terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Diário da Chapada Diamantina – 2. Trilha e visita à Cachoeira do Buracão

Logo cedo estávamos na agência de turismo que havíamos procurado na noite anterior. Rapidamente descobrimos que cumprir horários não era bem a praia das pessoas que trabalhavam no local. A saída que estava programada para ser em torno de oito da manhã, somente aconteceu uma hora e meia depois. O destino: Cachoeira do buracão, uma das mais famosas da chapada, que fica a cerca de três horas da cidade de Mucugê, onde estávamos  hospedados.
Mucugê na noite da nossa chegada
Seguimos com um guia até o município de Ibicoara, onde outro guia incorporou-se ao grupo que além de nós quatro, contava com mais dois casais. Íamos em dois carros. O percurso até o local, (já tínhamos sido avisados) seria bastante fragmentado. Primeiro percorremos uma hora (cerca de 70km) em estrada asfaltada, até o município de Ibicoara. Depois mais uma hora (em torno de 30 km) em estrada de chão em condições precárias e com muita, muita poeira. Entramos no Parque Natural Municipal do Espalhado. O calor era grande. Tivemos que nos proteger contra o sol escaldante. Daí seguimos a pé por mais uma hora, até a descida que dá acesso ao canyon e à cachoeira.

Início da trilha

 A trilha, pra mim, é quase sempre o melhor dessas aventuras. Adoro descobrir e admirar cada planta, cada acidente geográfico, ouvir os bichos e escutar as histórias dos guias. Atravessamos pequenos  rios, alguns com pinguelas, outros caminhando sobre as águas rasas. O percurso é todo pontuado por uma vegetação deslumbrante. Avistamos plantas das mais variadas espécies. 
Bromélia raio de sol, um dos
símbolos da chapada
Orquídeas em todo o caminho
Flores como orquídeas e bromélias em profusão; frutíferas como a maçaranduba, o mocozinho e a mangaba que eu não conhecia. Caminhamos a pé por cerca de uma hora, com pouca dificuldade.

Rainha da Serra, trepadeira comum nos campos da chapada

 Aproximando-se do final da trilha avista-se o lago maravilhoso. Trata-se da parte alta da cachoeira, onde o rio caprichosamente empoça-se entre pedras, antes de entrar no canyon e despencar os setenta metros  que formam a queda d água. Em seguida há um bom trecho de descida no meio de pedras, em trilha irregular e difícil. Em duas partes, há escada de madeira, dada a impossibilidade de acesso  pelas pedras. Chega-se ao interior de um canyon e já se vê imediatamente uma pequena cachoeira, a do mato verde. Do lado contrário, vislumbra-se um enorme lago de águas escuras e ouve-se o barulho forte das águas da cachoeira do buracão, que encontra-se a uma distância de cerca de 50  metros. Para ter acesso a ela é preciso atirar-se às águas e nadar contra a correnteza por cerca de 15 a 20 minutos, a depender do preparo físico de cada um. Nesse ponto me acovardei. Não tive coragem para tanto. Descansei  alguns minutos e, mesmo contrariando meu grupo, que me incentivava a prosseguir,  retornei à parte alta da cachoeira, onde está a lagoa maravilhosa.
Aproveitei do meu jeito, fotografando plantas e animais, relaxando e contemplando, quase sozinha, no meio da matinha que circunda o local. Mergulhei no lagoa de águas mornas e escuras, cercado por pedras e de uma bonita vegetação. Ouvia e até via as pessoas lá embaixo.
Depois fiquei sabendo que a lagoa maravilhosa é chamada pelos guias locais e pelos mais audaciosos de lagoa dos frouxos. Pode ser, mas esses também conseguem inesquecíveis momentos; com menos adrenalina, pode ser, mas repletos de possibilidades de contemplação com mais calma, sem a obrigação de vencer desafios a todos os momentos.
Mergulho na lagoa maravilhosa, a parte alta da cachoeira do buracão
Descobri que, assim como para o mineiro, tudo é pertinho, logo ali, para o baiano tudo é fácil, facinho e não tem perigo. Antes de sair para a caminhada perguntei aos guias e ao proprietário da agência sobre esse último pedaço do trajeto, o que envolvia a flutuação e o acesso à cachoeira dentro do canyon. Todos afirmaram que era facílimo, com o que definitivamente não concordo. Na verdade, não se trata de flutuação, mas sim de um trecho em que é preciso nadar na direção contrária à correnteza das águas. É bem verdade que isso é feito com equipamentos adequados e com o acompanhamento de guias. No entanto, no meu caso que não sou muito amiga de grutas e lugares fechados, a situação é um pouco mais complicada.
Mesmo não tendo adentrado a cachoeira do buracão, foi um passeio maravilhoso. A trilha é linda e a lagoa maravilhosa, como o próprio nome diz é algo deslumbrante.

Retornamos no final da tarde e ainda fizemos uma pequena parada no mirante da pedra redonda, próximo a Ibicoara. Era quase noite e estávamos exaustos. Abrimos com chave de ouro a estadia na chapada. No dia seguinte nova programação. Mas isso conto em outra postagem. Até lá.

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