sexta-feira, 31 de julho de 2015

CIRCUITO SERRO, MILHO VERDE E SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS

Quem vai a Diamantina não deve, em minha opinião, perder a oportunidade de fazer o circuito Serro, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, fazendo o retorno pela Estrada Real.
Por sugestão de um experiente guia local, começamos por SERRO, município de 20.000 habitantes, na região central da Serra do Espinhaço, cuja sede assemelha-se a um presépio, com seu casario colonial e muitas igrejas. Incrustado num vale repleto de montanhas, o arraial que deu origem à cidade teve origem no início dos anos 1700. Chamou-se originalmente Ivituruí, que em tupi-guarani significa morro do vento frio.
Para nossa decepção, nenhuma das bonitas igrejas  estava aberta, em plena terça feira. Especialmente encantei-me com a igrejinha de Santa Rita, edificada no alto de uma colina e acessível por intermédio de uma larga escadaria de pedras rústicas, ladeada por um jardim de aspecto medieval, que parece ser tão antigo quanto a igreja. Ela é uma das primeiras da localidade, tendo sida construída no início do século XVII. Do seu pátio avista-se quase toda a cidade, vislumbrando-se uma paisagem colonial linda e bucólica.
Escadaria da igreja de Santa Rita
Serro, parece um presépio

Caminhar pelas ruas do Serro é uma experiência singular. A cidade não é tomada por turistas. Ao contrário, é repleta de habitantes locais. Havia, no dia em que a visitamos, um burburinho de pessoas, dando-se a impressão que eram oriundas do meio rural do município; ao contrário do que geralmente é observado em outras cidades turísticas, onde parece que a população local se esquiva diante dos visitantes.
Sentimos pena também de não encontrar, apesar de diversas tentativas, o famoso queijo do Serro. A impressão é que o  comércio não é direcionado ao turismo, mas sim ao atendimento das necessidades dos seus próprios habitantes.  
Capela de São Geraldo, com estandartes
da festa a festa do Rosário
Em seguida, rumamos para MILHO VERDE, um pequeno arraial surgido no século XVIII. Já no trajeto, avistamos o antológico rio Jequitinhonha, que, para minha tristeza, nesse local, encontrava-se assoreado e com lixo nas margens. No caminho, todo em região de serra, deparamos com diversas entradas para cachoeiras, vegetação deslumbrante  e avistamos a encantadora igrejinha de São Geraldo, que situa-se na entrada do povoado de Três Barras.  Ainda enfeitada com estandartes ao vento, nela acabara de ser realizada a festa do Rosário (segundo moradora do local).  
Olha ele ai, tristemente
cheio de lixo em volta

Quaresmeiras nascendo nas pedras das cachoeiras
O pequeno e rústico arraial de Milho Verde é bem espalhado e parece estar em completa harmonia com a natureza, com suas casas antigas rodeadas por cercas de bambu e praticamente todas as vias em terra batida.
Não tivemos tempo de explorá-las, mas consta que há belíssimas cachoeiras e locais adequados para esportes radicais como o rapel. Encontramos, nessa rápida passagem pelo arraial, duas igrejinhas magníficas, porém, mais uma vez, fechadas. A igreja do Rosário, segundo consta, provavelmente foi erguida por escravos, no início do século XIX. Situa-se em um grande pátio gramado, no topo de uma colina com vista bacana para o vale e serras próximos ao pico do Itambé. O lugar parece ser o centro do distrito, que é curiosamente pequeno e ao mesmo tempo, bastante “espalhado”.  A outra é a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, supostamente construída pelos primeiros habitantes do povoado, que surgiu por volta de 1730. Embora tombada pelo IEPHA/MG, encontra-se em estado lamentável, com rachadura no reboco frontal e a escada lateral “caindo de podre”.
Igreja do Rosário

Igreja Nossa Senhora dos Prazeres

Há diversas  indicações de caminhos para cachoeiras e campings e várias lojinhas de artesanato. Visitamos a loja da Rô, figura carismática, que estudou na cidade onde moro e que nos recebeu de braços abertos, com a simpatia típica dos mineiros. Ela, além de artesã que faz a mais bonita cortina de fitas que já vi, é uma incentivadora do artesanato local, especialmente o bordado feito pelas comunidades quilombolas da região. Sua lojinha de artesanato é uma atração do local.

Depois de almoçar em um restaurante incrustado em meio a uma vegetação típica do cerrado, rumamos para São Gonçalo do Rio das Pedras, a mais bela surpresa que o passeio me proporcionou.
Trata-se de um pequeno distrito que emana beleza e tranquilidade, parecendo ser um local bastante apreciado por hippies e pessoas que preferem levar uma vida livre do consumismo e da artificialidade típica das cidades grandes. Sua arquitetura também é característica do período colonial. O artesanato é riquíssimo. Visitamos uma loja que possui os mais belos bordados em aplicação que já vi, com acabamento impecável e impressionante bom gosto na composição de cores.
O que mais me impressionou em São Gonçalo do Rio das Pedras e que levou-me a elegê-la a mais interessante do circuito foi a topografia acidentada e repleta de rios, riachos e  cursos d´agua, que formam cachoeiras e corredeiras em pleno centro do distrito. É sem dúvida, lugar para voltar com mais tempo e para se percorrer a pé.
Piscinas naturais e corredeiras em
São Gonçalo do Rio das Pedras


Beleza deslumbrante

Ponte sobre o rio Jequitinhonha.vista
do alto da Serra
Rumamos de volta para Diamantina ao cair da tarde, percorrendo um trajeto de mais de 40 km da Estrada Real, totalmente  sem pavimentação, Cruzamos novamente o rio que dá nome à região, dessa vez em uma ponte de madeira precária. Nesse trajeto é que sentimos realmente estar em pleno vale do rio Jequitinhonha; a estrada em toda a sua extensão é precária, cheia de curvas e ladeada por montanhas de pedras e vegetação típica do cerrado.
Minha companheira de viagem, nosso guia condutor e eu
Sentindo-me como se estivesse dentro de um livro de Guimarães Rosa, vimos a noite cair nesse cenário impressionante, ainda bem longe da cidade. O desfecho antológico do trajeto coroou um dia repleto de aventuras e encantamento. Embora tenhamos escolhido fazê-lo de forma bastante segura, conduzidas por experiente  guia, em veículo confortável e robusto, confesso que o longo percurso em estrada de terra provocou em mim certa apreensão. Como percebem, sou uma aventureira medrosa, se é que esses duas qualificações possam existir simultaneamente.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário