terça-feira, 7 de julho de 2015

AINDA O CIPÓ DE SÃO JOÃO

Tenho estado em Belo Horizonte, auxiliando no acompanhamento de uma irmã com delicados problemas de saúde. Por conta disso, pouco tempo para ler e menos oportunidades para escrever. Na semana passada, retornando aonde moro, para concluir as atividades acadêmicas do semestre, tive um grande privilégio: o de viajar com dois bons contadores de histórias. 
Os  que, como eu, gostam de escrever, apreciam  boa conversa, matéria prima de relatos interessantes.
No post anterior, falei das belezuras das poucas flores de junho, destacando o Cipó de São João. Na viagem avistei alguns maciços dele, logo na saída de BH para Ouro Preto. Expressei meu contentamento por haver fartura da espécie por lá, ao contrário do que está acontecendo em minha vizinhança. 
Olha ele aí, o cipó milagroso
Ao falar da boniteza da planta, um dos companheiros de viagem, o Luizinho, perguntou se eu conhecia todos os poderes dela, ao que respondi que  ainda não ouvira falar. Foi a deixa para que ele, nascido e criado na roça (assim como eu) e de uma família de 12 irmãos,  relatasse casos muito interessantes.
Contou-nos que a noite de São João era uma das mais movimentadas na sua família. Não porque saíssem todos a se divertirem nos festas  do Santo, mas por causa das obrigações a que eram submetidos na ocasião.
O Cipó de São João, segundo as crenças e tradições de sua família, é remédio milagroso para frutíferas. Quando há, por exemplo, um pé de laranja que deixa de produzir frutos, é bom que na madrugada do dia 24 de junho, faça-se um chicote amarrando diversas ramas do Cipó de São João em um cabo bem resistente e, sem dó, aplica-se uma boa “coça de coro”, na árvore, não importando se folhas cairão, ou  mesmo se alguns galhos mais tenros serão danificados. Bate-se sem piedade e, no ano seguinte, pode-se contar como certo  o milagre de São João: aquele pé de laranjeira que praticamente não estava mais prestando pra nada, carrega de frutas que é uma beleza.
Ainda em relação aos cítricos, contou também o Luizinho,  que quando se tem um pé de laranja em casa que, sendo naturalmente doce, começa a produzir frutos muito azedos, na madrugada do dia 24 de junho,  durante o sereno de São João, devem ser jogados, com as mãos, diversos punhados de açúcar nas folhas da laranjeira. Depois é só esperar, que no ano seguinte, os frutos voltam a ser doces como nunca.
E tem mais: quando  pés de manga e, ou de abacate não estiverem produzindo bem, é suficiente que, na noite de São João façam-se, com um machado, alguns piques nas cascas das árvores, para que, no ano seguinte, a produção volte a ser farta.
A viagem, que normalmente demora de três e meia a quatro horas, passou num instantinho. Mas não chegamos antes que ele contasse que em sua família, todos os doze irmãos  gozam de boa saúde, assim como pai e mãe, que já estão bem idosos. Uma das razões, segundo relatou é que, quando crianças, a mãe tirava a filharada da cama na madrugada do dia 24 de junho e levava os doze, em fila, primeiro para lavarem o rosto na água da mina e depois para ficarem expostos ao sereno de São João durante algum tempo. Essa aragem fria da madrugada, segundo sua mãe lhe ensinou,  é um santo (sem trocadilhos) remédio pra saúde.
Por essas e outras, já me decidi. Mesmo que esteja a maior friagem, como é de se esperar e, por mais sonolenta que eu seja,  no próximo ano, não vou perder o sereno da madrugada de São João. Além do mais, tenho um pé de laranja campista plantado em meu quintal há mais de dez anos e que nunca deu uma flor sequer. Apesar de não  estar fácil encontrar o cipó de São João em boas quantidades, vou me esforçar para fazer um chicote bem caprichado. Pretendo dar uma coça das boas no meu pé de laranja caipira, pra ver se, como dizem os meus alunos, consigo dar um “upgrade”  no bichinho.

Em tempo: em um próximo post vou relatar as histórias que ouvi do outro companheiro de viagem, o Loninho. 


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