terça-feira, 30 de junho de 2015

CONVERSAS DE JARDINEIROS - Flores Juninas

Junho, assim como maio e julho, são meses de repouso das plantas. Temos poucas brotações novas e raras flores nesse período. Felizmente tem as exceções e alguns ipês roxos já despontam magníficos na paisagem, ao lado de outras belezuras, à beira das estradas,
Costumo dizer que todo amante de flores e jardins é, antes de tudo, um observador atento e grande admirador da natureza. A grande mãe é a fonte maior que inspira a construção de jardins repletos de beleza e harmonia, pois essas emanam dela infinitamente.
Como além do frio, temos também secas maiores por aqui nesse período, os cactos no geral florescem bem. Particularmente não sou muito amiga dessas espécies, pois são quase sempre cheias de espinhos e difíceis de serem manipuladas. Costumo dizer que de espinhenta, já basta a vida. Mas, por questões afetivas, mantemos, mesmo depois de cinco anos de sua partida, uma pequena coleção de cactos que pertenceu à minha mãe. Nessa semana fui surpreendida com dois exemplares em flor. Difícil não encantar-se com florada tão exuberante no meio da espinheira.
Cactus: espinhos em profusão e flor exuberante
Foto: Luiz Henrique do Carmo

Florada miúda e delicada

Cipó de São João - cada vez mais raro na natureza
Canudo de pito: beleza e gostosura


















Lá fora, além do ipês roxos, aos quais me referi no início, mesmo com a devastação recorrente de nossas matas, outras gracinhas insistem em permanecer evidentes aos que estão com os olhos atentos, mesmo com o pescoço enrolado no cachecol. Refiro-me a duas espécies que, assim como os santos na tradição, são marcas do mês de junho: o Cipó de São João e o Canudo de Pito. O primeiro dá belas flores em cachos alaranjados, que sobem pelas árvores, caem pendentes pelos barrancos e enfeitam graciosamente cercas e muros. Infelizmente tem ficado cada vez mais raro na natureza. Foi um sacrifício achar um exemplar florido perto de onde moro. O Canudo de pito, por sua vez, apresenta uma floração bem discreta em pequenos cachos pendentes. Seu encanto vem, principalmente do delicioso mel que extraímos deles, levando-os diretamente à boca. Quando crianças era comum que voltássemos pra casa de "bigode", pois ao chupar o mel  dos cachos, "sujávamos" a boca com o pólen das flores. Isso é uma coisa tão forte em minha família que a meninada, ainda hoje, levanta cedo no inverno e vai pro mato catar melzinho, como dizem. Tenho uma prima que há anos mudou-se para o estado do Paraná. Meu tio contava com todo orgulho, que ela não sossegou enquanto uma das mudas de Canudo de Pito que havia levado daqui das Minas Gerais, não conseguiu adaptar-se lá na região onde vive até hoje.
Plantas, jardins, flores e frutos fazem parte de nossa memória de maneira extremamente forte. Gosto de preservar e repassar esses relatos e espero que minhas filhas um dia façam o mesmo. Tradições, histórias e hábitos fortalecem nossa cultura e consolidam laços afetivos. Acho-os necessários para servir de contraponto aos nossos tempo de "modernidade líquida", como se referiu Zygmunt Bauman. 


2 comentários:

  1. Adorei aprender tanta coisa bacana!
    Muito legal seu blog!

    ResponderExcluir
  2. Preciso da ajuda Maria para me indicar um vendedor do canudo de pito. Muito obrigado. Adalto

    ResponderExcluir