quarta-feira, 9 de setembro de 2015

DIA DO ADMINISTRADOR

Devido à escassez cada vez maior de recursos, a gestão eficaz é um desafio para a sociedade moderna, constituindo-se em verdadeira prioridade para muitas nações e, consequentemente, para suas organizações.
Por outro lado, a necessidade de dar acesso a mais pessoas à cidadania e a padrões de vida dignos, e os avanços do conhecimento e da complexidade das interações humanas são cada vez maiores, exigindo qualificação em todos os campos de atuação.
A formação oferecida ao administrador no Brasil, quando levada a sério, (obviamente que deveria sê-lo em todas as instituições que se propõem a tal empreitada), capacita o profissional a assumir papéis diferenciados como empreendedor, executivo, assessor, consultor e pesquisador no âmbito das organizações de qualquer natureza e porte. Favorece o  domínio dos códigos da especialidade, de modo a possibilitar a interação com diversos interlocutores no ambiente dos negócios, permitindo a compreensão e a possibilidade de atuação em sistemas produtivos nos diferentes ramos e atividades da ação humana. Beneficia a compreensão histórica e a interpretação de tendências, a partir da análise da conjuntura social, econômica e política ao longo dos tempos e especialmente da atualidade.
Para dar conta de responder a desafios de tal complexidade, a formação do administrador envolve diversos campos do conhecimento, como o direito, a psicologia, a sociologia e a filosofia, dentro do aspecto humanístico; abrange a teoria da administração, o planejamento e a ação estratégica, a gestão de recursos humanos, a administração financeira, mercadológica e da produção, inseridos no módulo instrumental. Perpassa ainda as áreas de economia e negócios, envolvendo a micro e a macroeconomia e contempla disciplinas quantitativas como a matemática e a estatística. Os profissionais de Administração devem adquirir em seus cursos de formação, o domínio de aspectos teóricos e conceituais, que envolvem a comunicação e as relações humanas, visando minimizar conflitos e favorecer a obtenção de um clima organizacional harmonioso. A proposta dos cursos de Administração precisa, salvo melhor entendimento, orientar-se a conteúdos e projetos que favoreçam que indivíduos que se propõem a exercer a profissão sejam, antes de tudo, pessoas melhores. E que se tornem capazes de ensejar ações que contribuam para a efetividade de arranjos organizacionais com ética e justiça social. Para isso, necessita-se, no mínimo, que os administradores adquiram a compreensão de conceitos que tentam explicar o complexo mundo organizacional, como a teoria de sistemas, as teorias da comunicação, de liderança e motivação, entre outras. Tudo isso, sem perder de vista os métodos e técnicas testados e consolidados como recursos capazes de favorecer o desempenho das organizações. Intuição e arte também se inserem nesse extenso pacote de habilidades e atitudes a serem incorporados pelos administradores. Da mesma forma, despertar a curiosidade intelectual permanente pode contribuir para que se melhore a compreensão da singularidade dos indivíduos e de suas delicadas interações em torno de objetivos.
Por fim, porém não menos importante, embora correndo o risco de me alongar além da conta, não posso deixar de abordar uma questão relevante, lançando um questionamento: por que, quem não é médico não pode prescrever medicamentos, quem não é advogado não pode defender nem acusar réus, quem não é engenheiro não pode assinar plantas e projetos de construção?
Relativamente à profissão do Administrador, é bastante comum que se encontrem profissionais de outros campos de formação e até mesmo sem capacitação alguma, exercendo a função. Por que isso ocorre? A resposta não envolve outra razão que não seja: as profissões anteriormente mencionadas têm conselhos fortes e organizados que fiscalizam o exercício das respectivas atividades, denunciando e até punindo profissionais não habilitados ao seu exercício.
Não são poucos os riscos e desastres decorrentes de uma gestão mal feita e equivocada, conduzida indevidamente por profissionais sem a devida formação, em lugar de administradores qualificados. Estão aí a comprovar, notícias que pipocam a toda hora. São hospitais que deixam clientes sem o atendimento adequado, sistemas de transportes que funcionam precariamente, escolas que não cumprem seu papel, entre outros diversos exemplos de administração ineficiente. As consequências não são menores nem maiores do que as resultantes da queda de um prédio ou de uma ponte que ruem em decorrência de cálculos mal feitos, ou de prescrições equivocadas por médicos despreparados. Em todas essas situações, assim como na gestão não profissionalizada, vidas estão envolvidas e os riscos decorrentes dessas inadequações são comprovadamente graves.
Alegam alguns que registros profissionais e direitos exclusivos de exercício de profissões constituem reserva de mercado e que tal normativo não constitui boa prática, devendo prevalecer a capacidade, a competência e o conhecimento do ocupante dos cargos, mesmo que tais habilidades não sejam resultantes de estudo formal. Pode ser. É questão para refletir. No entanto, a prevalecer a legislação que regulamenta o exercício das profissões, como ocorre atualmente e, considerando que a Administração é uma profissão normatizada, não há razão para que algumas áreas sejam respeitadas e outras não.
Na administração pública, de onde deveria vir o exemplo de respeito às normas e regulamentações, prevalece, via de regra, o descaso e o descompromisso com elas. Há cerca de cinco anos orientei estudo que visava verificar a inserção de administrações em funções típicas da profissão em municípios do entorno de Viçosa e a conclusão foi desanimadora. Apenas cerca de 30% dos cargos eram ocupados por administradores. Não tenho razão alguma para acreditar que o quadro atual seja muito diferente. Nos municípios e na gestão pública de maneira bastante generalizada no Brasil, ainda prevalecem o apadrinhamento, o compadrio e o toma lá dá cá da política rasteira e desrespeitosa. Comprovei isso, desolada, em estudo durante a minha dissertação de mestrado. Também nesse caso, a não ser em poucas e felizes exceções, creio que a situação não tenha mudado muito desde 2007, data do meu estudo.   
Aproveito o dia de hoje para alertar principalmente meus jovens alunos para a importância de uma formação qualificada e de uma atuação politica eficaz em torno de associações e entidades representativas sérias. O administrador precisa participar de seus conselhos e sindicatos e cobrar que o exercício da profissão seja fiscalizado, assim como fazem, por exemplo, os Conselhos de Engenharia, de Odontologia, de Medicina, entre outros.


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