chega ao ponto de deixar
deteriorar uma relação afetuosa que mantinha com o único irmão. Não por inveja
da brilhante e bem sucedida carreira profissional, ou do dinheiro que este possuía,
mas porque não suportava constatar que, ao contrário de si, o irmão tinha uma
saúde perfeita.
Muito mais
do que o enredo, o que atrai no livro é escrita primorosa. É memorável,
visceral, a descrição dos detalhes do lento enterro do pai do personagem, que
culmina com uma frase curta e contundente: “Ele vira seu pai desaparecer do
mundo centímetro por centímetro” (P. 49).
Ao fim,
não pude deixar de fazer uma analogia com o mestre Caetano Veloso, que lá nos
inícios dos anos 1980, já cantava lindamente:
“Sou um homem comum.
Qualquer um
Enganado entre a dor e o
prazer
Hei de viver e morrer
Como um homem comum
... (Caetano Veloso em: Peter Gast)
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