Quem vai a Diamantina não deve, em minha opinião, perder a
oportunidade de fazer o circuito Serro, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das
Pedras, fazendo o retorno pela Estrada Real.
Por sugestão de um experiente guia local, começamos por SERRO, município de
20.000 habitantes, na região central da Serra do Espinhaço, cuja sede
assemelha-se a um presépio, com seu casario colonial e muitas igrejas. Incrustado num vale repleto de montanhas, o arraial que deu origem à cidade teve origem no
início dos anos 1700. Chamou-se originalmente Ivituruí, que em tupi-guarani significa morro do vento frio.
Para nossa decepção, nenhuma das bonitas igrejas estava aberta, em plena terça feira.
Especialmente encantei-me com a igrejinha de Santa Rita, edificada no alto de
uma colina e acessível por intermédio de uma larga escadaria de pedras
rústicas, ladeada por um jardim de aspecto medieval, que parece ser tão antigo
quanto a igreja. Ela é uma das primeiras da localidade, tendo sida construída no
início do século XVII. Do seu pátio avista-se quase toda a cidade,
vislumbrando-se uma paisagem colonial linda e bucólica.
Escadaria da igreja de Santa Rita |
Serro, parece um presépio |
Caminhar pelas ruas do Serro é uma experiência singular. A
cidade não é tomada por turistas. Ao contrário, é repleta de habitantes locais.
Havia, no dia em que a visitamos, um burburinho de pessoas, dando-se a impressão
que eram oriundas do meio rural do município; ao contrário do que geralmente é
observado em outras cidades turísticas, onde parece que a população local se
esquiva diante dos visitantes.
Sentimos pena também de não encontrar, apesar de diversas
tentativas, o famoso queijo do Serro. A impressão é que o comércio não é direcionado ao turismo, mas sim
ao atendimento das necessidades dos seus próprios habitantes.
Capela de São Geraldo, com estandartes da festa a festa do Rosário |
Olha ele ai, tristemente cheio de lixo em volta |
Quaresmeiras nascendo nas pedras das cachoeiras |
O pequeno e rústico arraial de Milho Verde é bem espalhado e parece estar em
completa harmonia com a natureza, com suas casas antigas rodeadas por cercas de
bambu e praticamente todas as vias em terra batida.
Não tivemos tempo de explorá-las, mas consta que há
belíssimas cachoeiras e locais adequados para esportes radicais como o rapel.
Encontramos, nessa rápida passagem pelo arraial, duas igrejinhas magníficas,
porém, mais uma vez, fechadas. A igreja do Rosário, segundo consta, provavelmente
foi erguida por escravos, no início do século XIX. Situa-se em um grande pátio
gramado, no topo de uma colina com vista bacana para o vale e serras próximos
ao pico do Itambé. O lugar parece ser o centro do distrito, que é curiosamente
pequeno e ao mesmo tempo, bastante “espalhado”. A outra é a Igreja de Nossa Senhora dos
Prazeres, supostamente construída pelos primeiros habitantes do povoado, que
surgiu por volta de 1730. Embora tombada pelo IEPHA/MG, encontra-se em estado
lamentável, com rachadura no reboco frontal e a escada lateral “caindo de podre”.
Igreja do Rosário |
Igreja Nossa Senhora dos Prazeres |
Depois de almoçar em um restaurante incrustado em meio a uma
vegetação típica do cerrado, rumamos para São Gonçalo do Rio das Pedras, a mais
bela surpresa que o passeio me proporcionou.
Trata-se de um pequeno distrito que emana beleza e
tranquilidade, parecendo ser um local bastante apreciado por hippies
e pessoas que preferem levar uma vida livre do consumismo e da artificialidade típica
das cidades grandes. Sua arquitetura também é característica do período
colonial. O artesanato é riquíssimo. Visitamos uma loja que possui os mais
belos bordados em aplicação que já vi, com acabamento impecável e
impressionante bom gosto na composição de cores.
O que mais me impressionou em São Gonçalo do Rio das
Pedras e que levou-me a elegê-la a mais interessante do circuito foi a
topografia acidentada e repleta de rios, riachos e cursos d´agua, que formam cachoeiras e
corredeiras em pleno centro do distrito. É sem dúvida, lugar para voltar com
mais tempo e para se percorrer a pé.
Piscinas naturais e corredeiras em São Gonçalo do Rio das Pedras |
Beleza deslumbrante |
Ponte sobre o rio Jequitinhonha.vista do alto da Serra |
Rumamos de volta para Diamantina ao cair da tarde,
percorrendo um trajeto de mais de 40 km da Estrada Real, totalmente sem pavimentação, Cruzamos novamente o rio que dá nome à região, dessa vez em uma ponte de madeira precária. Nesse trajeto é que
sentimos realmente estar em pleno vale do rio Jequitinhonha; a estrada em toda a sua extensão
é precária, cheia de curvas e ladeada por montanhas de pedras e vegetação típica
do cerrado.
Minha companheira de viagem, nosso guia condutor e eu |
Sentindo-me como se estivesse dentro de um livro de Guimarães
Rosa, vimos a noite cair nesse cenário impressionante, ainda bem longe da
cidade. O desfecho antológico do trajeto coroou um dia repleto de aventuras e
encantamento. Embora tenhamos escolhido fazê-lo de forma bastante segura, conduzidas
por experiente guia, em veículo
confortável e robusto, confesso que o longo percurso em estrada de terra
provocou em mim certa apreensão. Como percebem, sou uma aventureira medrosa, se
é que esses duas qualificações possam existir simultaneamente.
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