Escrever, como se sabe, é uma arte. Falam até que a
literatura é a maior de todas as artes. Quem escreve e se preocupa em produzir
um texto que além de inteligível, seja agradável, fluente, fácil e leve, sabe o quanto, para muitos, essa não é
uma tarefa simples.
Quando encontramos textos preciosos, costumamos
pensar que são frutos apenas da genialidade de seus criadores. Ledo engano. Boa
literatura é fruto sim do talento, mas também é resultado de um
minucioso “trabalho de carpintaria”. O autor, geralmente depois de colocar sua
ideia no papel, debruça-se sobre seu escrito fazendo retoques, num trabalho que
pode não ter fim.
Dizem que grandes escritores como Guimarães Rosa e
Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, eram pressionados por seus editores
para entregar seus livros, porque costumavam fazer infinitas revisões e nunca
consideravam que seus trabalhos estivessem prontos e dignos de serem publicados.
Essa é uma grande angústia de quem escreve e se
encoraja a publicar. Toda vez que digo a alguém que gosto muito de escrever,
fico com receio de que a pessoa me pergunte:
- Então por que não aprende?
Caso isso me ocorra, ou mesmo já respondendo aos que
assim pensam e não tiveram coragem de
expressar, digo que tento; faço isso todos os dias. Persisto porque penso que não há melhor
forma de aprender algo, do que praticá-lo
à exaustão.
A profusão de
palavras disponíveis na língua que utilizamos e as infinitas combinações a que
podem ser submetidas na construção de um raciocínio e de sua expressão escrita
nos deixam atordoados. E pode acontecer pior: diante dessa fartura de
possibilidades, somos emudecidos
justamente pela falta da palavra adequada. Aquela que estamos procurando e que talvez
até exista, mas não a conhecemos, ou dela não nos lembramos, e que serviria
justamente para expressar a ideia que queremos
transmitir. Palavras costumam se esconder no recôndito da nossa frágil e
incompleta memória ou podem pertencer ao universo amplo de nossa ignorância.
Estava justamente refletindo sobre isso, quando me
deparei com um vídeo muito interessante, onde o grande escritor Ariano Suassuna faz uma análise muito bem
humorada de uma matéria de jornal sobre a banda Calipso. Em minha percepção, a
proposta do autor não foi exatamente a de fazer comentários sobre a qualidade
desse grupo musical, ou sobre a
importância do John Lennon como artista, mas sim a de relatar sua constatação
de como as palavras têm sido tomadas em vão. Vivemos em um tempo em que vocábulos de grande expressividade e
significado vão sendo esvaziados pelo uso vulgar e inadequado.
Nessa curta fala de apenas oito minutos, o criador do
Auto da Compadecida nos presenteia com uma singular análise sobre arte e
cultura e expressa penalizado o seu desgosto pelo que andava presenciando nos
últimos tempos. Nas palavras dele (ditas em outro vídeo), incomodava-o “ a
vulgarização e a descaracterização da cultura
brasileira” . Suponho que ele não tenha expressado esse pensamento sem
algum receio, pois toda vez que esse assunto é tratado, corre-se o risco de ser
chamado de preconceituoso e elitista. Mas, o próprio escritor nos salva dessa
armadilha quando diz: “o povo brasileiro não é brega”, “o povo aprendeu a
gostar de osso, porque quase nunca lhe ofereceram bife”.
Genial. Não encontro outra palavra, embora ele tenha
alertado sobre o seu uso em vão. Quando me deparo com textos magníficos fico
tentada a não escrever mais. Ou pelo menos a não mostrar meus pobres escritos. Mas logo o bichinho
faniquito que mora em mim, começa a importunar-me de maneira tão contundente
que chega a atrapalhar o sono; então corajosa e pretensiosamente volto a expor meus rabiscos. Faço isso mais animadamente quando tenho algo bacana a
mostrar, como é o caso do vídeo do Suassuna, que está anexado em www.youtube.com/watch?v=APeIWKVCLek
Verdadeira preciosidade. Ainda maior para os que gostam de escrever.
Dizer que gostei é redundância! Do texto e do vídeo! Bem lembrado, o Suassuna!
ResponderExcluirAgora, se palavra escrita é difícil de escolher, talhar, rebuscar, ... você me pôs a pensar: imagine a palavra oral! que muitas vezes tem que ser dita "na bucha"! Essa, sim! Tá certo que você tem a chance de desdizê-la, e muitos o fazem na maior cara de pau! Nas vejo nela a mesma "arte", ou, quem sabe mais, na tecitura do pensamento e na escolha da força de expressão que cada palavra exige, de acordo com a situação em que ela precisa ser verbalizada! Vamos conversar mais sobre isso?! Que tal um café filosófico?! rsrsrsrs... Abraços, prima querida!